O namorado de Maysa Ruy Andrade, 20 anos, suspeito de feminicídio, foi preso nesta quinta-feira (6) em Tramandaí, no Litoral Norte. O crime aconteceu no dia 21 de abril, em Agudo, na região central do Estado. A jovem foi encontrada morta numa área de mata da localidade de Rincão do Mosquito. O homem não teve o nome divulgado pela Polícia Civil até o momento.
Caso a investigação confirme que se trata de um feminicídio, o primeiro mês sem nenhum registro desse tipo de crime no Rio Grande do Sul não deve se confirmar.
A polícia não detalhou como se deu a prisão do suspeito, que estava foragido, mas informou que ainda será realizado o interrogatório. Um dos intuitos é compreender a motivação do crime. Segundo a delegada Jaqueline Siqueira Pellegrini, titular da Delegacia de Polícia de Agudo, o inquérito segue em andamento, em razão de perícias que são consideradas essenciais para a conclusão da investigação. A delegada não detalhou quais são os exames pendentes no caso.
— Vamos terminar as diligências, fazer interrogatório e assim realizar o enquadramento — afirmou a delegada nesta quinta-feira.
Ainda conforme a policial, a necropsia concluiu que a vítima foi atingida por um disparo de arma de fogo na região frontal da cabeça. Além disso, a jovem apresentava lesões pelo corpo.
— A principal linha de investigação indica feminicídio praticado pelo namorado da vítima, por motivação passional — disse.
Segundo a delegada Jaqueline, apesar da suspeita de feminicídio, não havia registro anterior de violência doméstica por parte da vítima contra o suspeito do crime. Também não chegaram a ser solicitadas medidas protetivas por parte de Maysa.
Feminicídio
No último dia 29 de maio, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado divulgou os indicadores de criminalidade de abril e informou que, pela primeira vez na série histórica, nenhum feminicídio foi registrado no mês no Rio Grande do Sul. Segundo a pasta, pela primeira vez desde 2012 — quando o feminicídio passou a integrar a análise de dados da SSP — nenhum caso foi notificado no Estado.
No entanto, caso a principal linha de investigação apontada pela Polícia Civil até o momento se confirme sobre a morte de Maysa, esse número deve ser atualizado. Os dados são divulgados de acordo com a tipificação do crime registrado — neste caso, a morte da jovem ainda consta como homicídio. A conclusão sobre a motivação do crime é que definirá se realmente se trata de um feminicídio, na qual a morte da mulher ocorre num contexto de gênero. Os dados são monitorados pelo Observatório da Segurança Pública.
Sobre os feminicídios, a SSP apontou a implementação do programa de Monitoramento do Agressor como um dos fatores que contribuem para a redução desse indicador no RS. A divulgação dos números de maio, nesta semana, indicou nova redução desse crime. A diminuição é de 60% no comparativo com o mesmo período de 2023. Em maio deste ano, foram dois casos de feminicídio no Estado, enquanto no mesmo período do ano passado ocorreram cinco.
A vítima
Maysa era natural de Bertioga, no litoral do Estado de São Paulo. A jovem também teria morado no interior do Paraná, no município de Marialva. Após a separação dos pais, há alguns anos, ela teria se mudado para Santa Maria, para residir com a mãe. O município fica a cerca de 55 quilômetros de onde ela foi achada morta. O corpo da jovem foi sepultado no Cemitério Ecumênico de Santa Maria.
Prevenção ao feminicídio
- Se estiver sofrendo violência psicológica, moral ou mesmo física, busque ajuda imediatamente. Não espere a violência evoluir. Converse com familiares, procure unidades de saúde, centros de referência da mulher ou a polícia. É possível acessar a Delegacia Online da Mulher
- Caso saiba que alguma mulher está sofrendo violência doméstica, avise a polícia. No caso da lesão corporal, independe da vontade da vítima registrar contra o agressor, dado a gravidade desse tipo de crime
- Se estiver em risco, procure um local seguro. Em Porto Alegre, por exemplo, há três casas aptas a receberem mulheres vítimas de violência doméstica
- Siga todas as orientações repassadas pela polícia ou pelo órgão onde buscar ajuda (Ministério Público, Defensoria Pública, Judiciário)
- No caso da lesão corporal, o exame pericial para comprovar as agressões é essencial para dar seguimento ao processo criminal contra o agressor. Procure realizar o procedimento o mais rápido possível
- Caso passe por atendimento em alguma unidade de saúde, é possível solicitar um atestado médico que descreva as lesões provocadas
- Reúna todas as provas que tiver contra o agressor, como prints de conversas no telefone. No caso das mensagens, é importante que apareça a data do recebimento
- Se tiver medida protetiva, mantenha consigo os contatos principais para pedir ajuda. A Brigada Militar mantém em pelo menos 114 municípios unidades da Patrulha Maria da Penha que fiscalizam o cumprimento da medida
- Se tiver medida protetiva e o agressor descumprir, comunique a polícia. É possível acionar a Brigada Militar, pelo 190, ou mesmo registrar o descumprimento por meio da Delegacia Online. Descumprimento de medida pode levar o agressor à prisão
Fonte: Polícia Civil e Poder Judiciário do RS
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone — 190
- Horário — 24 horas
- Serviço — atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone
Polícia Civil
- Endereço — Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há 23 DPs especializadas no Estado
- Telefone — (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário — 24 horas
- Serviço — registra ocorrências envolvendo violência contra mulheres, investiga os casos, pode solicitar a prisão do agressor, solicita medida protetiva para a vítima e encaminha para a rede de atendimento (abrigamentos, centros de referência, perícias, Defensoria Pública, entre outros serviços)