Maicon Donizete Pires dos Santos, o Red Nose, 32 anos, chegou a Porto Alegre por volta das 22h30min desta quinta-feira (22). Investigado por envolvimento em diferentes tipos de crimes, de homicídios a lavagem de dinheiro, o criminoso foi preso na noite de quarta-feira (21) em Garopaba, no Sul de Santa Catarina.
O criminoso chegou a Porto Alegre em um comboio da polícia, composto por diversos carros e agentes. O procedimento de segurança evitava que eventuais situações acontecessem no translado do criminoso, como tentativas de fuga.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do RS, Maicon era procurado há mais de seis meses por ser o responsável por uma série de homicídios recentes no Rio Grande do Sul, principalmente na Região Metropolitana. Entre as mortes nas quais ele estaria envolvido estão as da estudante Sarah Silva Domingues e do comerciante Valdir dos Santos Pereira, na Ilha das Flores, no final de janeiro.
O Departamento de Homicídios afirma que os assassinatos aumentaram quando Red Nose tentou dar uma espécie de “golpe de Estado” na facção criminosa à qual ele pertencia. Por ser o responsável financeiro do grupo, apropriou-se de valores e armas para criar um novo grupo criminoso no Rio Grande do Sul. Com o dinheiro, Red Nose passou a cooptar criminosos da facção anterior, mas também soldados do crime em Santa Catarina e Paraná.
O delegado Mário Souza, chefe do Departamento de Homicídios, informa que há três ordens de prisão preventiva contra Santos. Ele ainda não prestou depoimento e deve ser encaminhado para um presídio que, por enquanto, não será divulgado.
— Deve começar amanhã (sexta-feira) os primeiros procedimentos, deve ter oitivas, interrogatório, análise do que foi aprendido lá (em Santa Catarina). E aí vai se desenrolar uma segunda parte agora, que é aprofundar o que aconteceu, o que ele estava planejando, quem era ligado a ele — detalha o delegado as próximas etapas do caso.
Para Souza, a parte mais importante da operação já foi realizada - a prisão de Red Nose.
— O importante, o grande êxito disso (a prisão) para a nossa sociedade, para a segurança, é que ele (Red Nose) é um cara que estava contra o próprio crime e contra o Estado. Ele fez uma coisa muito grave, ele se voltou contra todo mundo — explica o delegado sobre a letalidade do criminoso.
Trajetória criminosa
Antes de se tornar liderança junto ao tráfico, Red era responsável por lavar dinheiro de uma facção que tem berço no bairro Bom Jesus, na Capital, de acordo com o delegado Cassiano Cabral, da Divisão Estadual de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (DRLD), do Deic.
A atuação de Red é definida como a de um criminoso "articulado", segundo a polícia. A investigação verificou que o homem criou um esquema em que praticamente todos os seus familiares, incluindo ex-companheiras, registraram propriedade em pelo menos uma pessoa jurídica.
É nessas empresas que ele injeta o dinheiro, "para mesclar e dissimular capital, permitindo a abertura de contas bancárias para movimentar dinheiro proveniente do tráfico de drogas", segundo a polícia. Assim, as "receitas criminosas" são disfarçadas de patrimônio.
"Golpe de Estado" em facção
Quando o homem apontado como líder dessa organização, José Dalvani Nunes Rodrigues, vulgo Minhoca, foi transferido para uma penitenciária federal, fora do RS, Red o sucedeu e assumiu a liderança junto ao tráfico de drogas, especialmente no bairro Mario Quintana, segundo a investigação.
A polícia afirma que Red, neste período, arquitetou um plano para destituir o comparsa.
— Quando assumiu essa liderança, começou a montar um plano para crescer dentro do grupo, isolando o Minhoca. Em determinado momento, no entanto, ele se aliou a outras facções e deixou o grupo nascido no Bom Jesus. Por ter feito essa troca, as duas facções passaram a disputar pontos de tráfico e a ordenar mortes, entre agosto e setembro — pontua o delegado Cabral.
Os homicídios foram registrados principalmente na zona norte de Porto Alegre, onde atuam os grupos, entre os bairros Mario Quintana e Costa e Silva, e na região do Timbaúva.
A investigação apontou que pelo menos sete homicídios registrados naquele período tiveram ligação direta com o conflito na Zona Norte, área que atualmente registra o maior índice de mortes em Porto Alegre. Para frear o confronto, a polícia desencadeou a operação Golpe de Estado, cujo principal alvo era Red. O nome da ação é uma referência ao rompimento dele com comparsas. O trabalho envolveu mais de 200 policiais e resultou na captura de 14 envolvidos nos homicídios.
*Produção: Júlia Ozorio