A Polícia Civil anunciou, nesta quinta-feira (22), a prisão de Maicon Donizete Pires dos Santos, 32 anos, conhecido como Red Nose. O criminoso foi preso na noite de quarta-feira (21) no Estado de Santa Catarina. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, Maicon era procurado há mais de seis meses por ser o responsável por uma série de homicídios recentes no Rio Grande do Sul, principalmente na Região Metropolitana. A prisão foi realizada pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e contou com apoio da Polícia Civil de Santa Catarina.
Conforme a polícia, entre as mortes nas quais ele estaria envolvido estão as da estudante Sarah Silva Domingues e do comerciante Valdir dos Santos Pereira, na Ilha das Flores, no final de janeiro.
Segundo o Departamento de Homicídios, os assassinatos aumentaram quando Red Nose tentou dar um “golpe de Estado” na facção criminosa à qual ele pertencia. Por ser o responsável financeiro do grupo, apropriou-se de valores e armas para criar um novo grupo criminoso no Rio Grande do Sul.
— Deu um golpe no grupo, roubou uma grande quantia e tentou criar novo grupo. Esse movimento causou conflitos que geraram vários homicídios no Rio Grande do Sul — disse o secretário de segurança Sandro Caron.
Com o dinheiro, Red Nose passou a cooptar criminosos da facção anterior, mas também soldados do crime em Santa Catarina e Paraná.
— A resposta rápida foi para não se deixar criar mais um grupo criminoso. Essa é a ideia da resposta rápida. Além de Paraná e Santa Catarina, não se detectou vínculo com outros Estados. Ele procurou contatar individualmente pessoas, e não vindas de outro grupo para o Estado — explicou o chefe de Polícia, delegado Fernando Sodré.
Ainda conforme os investigadores, antes desse golpe, em setembro de 2023, o preso era um criminoso de “menor expressão” e inclusive estava em liberdade.
— Antes dele proporcionar essa virada de mesa dentro da própria organização, ele estava em liberdade naquele momento, porque ele não era um personagem importante — confirmou o delegado Rafael Pereira, do departamento de homicídios.
A cidade onde a prisão ocorreu ainda é mantida em sigilo para não atrapalhar o andamento das investigações, já que buscas ainda são realizadas na região. Conforme a polícia, a próxima fase da investigação é atuar no combate à lavagem de dinheiro do criminoso. Segundo apuração, o grupo comandado por Red movimenta cerca de R$ 1 milhão por semana com a venda de drogas.
Trajetória criminosa
Antes de se tornar liderança junto ao tráfico, Red era responsável por lavar dinheiro de uma facção que tem berço no bairro Bom Jesus, na Capital, de acordo com o delegado Cassiano Cabral, da Divisão Estadual de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (DRLD), do Deic.
A atuação de Red é definida como a de um criminoso "articulado", segundo a polícia. A investigação verificou que o homem criou um esquema em que praticamente todos os seus familiares, incluindo ex-companheiras, registraram propriedade em pelo menos uma pessoa jurídica.
É nessas empresas que ele injeta o dinheiro, "para mesclar e dissimular capital, permitindo a abertura de contas bancárias para movimentar dinheiro proveniente do tráfico de drogas", segundo a polícia. Assim, as "receitas criminosas" são disfarçadas de patrimônio.
"Golpe de Estado" em facção
Conforme o Deic, Red Nose integrava a facção nascida no bairro Bom Jesus, na Capital, e atuava junto à lavagem de dinheiro para o grupo. Quando o homem apontado como líder dessa organização, José Dalvani Nunes Rodrigues, vulgo Minhoca, foi transferido para uma prisão federal, fora do RS, Red o sucedeu e assumiu a liderança junto ao tráfico de drogas, especialmente no bairro Mario Quintana, segundo a investigação.
A polícia afirma que Red, neste período, arquitetou um plano para destituir o comparsa.
— Quando assumiu essa liderança, começou a montar um plano para crescer dentro do grupo, isolando o Minhoca. Em determinado momento, no entanto, ele se aliou a outras facções e deixou o grupo nascido no Bom Jesus. Por ter feito essa troca, as duas facções passaram a disputar pontos de tráfico e a ordenar mortes, entre agosto e setembro — pontua o delegado Cabral.
Os homicídios foram registrados principalmente na Zona Norte, onde atuam os grupos, entre os bairros Mario Quintana e Costa e Silva, e na região do Timbaúva.
A investigação apontou que pelo menos sete homicídios registrados naquele período tiveram ligação direta com o conflito na Zona Norte, área que atualmente registra o maior índice de mortes em Porto Alegre. Para frear o confronto, a polícia desencadeou a operação Golpe de Estado, cujo principal alvo era Red. O nome da ação é uma referência ao rompimento dele com comparsas. O trabalho envolveu mais de 200 policiais e resultou na captura de 14 envolvidos nos homicídios.