O total de 281 casos de roubos de veículos registrados em janeiro de 2024 representa uma redução histórica para o Rio Grande do Sul: é o menor índice registrado para o mês desde 2002. Naquele ano, o período teve 723 episódios no Estado, o que significa uma queda de 61%.
Já na comparação com janeiro do ano passado, que teve 358 casos, a redução foi de 22% no período em 2024.
A baixa é ainda mais expressiva quando comparada ao pico de registros para janeiros no RS, em 2017, em que 1.756 veículos foram roubados, o que representa uma retração de 84% em 2024. Para as forças de segurança, as quedas são fruto de uma série de fatores, como investimento em tecnologia e em investigações policiais, o trabalho desenvolvido nas ruas, o aumento de prisões e a maior agilidade na coleta de provas técnicas por parte de peritos.
Conforme a Polícia Civil, um dos fatores que explica a queda desses crimes no Estado é a baixa em Porto Alegre, onde mais se registram as ocorrências.
Em setembro de 2015, por exemplo, o RS teve 2.126 roubos de veículos, o maior número para um mês no Estado. Quase metade dos casos, 1.044, foi registrada Capital. Foram os maiores índices, para Estado e cidade, desde 2010.
Por outro lado, os menores números foram registrados em dezembro de 2023, quando o RS teve 236 roubos de veículos, 79 deles na Capital. Ou seja, os cenários estão diretamente ligados, explica o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
— Porto Alegre dita o ritmo do que acontece no Estado, é preciso fazer esse paralelo. Para conseguir um combate firme a esses roubos no RS, tem de se fazer um controle rigoroso na Capital. E para frear na Capital, precisa atuar na Zona Norte da cidade, que é onde as ocorrências mais ocorrem.
Segundo Eibert, em 2019, o Deic passou a ter como atribuição investigar todos os casos de roubos de veículos, que antes ficavam pulverizados pela Capital. A mudança trouxe fôlego para as investigações, já que o cruzamento de dados, sobre delitos e pessoas envolvidas, se tornou mais ágil. Com uma estrutura adequada e um efetivo destacado para apurar os episódios, os inquéritos policiais se fortaleceram e a elucidação dos crimes aumentou, o que se reflete na baixa dos índices:
— Ao elucidar um caso, conseguimos mostrar ao Poder Judiciário mais provas, um maior embasamento para pedir pela manutenção de prisões, o que também favorece uma futura condenação. O que ocorre é que os indivíduos que praticam esses crimes de forma contumaz o fazem porque acreditam que vão ficar impunes. No entanto, se ele vê que o sistema está funcionando, que ele vai sim ser identificado, indiciado, preso e possivelmente condenado, ele acaba parando de atuar nesse tipo de crime.
Outra mudança importante foi implementada em maio do ano passado. Naquele mês, os automóveis roubados e recuperados passaram a ter como destino a sede do Deic, e não mais o depósito do Detran. Com isso, a polícia aciona equipes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) assim que o veículo chega ao estacionamento, onde é possível preservar melhor as condições dos automóveis. Além de agilizar a coleta de vestígios, a medida também aumenta a eficácia das perícias, que buscam ajudar na identificação de criminosos.
Veículos são usados por facções
O diretor explica que a maioria dos casos realizados atualmente no Estado ocorre a mando de grupos criminosos, que buscam obter veículos para cometer outros crimes, como homicídios e assaltos. Nestes casos, os automóveis costumam ser clonados pelos criminosos, na tentativa de não serem identificados ao circularem pelas cidades.
Há também os roubos cometidos por quadrilhas especializadas em revenda de peças e de veículos clonados, que fazem negócios ilícitos tanto no Brasil quanto em países vizinhos, em busca de lucro financeiro.
Conforme a Delegacia de Roubo e Furtos de Veículos (DRV), do Deic, a maioria dos casos na Capital ocorre quando a vítima está chegando ou deixando algum local, ao descer do veículo ou ao mexer no porta-malas, situações em que ficam mais vulneráveis.
Cercamento eletrônico e prevenção
A redução do crime também se deve ao investimento no cercamento eletrônico, em funcionamento especialmente em Porto Alegre. O sistema consiste em um conjunto de câmeras de videomonitoramento, instaladas em pontos estratégicos da cidade, como grandes avenidas e vias de acesso e saída da Capital.
Assim, quando o roubo ocorre, o sistema de cercamento é programado para buscar pelas características do automóvel. Se passar por alguma das câmeras, o cercamento capta a imagem e demais informações sobre o trajeto, que são repassadas às equipes para que façam cerco aos criminosos.
Nesse sentido, Eibert destaca também o "papel importante de municípios", que se tornam parceiros das polícias ao compartilhar informações de cercamento. Segundo as equipes, o maior número de roubos na zona norte da Capital ocorre porque a região oferece possíveis rotas de fuga, como para Canoas, Viamão, Alvorada. Assim, a parceria com as prefeituras ajuda na recuperação dos veículos e na elucidação de casos.
Conforme a Brigada Militar, também auxilia na redução dos índices o fato de que a maior parte dos veículos roubados é localizada e apreendida. Na Capital, a taxa de recuperação era de 77% em dezembro de 2023. As equipes também têm papel na prevenção dos roubos:
— O nosso setor de inteligência tem atuado para coibir os casos cada vez mais. Com isso, temos conseguido também alimentar uma série de abordagens que são realizadas e que retiram esses criminosos das ruas. Junto com eles, além de recuperar os carros, temos uma quantidade significativa de apreensão de armas — pontua o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Claudio dos Santos Feoli.
Queda real
O delegado Eibert destaca ainda que, diferente de outros crimes (como de violência doméstica ou de estelionatos), os casos de roubo de veículo não registram subnotificação. Assim, a queda mostrada pelos indicadores é de um "número real":
— Quem tem o carro roubado precisa fazer o registro na polícia para poder acionar o seguro. Então esses números retratam uma queda muito real, fidedigna. É importante ressaltar isso para mostrar que quando falamos de uma diminuição de mais de 80%, na comparação com janeiro de 2017, estamos de fato vendo algo histórico. Ainda assim, a gente acredita que existe margem para reduzir ainda mais. Estamos aprimorando protocolos e trabalhamos para isso.