Na contramão do que foi visto nos últimos meses, o número de homicídios aumentou em janeiro no Rio Grande do Sul. Os casos passaram de 163, no período em 2023, para 187 no primeiro mês de 2024, um avanço de 15%. Outros crimes violentos, como latrocínio (roubo com morte) e feminicídio, também cresceram. Os números foram divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS) na manhã desta quinta-feira (15).
Em relação aos homicídios, o aumento foi significativo: foram 24 casos a mais em janeiro deste ano no Estado. Segundo as forças de segurança, o crescimento foi registrado principalmente em três municípios gaúchos: Caxias do Sul, Passo Fundo e Pelotas.
De acordo com o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli, as localidades registraram mortes que, em sua mai0ria, estão relacionadas com o crime organizado. Segundo ele, somente em Caxias do Sul, foram registradas 29 mortes até o momento em 2024. Dessas, 59% teriam como pano de fundo os conflitos envolvendo facções.
— Mais da metade das pessoas assassinadas já foram presas em algum momento recente, por forças da segurança do Estado. Estavam em liberdade, por algum motivo, e foram mortas ao voltarem para as ruas. Isso nos mostra, com clareza, que trata-se de algo pontual, que as mortes ocorreram no contexto de enfrentamento entre grupos criminosos. E é preciso destacar que, junto do aumento de homicídios, também tivemos crescimento de revistas, apreensões e prisões, em resposta ao crime — analisa Feoli.
O comandante afirma que as ações da BM foram intensificadas, com a mobilização de batalhões de Choque, de Aviação e de Operações Especiais.
Em Caxias do Sul, cerca de cem novos PMs devem ser alocados, após a próxima formatura de soldados, prevista para agosto, ampliando o efetivo, segundo Feoli. O município também terá reforço por parte da Polícia Civil, de um delegado e cinco agentes, na tentativa de conter a onda de assassinatos. A medida foi anunciada nesta quinta-feira (15).
Em Santa Maria, que também registrou mortes segundo Feoli, uma ofensiva realizada resultou na apreensão de seis armas, três coletes balísticos, munições, uma câmera de monitoramento e maconha. Durante a ação, quatro criminosos teriam revidado e atirado contra os policiais, e houve troca de disparos. Três deles foram presos e um morreu. Conforme a BM, as prisões teriam ligação direta "com os últimos homicídios ocorridos" no município.
Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, algumas mortes ocorreram em razão de brigas e desentendimentos durante o período de férias de começo de ano, em cidades do Interior. Ele afirma que os dados devem voltar a cair em fevereiro.
O mês passado também registrou ligeiro crescimento de casos de latrocínio no RS. Foram quatro episódios, contra três contabilizados em janeiro de 2023, uma elevação de 33%.
Por meio de nota, o governo do Estado ressaltou que "reforçou reuniões, ações e operações para coibir as atividades do crime organizado". A SSP afirma que busca, com isso, o "alinhamento de medidas necessárias para a retomada da redução" dos chamados Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI).
"Estamos constantemente atuando para enfraquecer e acabar com as organizações criminosas, e isso se faz com a asfixia financeira das quadrilhas. Por isso também atuamos no combate ao crime de lavagem de dinheiro e aos crimes patrimoniais. Na última semana de janeiro, já começamos a verificar uma tendência de redução dos índices de mortes violentas avaliados", disse o titular da SSP, secretário Sandro Caron, em texto divulgado pela pasta.
Morte de mulheres tem aumento
Os casos de feminicídio também cresceram no Estado. O crime registrou 11 casos em janeiro deste ano, contra 10 no período de 2023, um avanço de 10%. Considerado um desafio por forças de segurança do Estado, o assassinato de mulheres em razão do gênero — comumente praticado por atuais ou ex-companheiros das vítimas — representa o último ato da violência contra a mulher.
O combate à violência contra a mulher "é uma das prioridades para a segurança pública estadual", segundo o material divulgado. Considerado um desafio por forças de segurança do Estado, o assassinato de mulheres em razão do gênero — comumente praticado por atuais ou ex-companheiros das vítimas — representa o último ato da violência contra a mulher.
O delegado Sodré destacou as "várias políticas" pelas polícias no sentido de prevenir as mortes de mulheres. Entre elas está o Programa de Monitoramento do Agressor, que prevê o uso de tornozeleiras para homens que tenham cometido violência. A medida é uma alternativa para casos em que a prisão do agressor não é considerada necessária.
Atualmente, 83 agressores são monitorados eletronicamente no programa, "e todos que tentaram avançar à área restrita foram abordados e presos", afirma a SSP.
— A dificuldade de controlar esses crimes ocorre porque ele são cometidos dentro dos lares, e muitas vezes a violência não é comunicada à polícia. Das vítimas registradas, a maioria não tinha medida (protetiva) ativa, então precisamos trabalhar também na conscientização das mulheres — diz Sodré.
O RS também conta com outras iniciativas que buscam proteger mulheres vítimas de violência. Entre elas, as 81 Salas das Margaridas, as 114 cidades cobertas pela Patrulha Maria da Penha e a Delegacia Online da Mulher — espaço virtual específico para denúncias de violência doméstica. Além disso, a SSP orienta que qualquer cidadão pode encaminhar informações pelo disque-denúncia (181) e pelo denúncia digital.
Redução de outros crimes
Outros delitos, no entanto, tiveram queda. Um deles é o roubo a pedestres, que teve o menor número de registros em comparação com qualquer outro mês já registrado na série histórica (iniciada em 2010). Em janeiro de 2023, foram 2.381 casos, contra 1.391 no mês passado, uma redução de 41,5%.
Em Porto Alegre, o número também caiu. Janeiro de 2024 se encerrou com redução de 40,5%, passando de 1.088 em 2023 para 647 neste ano — menor registro da série histórica para o mês.
Os roubos de veículo tiveram redução de 21,5% no Estado, passando de 358 casos no ano passado para 281 em 2024. Trata-se do menor número da série histórica para o mês desde 2002, segundo a SSP. Comparado ao pico de registros, em 2017, quando mais de 1,7 mil veículos foram roubados em um único mês, a redução é ainda mais expressiva, de 79,5%.
A Capital também seguiu a tendência de redução em comparação com o mesmo período de 2023. Janeiro de 2024 apresentou o menor número da série histórica para o mês: redução de 128 para 105 casos, uma queda de 18%.
O número de roubos a usuários e motoristas de transporte coletivo também caiu em 2024: em janeiro, esse tipo de ocorrência teve redução de 40%. Assim como os demais crimes patrimoniais, as ocorrências em estabelecimentos comerciais também tiveram queda no primeiro mês de 2024, com 23% de redução, passando de 532 para 409.
O crime de furto abigeato teve redução de 34% em janeiro no RS. Em 2023, foram 301 casos no primeiro mês do ano; em 2024 as ocorrências do tipo caíram para 199.