Janeiro terminou com 12 mulheres mortas no Rio Grande do Sul. O Estado registrou elevação nos feminicídios no primeiro mês de 2024, segundo levantamento realizado por GZH. No mesmo período do ano passado, tinham sido 10 casos, conforme a Secretaria da Segurança Pública do Estado. Ou seja, um registro a cada 74 horas. A média atual é de ao menos um assassinato nesse contexto a cada 62 horas.
Dos casos registrados em janeiro, somente um se deu na Capital, sendo os demais em municípios do Interior. Além de Porto Alegre, as cidades que registraram casos foram Bagé, Candelária, Ibirapuitã, Montenegro, Osório, Passo Fundo, Pinhal da Serra, Pinheiro Machado, Quaraí, Rio Grande e Sobradinho.
Os casos em números
- A média de idade das vítimas é de 33 anos, sendo a mais nova de 18 anos e a mais velha de 61 anos.
- Metade delas, no entanto, tinha menos de 30 anos quando foi assassinada.
- Dois terços das vítimas, oito delas, foram mortas dentro de casa.
- Dos 12 casos, em 10 o suspeito do crime foi preso e em dois o homem cometeu suicídio.
- Quatro vítimas foram mortas a tiros, três por asfixia, três a facadas, uma por espancamento e uma golpeada com uma chave de fenda no peito.
- Em sete casos, o autor era o ex-namorado ou ex-marido da vítima. Em quatro casos, o autor foi o marido ou companheiro da vítima. Em um caso, o autor foi o filho.
- Em dois casos, além das mulheres os autores assassinaram ou o atual namorado da vítima ou o pai.
As vítimas em janeiro de 2024
Porto Alegre – Dia 4
Mãe de três filhos, Mayla Cardoso, 31 anos, planejava abrir uma loja dedicada ao cuidado feminino. Chegou a procurar um local para instalar o empreendimento junto de uma amiga. O sonho não se concretizou. May se tornou a primeira vítima de feminicídio de 2024 no Rio Grande do Sul, após ser golpeada com uma chave de fenda dentro de casa, na Lomba do Pinheiro, na zona leste da Capital. O ex-namorado, de 32 anos, foi preso em flagrante no local.
Osório – Dia 6
Ex-candidata a vereadora, Nara Denise dos Santos, 61 anos, era uma mulher bastante conhecida em Osório, no Litoral Norte. O corpo dela foi encontrado no interior de uma geladeira, dentro da casa alugada onde vivia com o companheiro. Marcos do Nascimento Falavigna, 37 anos, que mantinha relacionamento com a vítima havia cerca de seis anos, admitiu informalmente o crime e foi preso. Após matar Nara, o homem teria tentando esquartejá-la, mas não conseguiu. Ele ainda teria ateado fogo dentro da geladeira.
Rio Grande – Dia 9
Susane Menestrino, 59 anos, foi encontrada morta dentro de casa pelo Corpo de Bombeiros em Rio Grande, no sul do Estado. O caso foi registrado na Rua Moron, na área central. A vítima foi espancada até a morte. Segundo a Polícia Civil, o filho da vítima, de 25 anos, confessou ter cometido o crime e foi preso. Há suspeita de que o autor poderia sofrer de transtorno psicológico.
Sobradinho – Dia 11
Roseli Aparecida Folmer Lenz, 37 anos, foi morta a facadas na localidade de Sanga Funda, área rural de Sobradinho, no Vale do Rio Pardo. Após se separar de Osair Lenz, 40 anos, Rosi tinha deixado a casa onde morava e ido residir na antiga moradia da mãe. Foi próximo dali que ela foi assassinada. Segundo familiares, o ex-marido teria ido até o local para buscar um dos filhos e depois regressado e atacado a vítima. O homem foi preso quatro dias depois.
Pinhal da Serra – Dia 12
Marta Costa, 47 anos, foi morta a facadas em Pinhal da Serra, na Serra, dentro de casa. O crime aconteceu na localidade de Capela São Jorge, por volta das 11h. O suspeito do crime é o companheiro dela, de 63 anos. O homem, que teria tentado suicídio, foi encaminhado para atendimento médico. Atualmente, ele está preso de forma preventiva.
Pinheiro Machado – Dia 16
Um casal foi encontrado morto dentro de casa em Pinheiro Machado, na Região da Campanha. A Brigada Militar precisou arrombar a porta da residência, na Rua 24 de Fevereiro, na área central. No local, encontraram os corpos da vítima no quarto da moradia. Segundo a Polícia Civil, o homem de 32 anos teria assassinado a companheira Kauana Baldez Pires, 22 anos, a tiros e depois cometido suicídio.
Ibirapuitã – Dia 17
Fabiana Moraes dos Santos, 41 anos, foi morta a tiros na localidade de Passo das Cuias, em Ibirapuitã, no norte do Estado. Além dela, o pai Onofre Raul de Moraes, 78 anos, também foi assassinado. Imagens de câmeras flagraram o momento em que o ex-marido dela chega à propriedade e começa a atirar. Após os disparos, Elias dos Santos, 44, ainda incendiou a moradia, segundo a polícia. Ele também foi encontrado morto. Junto ao corpo dele foram encontrados um revólver 38, uma espingarda 22, aproximadamente 60 munições, gasolina e uma faca. A ex-sogra e uma uma filha do suspeito também foram baleadas e socorridas.
Passo Fundo – Dia 20
Taísa Santos da Silva, 21 anos, foi morta a facadas em Passo Fundo, no norte do Estado. O crime aconteceu na residência onde a vítima vivia com o companheiro, de 26 anos, no bairro São José. O homem teve prisão decretada, após se apresentar na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Durante o depoimento, o suspeito permaneceu calado.
Candelária – Dia 21
Aos 18 anos, Tamiris Soares de Melo havia começado a trabalhar recentemente, alugado a própria casa e se mudado com o filho, de três anos, no município de Candelária, no Vale do Rio Pardo. A jovem havia se separado havia cerca de cinco meses, após um relacionamento de quatro anos. Ela foi morta com um tiro. O atual namorado dela, Tales Júnior Francisco da Silva, 25, também foi assassinado. O principal suspeito do crime é o ex-companheiro dela, Anderson Leandro de Carvalho Soares, que foi preso.
Montenegro – Dia 26
Débora Michels Rodrigues da Silva, 30 anos, deveria ter se mudado para o apartamento que havia escolhido alguns dias antes em Montenegro, no Vale do Caí. A personal trainer estava em processo de separação de Alexsandro Gunsch, 48, com quem havia mantido relacionamento por 11 anos. A mudança, que não se concretizou, ficou somente nos planos e lembranças da família dela. O corpo da mulher foi encontrado na frente da casa dos pais. O companheiro confessou ter arremessado a vítima contra um guarda-roupas. A causa da morte é investigada.
Quaraí – Dia 28
Amanda Ril Pereira, 18 anos, foi morta com um disparo no rosto, em Quaraí, na Fronteira Oeste. O crime aconteceu por volta de 1h30min do último domingo, na Rua Vigário da Cruz Jobim. O ex-namorado, de 26 anos, é apontado como o responsável por perseguir e assassinar a vítima. Amanda havia rompido o relacionamento com ele recentemente. O suspeito, que não teve o nome divulgado, foi preso. Imagens de câmera flagraram o momento em que um homem atira na jovem.
Bagé – Dia 29
Vitória Ribeiro Gomes, 20 anos, foi encontrada morta no início da madrugada da última quarta-feira (31), em Bagé, na Região da Campanha, nos fundos da casa do ex-namorado. Kevin Plates Gonçalves, 23 anos, foi preso. A jovem não era vista desde a noite de segunda-feira (29). A perícia vai apontar a causa da morte. A suspeita é de que a vítima tenha sido asfixiada. Segundo a polícia, o homem não aceitava o fim do relacionamento. O relato de familiares é de que Vitória já havia sido agredida pelo ex, feito registro policial e solicitado medida protetiva.
*Outros casos de assassinatos de mulheres foram registrados no Estado neste período, mas em contextos diversos do feminicídio.
Como pedir ajuda
Brigada Militar – 190
- Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.
Polícia Civil
- Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
- Em Porto Alegre, a Delegacia da Mulher na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
- As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.
Delegacia Online
- É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.
Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180
- Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.
Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556
- Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).
Centros de Referência de Atendimento à Mulher
- Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.