Com seis homicídios e um feminicídio em 23 dias, Passo Fundo já tem o janeiro mais violento dos últimos sete anos. Segundo dados da Polícia Civil, o volume de crimes contra a vida é 133% maior do que o registrado em todo o mês de janeiro do ano passado, quando o município teve três homicídios.
O caso mais recente foi na madrugada de sábado (20), quando Passo Fundo teve o primeiro feminicídio no ano. Na ocasião, um homem de 26 anos assassinou Taísa Santos da Silva, 21, com golpes de faca, no bairro São José. O suspeito foi preso na segunda-feira (22), após se apresentar à sede da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) acompanhado de um advogado.
A contagem inclui o cadáver encontrado em 15 de janeiro. Trata-se de uma ossada humana localizada nos fundos de um terreno no bairro Integração. Apesar da decomposição do corpo indicar que o crime aconteceu há mais tempo, o caso entra para as estatísticas de janeiro.
Ainda assim, desde 2018 Passo Fundo não vivia um início de ano tão violento. Depois de 2024, o mês de janeiro com mais casos de crimes contra a vida, como homicídios, latrocínios e feminicídios, foi 2022, com dois homicídios e dois feminicídios. Janeiro de 2021 foi o período menos violento, quando foi registrado um homicídio (confira no gráfico).
Corpos encontrados
Nos primeiros nove dias de 2024, três corpos foram localizados em Passo Fundo. O primeiro encontrado foi no dia 6, no bairro Petrópolis. No dia 7, outro foi localizado no Valinhos. Os dois estavam carbonizados. Já no dia 15, uma ossada humana foi encontrada nos fundos de um terreno na Avenida Luiz Lângaro, do bairro Integração.
Nos dias 5, 9 e 14 de janeiro, os homicídios foram causados por disparo de arma de fogo. Conforme a Polícia Civil, os casos estão em investigação. O órgão afirma que não há uma guerra de facção no município e a principal motivação das mortes tem relação com o tráfico de drogas, com exceção do caso do dia 9, onde uma mulher foi morta pela vizinha.
— Embora tenhamos um grupo criminoso estabelecido na cidade, não há guerra de facção em Passo Fundo. O contexto em que essas mortes ocorrem são de demonstração de poder e força do traficante para com um usuário, que eventualmente trafica para sustentar o próprio consumo e fica devendo algum tipo de valor ou quantidade de droga. Esse é o cenário das mortes que estão ocorrendo no município — detalha a delegada Daniela Minetto, da Delegacia de Homicídios e Desaparecidos.
Conforme a Polícia Civil, cinco suspeitos de envolvimento nos crimes praticados neste ano já foram presos.
Reforço na fiscalização
Desde 10 de janeiro, quando a cidade somava quatro homicídios e duas tentativas, a Brigada Militar intensificou as ações de policiamento na cidade, em especial nas áreas com maiores registros de violência, com a Operação Cerco Fechado.
O objetivo é combater os crimes letais intencionais com ênfase aos finais de semana, quando os atos de violência são mais comuns. Em duas edições, foram oito prisões e nove de armas de fogo apreendidas.
— Desde o início da operação vimos uma redução nos crimes violentos letais e também nas tentativas de homicídios. De lá para cá, foram dois homicídios, sendo um deles o feminicídio, um crime que não tinha registro de ocorrência e é muito difícil de se prever, e um encontro de cadáver. Além das ações dentro da operação, a Brigada Militar segue com o trabalho durante a semana, de forma intensificada, em parceria com o Batalhão de Choque — disse o tenente-coronel Marcelo Rovani, comandante do 3º RPMon.
2023 foi o ano mais violento das últimas duas décadas
Conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-RS), Passo Fundo fechou 2023 com 47 homicídios dolosos, o que faz do período um dos mais violentos dos últimos 20 anos na cidade no norte gaúcho. O único ano com mais assassinatos foi em 2013, com 48 casos. Na maioria, a motivação foi o tráfico de drogas.
De acordo com a Polícia Civil, a taxa de resolução dos homicídios é de 70%. Além das 47 mortes, 2023 teve ainda outras 49 tentativas de homicídio, o que significa que houveram crimes violentos, mas que não resultaram em assassinato. Além dos 47 homicídios, Passo Fundo teve um registro de feminicídio e um latrocínio.