Um dos pontos que deve ser esclarecido pela investigação sobre o assassinato da personal trainer Débora Michels Rodrigues da Silva, 30 anos, em Montenegro, no Vale do Caí, é como se deu a morte. Em depoimento, o companheiro dela Alexsandro Gunsch, 48, alegou que a mulher passou mal após ter sido arremessada por ele contra um móvel, durante uma briga, e então teria perdido a consciência. Familiares e amigos da vítima desconfiam desta versão, que é averiguada.
Segundo a família de Débora, o atestado de óbito indica que a mulher morreu por asfixia mecânica. No entanto, a Polícia Civil aguarda o laudo de necropsia, do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que deve indicar mais detalhes do que provocou a morte. A mulher não tinha lesões aparentes quando teve o corpo abandonado em frente à casa dos pais dela, em Montenegro, na madrugada da sexta-feira (26). O crime é investigado como feminicídio.
O companheiro de Débora foi identificado pela polícia por meio de imagens de câmeras de segurança, que registraram o veículo dele. Mais tarde, ele foi ouvido na polícia, e confirmou ter deixado o corpo da mulher na frente da residência. O homem alegou que os dois tiveram uma briga e trocaram agressões dentro da casa onde viviam. Gunsch afirmou ter pego a companheira pelo pescoço, levantado e arremessado contra um guarda-roupas.
Depois disso, segundo o relato dele, Débora teria começado a passar mal. O investigado relatou à Polícia Civil que, na sequência, colocou a companheira no carro e, no deslocamento, percebeu que ela já estava morta. O homem disse ter ficado desesperado com a situação e decidido deixar o corpo da personal em frente à casa dos pais dela, em Montenegro. O celular da vítima foi abandonado ao lado do corpo dela.
Débora mantinha relacionamento com Gunsch havia cerca de 11 anos. No entanto, estava em processo de separação. Dois dias antes de ser encontrada morta, havia feito a vistoria em um imóvel no centro de Montenegro, onde planejava recomeçar a vida. Na sexta-feira, a mãe pretendia ajudá-la a arrumar os últimos itens da mudança prevista para o dia seguinte. Débora já tinha organizado as roupas e outros objetos pessoais. Pretendia encaixotar, com ajuda da família, aquilo que faltava. Familiares da vítima acreditam que o homem não aceitava a decisão dela.
— Com certeza, não acreditamos nessa versão de briga. Ela estava muito feliz com a mudança. Para ela, estava tudo resolvido. Tinha escolhido onde ia colocar os móveis no apartamento. Estava muito feliz — afirma o irmão da vítima, Alex Michels, 41 anos.
Áudio
Após a morte de Débora, a família da personal teve acesso a um áudio, que foi repassado à Polícia Civil. Nele, um homem, que seria Gunsch, conversa com um amigo e diz irá “resolver um assunto”. Na troca de mensagem, repassa a senha do celular e solicita ao amigo que entre em contato com alguns familiares dele e peça para “me perdoar pelo que eu vou fazer”. Pessoas próximas à Débora suspeitam que essa mensagem indicasse que o companheiro planejava o crime.
Outro ponto que intriga os familiares é o relato de que o homem teria colocado Débora no veículo com intuito de socorrê-la. O casal vivia na localidade de Vendinha, a cerca de 30 minutos de carro da casa dos pais dela.
— Se ele quisesse socorrer, tinha levado ela direto para o hospital — diz o irmão de Débora.
A Polícia Civil não confirma que o áudio realmente tenha sido enviado por Alexsandro e nem informa se ele fez alguma declaração em depoimento sobre a mensagem. A polícia também não informou se a casa onde eles viviam e o veículo que teria sido usado no transporte do corpo de Débora passaram por perícia.
A delegada Cleusa Spinato, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do Vale do Caí, evita divulgar detalhes sobre os passos da investigação neste momento. A polícia só pretende apresentar mais informações quando o inquérito for concluído. Até lá, segundo a Polícia Civil, todas as hipóteses são investigadas. O suspeito continua preso de forma preventiva.
A vítima
Debby, como era conhecida, atuava como personal trainer desde 2011. Nas redes sociais, ela compartilhava dicas de treinos e rotina na academia. Formada em Educação Física pela Unisinos, trabalhava numa academia em Montenegro. Dedicada aos cuidados com o corpo, chegou a vencer competições de fisiculturismo. Alexsandro também é fisiculturista.
— Se conheceram lá, se relacionaram, se apaixonaram. Eles viviam 24 horas juntos. Trabalhavam na mesma academia havia anos — conta o pai de Débora, Davi Rodrigues da Silva, 71 anos.
Ao longo do período em que Débora e Alexsandro mantiveram relacionamento, os familiares dela dizem não ter percebido qualquer sinal de abuso por parte do homem. Era comum o casal frequentar a casa dos parentes da personal trainer, especialmente aos fins de semana. O companheiro teria um comportamento um pouco mais reservado, segundo a família de Débora. Já a personal era mais extrovertida. Ao decidir se separar, ela não teria detalhado o motivo.
Conforme a Polícia Civil, não havia ocorrência da vítima relatando qualquer tipo de violência doméstica por parte do companheiro e ela nunca havia solicitado medida protetiva.
Contraponto
GZH entrou em contato com a Defensoria Pública do Estado, que informou ter feito o acompanhamento do preso somente durante a audiência de custódia. Nestes casos, a instituição se manifesta apenas nos autos do processo.
Como pedir ajuda
Brigada Militar – 190
- Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.
Polícia Civil
- Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
- Em Porto Alegre, a Delegacia da Mulher na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
- As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.
Delegacia Online
- É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.
Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180
- Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.
Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556
- Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).
Centros de Referência de Atendimento à Mulher
- Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.