As polícias catarinense e gaúcha prenderam nesta sexta-feira (17) seis integrantes de um grupo que tem base em Passo Fundo, no norte do Estado, e que aplicava o golpe do bilhete em Santa Catarina, principalmente em Florianópolis. Outros dois, já presos, também foram apontados como integrantes da organização criminosa investigada desde 2018 pela Delegacia de Repressão de Ações Criminosas Organizadas (Draco).
O titular da Draco de Passo Fundo, delegado Diogo Ferreira, destaca que foi uma ação integrada com o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Florianópolis. Segundo ele, foram cumpridos 12 mandados de prisão temporária, sendo que quatro suspeitos seguem foragidos. Os nomes não estão sendo divulgados devido à Lei de Abuso de Autoridade.
Dos 12 investigados, sete também foram alvo de outra operação realizada há dois anos, quando mais de 400 policiais cumpriram cerca de 120 mandados de busca. Na ocasião, foram apreendidos jet skis e um veículo Chevrolet Camaro de cor amarela e avaliado em mais de R$ 130 mil. O carro está sendo usado pela polícia em ações contra criminosos.
— Eles são dissidentes desta quadrilha investigada desde 2018 na região, com um total de 10 inquéritos e mais de 250 indiciamentos — explica Ferreira.
O grupo atua há mais de 20 anos e alguns até já faleceram. Além disso, Ferreira levantou dados que apontam movimentação financeira estimada em mais de R$ 55 milhões por parte dos cerca de 400 investigados desde o início de 2000.
Além de Passo Fundo e Porto Alegre, os estelionatários agiram em Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Nos últimos anos, estavam atuando em Estados do Centro-Oeste.
Em Florianópolis, uma idosa perdeu R$ 80 mil, e foi esse caso que deu origem à investigação que resultou nas prisões realizadas nesta sexta-feira.
Ferreira destaca que a polícia catarinense apura outros casos. Durante a quebra de sigilo bancário dos investigados, foram conferidos valores de outras pessoas que teriam sido vítimas do grupo.
A Operação Cadeia Premiada apontou os delitos de estelionato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ferreira destaca que o dinheiro obtido em um golpe chega a ser repassado por até cinco contas bancárias para dificultar o rastreamento. Depois disso, é dividido entre os integrantes e usado para aquisição de veículos ou imóveis, muitos deles de luxo.
Como funciona o golpe do bilhete premiado
A forma mais comum de abordagem é aquela em que um primeiro estelionatário se aproxima de uma vítima nas proximidades de bancos ou praças. Os alvos principais dos bandidos são pessoas idosas ou bem vestidas, que aparentam boa situação financeira. O criminoso se passa por uma pessoa pobre e analfabeta, e pergunta inicialmente onde fica a agência da Caixa Econômica Federal mais próxima porque tem um bilhete premiado e precisa trocá-lo.
Em seguida, um segundo estelionatário chega ao encontro do primeiro e da vítima. Ele sempre usa roupas sociais e se oferece para ajudar, simulando um telefonema para o banco. Na sequência, surge o terceiro criminoso, que se apresenta como funcionário da Caixa. A partir daí, há a confirmação com o telefone no viva voz, de forma que a vítima possa ouvir, dos números sorteados e do valor do falso prêmio. O bancário informa a documentação e condições para sacar o dinheiro.
Depois disso, o primeiro estelionatário — que aparenta ser pouco instruído — diz não ter documentos e pede ajuda à vítima e ao comparsa para receber o prêmio. Ele promete repartir o dinheiro com quem auxiliar — mas exige uma quantia financeira antecipada para garantir que não seria "roubado" pelas pessoas que o estão ajudando.
Seduzida pela possibilidade de receber parte do prêmio, a vítima se oferece para comprar o bilhete e é levada até uma agência bancária para sacar um valor estipulado e dar como garantia. Após a vítima entregar a quantia em espécie, os demais desaparecem e o golpe é concluído. Em alguns casos, a vítima até percebe que pode ser um golpe, mas é ameaçada psicologicamente pela quadrilha.