Pelo menos 71 carros, 18 motocicletas, dois barcos, um jet ski, dinheiro em espécie e jóias em ouro foram apreendidos neste sábado (16) pela Polícia Civil em uma operação contra uma rede de estelionatários especializados no golpe do bilhete premiado. A prioridade da operação, em Passo Fundo, no norte do Estado, era atacar os bens dos criminosos — entre os itens apreendidos está um Chevrolet Camaro de cor amarela.
— Queremos é descapitalizar os golpistas. Eles praticam os golpes, são presos, ficam apenas alguns dias e voltam para trabalhar no crime. Com essas ações, apreendendo diversos bens, podemos auxiliar as vítimas que tiveram o patrimônio lesado e tirar deles esse dinheiro, que é de origem criminosa — afirma o delegado Diogo Ferreira.
O grande número de veículos recolhidos criou uma fila de carros estacionados entre a sede da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) e o Parque da Gare, na Vila Schell, no município. Eles devem ser levados para depósitos do Detran após a investigação policial.
Ao longo do sábado, pelo menos 127 locais estão sendo alvo de mandados de busca e apreensão na operação, que envolveu 430 policiais. Em Passo Fundo, a investigação que começou ainda em 2015 identificou pelo menos 140 pessoas envolvidas no golpe do bilhete premiado. Os golpistas, em geral, segundo a polícia, moram na cidade, mas agem em outras partes do Rio Grande do Sul e até em outros Estados, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
Quatro pessoas foram presas em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. No entanto, desta vez a polícia decidiu não pedir a prisão de todos os criminosos. Segundo o delegado Ferreira, vários deles já foram presos outras vezes, mas logo foram soltos. Uma dezena dos 140 identificados tem grande poder aquisitivo, explica ele: moram em condomínios fechados e possuem mansões, além dos carros de luxo.
— Muitos deles nunca trabalharam licitamente. A operação é para mostrar também que o crime não compensa. Eles podem fazer os crimes, que iremos retirar seus bens — comenta Ferreira.
A polícia também apreendeu documentos e computadores, que devem servir como prova na investigação. Agora a Defrec deve abrir vários inquéritos para investigar os suspeitos e indiciá-los.
Como funciona o golpe do bilhete premiado
De acordo com a Polícia Civil, o modo mais comum é aquele em que um primeiro estelionatário aborda a vítima nas proximidades de bancos. Os alvos principais dos bandidos são pessoas idosas ou bem vestidas, que aparentam boa situação financeira. O criminoso se passa por uma pessoa pobre e analfabeta, e pergunta inicialmente onde fica a agência da Caixa Econômica Federal, pois tem um bilhete premiado e precisa trocar.
Em seguida, um segundo criminoso se aproxima, com roupas sociais, e se oferece para ajudar. Simula um telefonema para o banco. Minutos depois, surge o terceiro estelionatário, que se apresenta como funcionário da Caixa. A partir daí, há a confirmação com o telefone no viva voz, de forma que a vítima possa ouvir, dos números sorteados e do valor do falso prêmio. O bancário informa a documentação e condições para sacar o dinheiro.
Depois, o primeiro criminoso, que se mostra pouco instruído, diz não ter documentos e pede ajuda à vítima e ao comparsa para receber o prêmio. Promete repartir o dinheiro com quem auxiliar — mas exige uma quantia financeira prévia para garantir que não seria "roubada" pelas pessoas que o ajudam. Essa quantia é o lucro do golpe: seduzida pela possibilidade de receber parte do prêmio, a vítima se oferece e é levada até uma agência bancária para sacar dinheiro e dar como garantia.
Após a vítima entregar a quantia em espécie ao estelionatário inicial, os demais desparecem e o golpe é concluído. Muitas vezes, de acordo com a polícia, a vítima percebe ser um golpe e tenta desistir, mas é ameaçada psicologicamente pela quadrilha.