Uma operação da Polícia Civil gaúcha atacou, na manhã deste sábado (16), uma rede de pelo menos 140 pessoas envolvidas no golpe do bilhete premiado no norte do Estado. São cumpridos 127 mandados de busca e apreensão em Passo Fundo. Investigação da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) identificou que a cidade concentra uma grande quantidade de estelionatários que agem na região e também em outros estados brasileiros.
Os grupos de Passo Fundo organizam e treinam o teatro usado nos golpes e depois partem para diversas cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e até Minas Gerais para procurar suas vítimas. Compram imóveis, carros, joias caras e outros itens de alto valor para ocultar a origem do dinheiro dos golpes. O delegado Diogo Ferreira conta que alguns dos investigados são pessoas de alto poder aquisitivo e conhecidas no município.
A Polícia Civil decidiu realizar a operação no sábado, o que foge do habitual, para surpreender os criminosos. A apuração da delegacia identificou que a maioria deles costuma voltar para Passo Fundo aos finais de semana após praticar crimes durante a semana.
De acordo com o chefe da Polícia Civil gaúcha, delegado Emerson Wendt, a preparação da operação foi sigilosa. Os mais de 430 policiais civis de 15 diferentes regiões policiais foram levados para Carazinho, município vizinho, para não alertar os criminosos. O helicóptero da corporação também acompanha.
— A concentração de toda a atividade e instruções foi em Carazinho. Agentes do Gabinete de Inteligência de Porto Alegre vieram participar. Depois, invadimos Passo Fundo a menos 2 graus de temperatura — informa o Wendt.
Os crimes investigados na operação são lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ainda conforme o chefe de polícia, a corporação decidiu não pedir a prisão dos criminosos porque muitos deles já foram detidos em outras oportunidades mas saem em pouco tempo, já que o estelionato não é um crime contra a vida. A estratégia, desta vez, é apreender valores e bens e colher provas robustas de investigação.
Por causa da grande concentração de criminosos em Passo Fundo, a polícia batizou o nome da operação de "Pólis", em alusão às antigas cidades gregas em que os primeiros crimes como este foram realizados.
Como funciona o golpe do bilhete premiado
De acordo com a Polícia Civil, o modo mais comum é aquele em que um primeiro estelionatário aborda a vítima nas proximidades de bancos. Os alvos principais dos bandidos são pessoas idosas ou bem vestidas, que aparentam boa situação financeira. O criminoso se passa por uma pessoa pobre e analfabeta, e pergunta inicialmente onde fica a agência da Caixa Econômica Federal, pois tem um bilhete premiado e precisa trocar.
Em seguida, um segundo criminoso se aproxima, com roupas sociais, e se oferece para ajudar. Simula um telefonema para o banco. Minutos depois, surge o terceiro estelionatário, que se apresenta como funcionário da Caixa. A partir daí, há a confirmação com o telefone no viva voz, de forma que a vítima possa ouvir, dos números sorteados e do valor do falso prêmio. O bancário informa a documentação e condições para sacar o dinheiro.
Depois, o primeiro criminoso, que se mostra pouco instruído, diz não ter documentos e pede ajuda à vítima e ao comparsa para receber o prêmio. Promete repartir o dinheiro com quem auxiliar — mas exige uma quantia financeira prévia para garantir que não seria "roubada" pelas pessoas que o ajudam. Essa quantia é o lucro do golpe: seduzida pela possibilidade de receber parte do prêmio, a vítima se oferece e é levada até uma agência bancária para sacar dinheiro e dar como garantia.
Após a vítima entregar a quantia em espécie ao estelionatário inicial, os demais desparecem e o golpe é concluído. Muitas vezes, de acordo com a polícia, a vítima percebe ser um golpe e tenta desistir, mas é ameaçada psicologicamente pela quadrilha.