O assassinato de duas mulheres — uma delas grávida de oito meses — em uma chacina ocorrida na noite de quinta-feira (19), na zona norte de Porto Alegre, engrossa uma estatística que aponta o crescimento de vítimas do sexo feminino neste tipo de crime. Trata-se de um aumento de 180% em relação ao mesmo período de 2017, quando foram registradas cinco vítimas, um ritmo de crescimento equivalente a seis vezes o dos homens.
Conforme dados do levantamento exclusivo da editoria de Segurança de Zero Hora e Diário Gaúcho, das 57 vítimas de chacinas em Porto Alegre e na Região Metropolitana entre 1º de janeiro e 19 de julho deste ano, 14 são mulheres. No mesmo período do ano passado, eram cinco mulheres em um total de 38 mortos. Com isso, a participação feminina entre as mortes por chacinas, que era de 13,1% em 2017, passou para 24,6%, respondendo por quase um quarto do total. Desde o início do levantamento da editoria de Segurança, em 2011, 39 mulheres morreram neste tipo de crime na região — ou seja, mais de um terço dessas vítimas (14) foram registradas apenas nos primeiros sete meses deste ano.
O número de vítimas do sexo masculino em chacinas também aumentou no período, mas em ritmo bem menor: 30,3%, passando de 33 em 2017 para 43 neste ano.
Das sete vítimas da chacina ocorrida na noite da última de quinta-feira, em uma casa no bairro Passo das Pedras, duas eram mulheres: Najara Katiane Schumacher Pereira, 30 anos, e Rita Borba de Aguiar, 33 anos, grávida de oito meses. Rita foi executada com um disparo na cabeça e estava caída junto à porta, logo na entrada da casa. Não foi possível tentar um parto de emergência. Na região onde ocorreu o crime, disputas por territórios com pontos de tráfico continuam sendo o pano de fundo das mortes, principalmente nos casos de chacinas.
Em março, Vilma Ferreira da Silva, 63 anos, cadeirante que tinha uma das pernas amputadas, foi morta no bairro Humaitá. Durante a madrugada, um grupo de criminosos invadiu uma casa e matou quatro pessoas a tiros, entre elas a idosa.
Os dados expõem uma nova forma de demonstração de poder, em que sequências de homicídios, mortes por esquartejamentos ou decapitações como forma de amedrontamento deram lugar às chacinas, nas quais é usado armamento mais pesado e que têm como objetivo banir ou aniquilar os rivais.
A professora de direitos humanos Carmen Campos, sócia-fundadora da ONG Themis, avalia o envolvimento das mulheres com o tráfico como o resultado da vulnerabilidade social das vítimas.
— A questão maior dessas mulheres é de sobrevivência. A proporção de mulheres presas por crime de tráfico é muito maior que o de homens. No geral são pobres, têm baixo grau de educação, são subempregadas e excluídas.
Para a professora, a desconfiança da população com a segurança também contribui para o aumento da taxa. Ela classifica as políticas de segurança como limitadas:
— Política eficiente não se faz a curto prazo, ela vai além da repressão. A gente está indo a um caminho contrário ao ideal.