A Polícia Civil confirmou que entre os 22 presos no Rio Grande do Sul na Operação Luz da Infância, realizada de forma simultânea pelos órgãos de segurança do Distrito Federal e de 24 Estados brasileiros, na manhã desta quinta-feira (17), há pessoas de diferentes perfis e ocupações.
Entre eles, dois analistas de sistemas, um estudante de Direito, um porteiro e um técnico de informática presos por possuírem vídeos de sexo envolvendo crianças e adolescentes.
A delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento da Criança e do Adolescente (Deca), afirma que os presos, em geral, não demonstram a familiares e outras pessoas que cometiam esse tipo de crime.
— O perfil das pessoas é variado. Não tem perfil definido, diferentemente dos demais crimes que a gente nota. Muitas vezes, inclusive, causa estranheza na comunidade. Vizinhos, conhecidos se espantam com a prisão. São pessoas que não demonstram no dia-a-dia estarem envolvidas na prática desse crime — diz a delegada.
O estudante de Direito, um dos casos que mais surpreendeu a polícia, foi preso em Pelotas, no sul do Estado. Policiais o detiveram em flagrante ao encontrar material envolvendo adolescentes em um computador em sua casa, no centro da cidade. Ele foi levado para a Delegacia de Polícia, onde ainda é ouvido.
Os analistas de sistemas foram presos em Porto Alegre: um deles no bairro Cascata e outro no Santa Tereza, ambos na zona sul. Já o técnico de informática foi preso no bairro Santana. A polícia não divulga o nome de nenhum dos presos alegando que pode haver casos em que o pedófilo não só armazenou vídeos, como também cometeu abusos contra alguma criança, cuja identidade poderia ser descoberta em razão da divulgação.
Um outro caso que surpreendeu os policiais foi de um menino de 11 anos que foi levado para ser ouvido na delegacia após os investigadores encontrarem diversos vídeos em um computador supostamente dele. Os pais da criança serão ouvidos e podem ser responsabilizados.
Dos 21 presos, 15 foram presos por armazenamento de vídeo contendo pornografia infantil e outros seis por outros crimes como porte ilegal de arma de fogo e até tráfico de drogas. Em uma das batidas, no bairro Jardim São Pedro, na zona norte de Porto Alegre, quatro pessoas foram presas. Além de encontrar drogas em uma casa, policiais também confirmaram a presença de vídeo de abusos a crianças.
A polícia se esforça, agora, para criminalizar os presos, que devem sem ouvidos ao longo do dia. Se comprovado que os suspeitos apenas armazenaram vídeos, eles podem ser soltos ainda nesta quinta, mediante pagamento de fiança. Caso comprove que também transmitiam, o crime deixa de ser cabível de fiança, e eles devem ser levados para um presídio.
Responsável pela Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, unidade que participou da investigação, o delegado Marco Guns critica as penas cabíveis aos presos. Ele diz que há uma desproporcionalidade no apenamento em comparação com outros crimes.
— Se alguém agora quebrar o vidro de um carro e furtar um rádio no centro de Porto Alegre terá pena maior do que alguém que armazena mais de 10 mil fotos e vídeos de pedofilia em um computador — critica Guns.
Os mandados
Mais de 200 policiais da Polícia Civil participaram da ação nesta manhã no Rio Grande do Sul. Eles eram acompanhados de aproximadamente 30 agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP), que foi responsável por fazer, no local do crime, uma análise preliminar de computadores para comprovar que havia vídeos ilícitos.
Foram oito presos em Porto Alegre, dois em Santa Maria e dois em Novo Hamburgo. As cidades de Alvorada, Canoas, Cachoeirinha, Panambi, Taquara, Pelotas, Viamão, Sapucaia do Sul e São Leopoldo tiveram um preso em cada. Ao todo, 43 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.
O número dos outros Estados ainda é contabilizado. Por volta das 11h, o chefe de polícia do Rio Grande do Sul e presidente do Conselho Nacional de Chefes de Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, informou que havia mais de 120 presos.
A operação é precedida de uma investigação integrada do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, que teria realizado a análise de mais de 1 milhão de arquivos e passado as informações às polícias. Em todo o Brasil, foram cumpridos 578 mandados de busca e apreensão por 2.625 policiais.