Quarenta dias após o começo da imunização, o Rio Grande do Sul registra a vacinação de 3,9% da população com a dose inicial contra o coronavírus e se aproxima da marca de 100 mil pessoas contempladas com a segunda aplicação. Até esta sexta-feira (26), conforme dados informados pelos municípios à Secretaria Estadual da Saúde (SES), 448,4 mil gaúchos haviam recebido a primeira injeção.
De acordo com Tani Ranieri, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), os números apresentam defasagem porque há locais onde ainda não foi possível registrar as informações no sistema, em razão de entraves operacionais. Os agentes municipais também têm tido dificuldades para fazer atualizações na plataforma. Ainda assim, Tani calcula que, no momento, o total de vacinados na etapa inaugural pode girar em torno de 530 mil pessoas no Estado, ou seja, não mais do que 5% dos habitantes.
O percentual é considerado baixo mesmo em comparação com os grupos prioritários, estimados em cerca de 4,5 milhões de indivíduos, e também é inferior ao ritmo de contaminação da doença. Segundo a última fase do Estudo de Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 (Epicovid19-RS), divulgada na quinta-feira (25) pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), 10% dos gaúchos já foram infectados pelo coronavírus.
— Os municípios estão fazendo o que podem. Ainda não temos informações de todos, mas, de uma maneira geral, eles estão fazendo o dever de casa e aplicando as doses. É claro que gostaríamos de ver uma aceleração, mas isso depende das remessas que recebemos. Essa é a grande questão hoje — afirma Tani.
Chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica, a especialista lembra que há interesse do governo do Estado em adquirir vacinas por conta própria — o governador Eduardo Leite inclusive já iniciou tratativas com laboratórios e obteve a aprovação de recursos na Assembleia Legislativa —, mas o processo é complexo.
— A população cobra muito. A questão é que, se fosse simples como parece, muitos governadores e prefeitos já teriam comprado o produto — pondera Tani.
Para bloquear a progressão do vírus, pesquisadores sustentam que será preciso proteger no mínimo 70% da população. No caso do Rio Grande do Sul, seriam 8 milhões de pessoas, meta ainda distante da realidade.
— Considerando a transmissibilidade da doença e os dados de eficácia das vacinas até agora, cerca de 70% a 80% da população deveria ser imunizada para possivelmente atingirmos a imunidade de rebanho. E certamente não vamos conseguir isso em 2021 — diz o infectologista Luciano Goldani, professor titular de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do RS (UFRGS).
Mantido o ritmo atual, em um cálculo simplista, levaria um ano e nove meses até o Estado ter 70% dos habitantes protegidos. Vale lembrar que a segunda injeção é essencial para completar o ciclo e garantir o maior nível de segurança possível.
Muita gente tem a falsa sensação de que a vacina é a solução, mas, até termos vacinado com duas doses um grande segmento, não é verdade. No momento, a saída para quebrar a cadeia do vírus é o distanciamento
TANI RANIERI
Chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica
Por enquanto, o Estado recebeu 923,6 mil doses do Ministério da Saúde — a última entrega ocorreu na quarta-feira (24). Desse montante, 907,7 mil já foram distribuídas e as demais estão sendo encaminhadas às Coordenadorias Regionais de Saúde. A velocidade da aplicação depende de cada município.
Há locais, como Caxias do Sul, na Serra, que vêm conseguindo ampliar com maior rapidez as faixas atendidas. Lá, segundo reportagem do jornal Pioneiro, a chegada de novas ampolas permitirá atingir idosos com 78 anos ou mais a partir da próxima terça-feira (2), em um drive-thru montado nos Pavilhões da Festa da Uva.
Em Porto Alegre, a prefeitura também estendeu a campanha graças à chegada de novo carregamento. Desde esta sexta-feira, estão sendo contemplados idosos com 82 anos ou mais. Conforme os dados registrados no sistema da SES, a Capital já imunizou 132,3 mil indivíduos, sendo 101 mil com a primeira injeção e 31,3 mil com a segunda.
Cuidados devem ser reforçados
Enquanto não é possível abranger uma parcela maior de vacinados, especialistas alertam que é imprescindível manter os cuidados.
— O objetivo das vacinas, neste momento de escassez de doses, é prevenir as manifestações graves da doença em grupos de risco e profissionais de saúde, desafogando o sistema, mas o vírus vai circular e teremos o surgimento de novas variantes. As medidas de distanciamento são fundamentais para contermos a pandemia em 2021 — ressalta Goldani.
Tani reforça o apelo e alerta para os riscos.
— Muita gente tem a falsa sensação de que a vacina é a solução, mas, até termos vacinado com duas doses um grande segmento, não é verdade. No momento, a saída para quebrar a cadeia do vírus é o distanciamento, a máscara, o álcool gel. É um cuidar do outro. Mesmo quem está sendo vacinado precisa manter a atenção — adverte a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica.
Os números até esta sexta-feira (26)
- Doses recebidas pelo Estado: 923,6 mil
- Doses distribuídas aos municípios: 907.723
A distribuição, segundo a SES, está em fase de conclusão. A última remessa de vacinas chegou ao Estado na quarta-feira (24).
Aplicações
- Primeira dose: 448.428 (3,9% da população do RS)
- Segunda dose: 98.208 (0,9% da população ou 21,9% dos contemplados com a primeira dose)
- Total de doses aplicadas: 546.636
* Os dados são informados à SES pelos próprios municípios, mas muitos ainda não registraram as informações no sistema ou fazem a atualização com atraso, devido a instabilidades na própria plataforma ou a dificuldades operacionais. A SES está em tratativas com o Ministério da Saúde para aprimorar e facilitar o processo. Para acompanhar o andamento da vacinação, basta acessar este site.