Os ciclistas competitivos poderiam estar colocando sua saúde óssea em risco? Um novo e desconcertante estudo sobre a densidade óssea de ciclistas e corredores de elite sugere que a resposta pode ser afirmativa.
O estudo constatou que os ciclistas, tanto homens quanto mulheres, tinham ossos mais finos que os corredores, embora todos os atletas fossem jovens, saudáveis e estivessem invejavelmente em forma, e os primeiros geralmente levantavam pesos.
Os resultados ressaltam os efeitos divergentes de vários esportes em nosso esqueleto e também causam um pouco de desconforto em relação ao impacto em longo prazo da prática de exercícios de baixo impacto em detrimento de atividades de alto impacto.
Em geral, as evidências científicas disponíveis mostram que a atividade física é desejável, e até mesmo necessária, para a saúde óssea. As crianças que correm, pulam e brincam desenvolvem ossos mais grossos e mais fortes do que aquelas que permanecem sedentárias, assim como adolescentes e jovens adultos que participam de esportes envolvendo corridas e saltos.
A maioria dos cientistas concorda que esse tipo de atividade constrói a potência óssea gerando forças repentinas que curvam ou deformam os ossos afetados. Tais atividades iniciam processos dentro do corpo que aumentam o número de células ósseas e ajudam a preparar partes do esqueleto para resistir a forças semelhantes no futuro.
Mesmo as pessoas de meia-idade e mais velhas, que têm de enfrentar o desgaste inevitável de seus ossos com a idade, podem manter esqueletos fortes se forem suficientemente ativas, mostram estudos recentes.
Mas ainda não se sabe que tipos de exercício afetam os ossos de uma forma desejável – e quais são muito suaves. Alguns estudos anteriores sugerem que a corrida gera força suficiente para remodelar o osso, enquanto outros experimentos com corredores concluem o oposto. O mesmo acontece com o levantamento de peso. E vários estudos mencionam efeitos desprezíveis ou mesmo adversos de exercícios sem pesos, como ciclismo e natação, que colocam pouca pressão sobre os ossos.
Na esperança de ganhar mais clareza a respeito de esportes e ossos, pesquisadores da Escola Norueguesa de Ciências Esportivas e do Centro de Treinamento Olímpico Norueguês, em Oslo, decidiram examinar ciclistas e corredores competitivos.
Eles se concentraram em atletas de elite, em grande parte porque se espera que o treinamento pesado dos atletas amplifique quaisquer impactos e diferenças entre os dois esportes.
Eles acabaram recrutando 21 corredores de alto nível e 19 ciclistas, homens e mulheres, a maioria deles na faixa dos 20 anos, todos magros, em forma e com vários anos de competição intensa.
Os atletas se apresentaram em um laboratório, onde os cientistas mediram sua composição corporal, com foco particular na densidade óssea – sobretudo na base da coluna e na cabeça do fêmur, porções do esqueleto que podem indicar a saúde óssea geral.
Os pesquisadores também perguntaram aos atletas sobre seu treinamento, saúde e ingestão de cálcio, e se passavam muito tempo na academia. A última questão era de particular interesse para os pesquisadores, uma vez que o treinamento com pesos muitas vezes é recomendado para os atletas em esportes como o ciclismo para aumentar os ossos e os músculos.
Ciclistas treinavam mais do que os corredores
Os cientistas então compararam os dados. Algumas das diferenças entre os atletas foram substanciais. Os ciclistas treinavam muito mais que os corredores, por exemplo, em uma média de 900 horas por ano na bicicleta, versus cerca de 500 horas anuais na esteira ou ao ar livre para os corredores.
Os ciclistas também faziam mais musculação, com a maioria deles indo para a academia fora da temporada de competição, fazendo um levantamento de peso intenso. Nenhum dos corredores fazia isso.
Os atletas em ambos os esportes consumiram cálcio suficiente para atender às suas necessidades diárias. Mas tinham ossos visivelmente diferentes.
Os ciclistas, como um grupo, tinham ossos mais finos do que os corredores, e mais da metade deles preencheu critérios médicos de baixa densidade mineral óssea em alguma porção de seu esqueleto. Um deles, um homem, exibiu osteoporose clínica na coluna.
Esses resultados são potencialmente preocupantes, diz Oddbjorn Klomsten Andersen, aluno de pós-graduação na Escola Norueguesa de Ciências Esportivas e ex-ciclista da seleção nacional, líder do estudo, que foi publicado no BMJ Open Sport & Exercise Medicine.
— Há poucos estudos que seguem jovens ciclistas durante sua carreira — diz ele. — Mas os feitos com ciclistas profissionais demonstram que uma proporção maior deles tem uma densidade mineral óssea mais baixa ou mais osteoporose do que as pessoas que não pedalam.
Esse estudo não pode nos dizer, porém, por que os ossos dos ciclistas podem ser mais finos, acrescenta. Eles poderiam estar comendo muito pouco ou suando muito para garantir uma saúde óssea ideal. Tanto a ingestão de poucas calorias quanto as altas taxas de perda de cálcio mediante a transpiração foram vinculadas à perda óssea em outros estudos.
E o mais surpreendente: o treinamento com pesos dos ciclistas parece não ter desenvolvido seus ossos. Mas, como ressalta Andersen, esse foi um instantâneo único da saúde dos atletas. É possível, diz ele, que o treinamento com peso tenha impedido um desgaste ósseo ainda maior.
Também é encorajador, afirma ele, que os corredores tenham ossos relativamente saudáveis, uma vez que alguns estudos passados sugeriram que a corrida pode não estimular o desenvolvimento ósseo. No geral, as descobertas do estudo sugerem que os ciclistas profissionais deveriam considerar uma ampliação de interesses, diz Andersen.
— Geralmente, recomendo combinar ciclismo com exercício de peso para promover a boa saúde óssea — diz ele.
Por Gretchen Reynolds