Chegou ao fim na última terça-feira (03), uma série de eventos do Zero Hora Talks em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), para discutir a situação da saúde no Rio Grande do Sul. Com convidados do setor público e privado, os debates abordaram as principais problemáticas da saúde no Estado, como o impacto da abertura de novas vagas para a formação de médicos na qualidade do ensino, e os caminhos necessários para melhorar a saúde no Estado.
Se você não conseguiu acompanhar os eventos e quer um resumo do que rolou, confira abaixo os principais pontos das conversas:
Pesquisa avalia a satisfação dos gaúchos com a saúde
A última semana de outubro ficou marcada por dar início a conversas que prometem repercutir nos rumos da saúde no Rio Grande do Sul. Na terça-feira (29), nove especialistas se reuniram no Plenário do Cremers para o primeiro evento que tinha como objetivo avaliar a percepção e as principais dores da população gaúcha referente ao sistema de saúde, uma vez que a demora para conseguir atendimentos e a falta de médicos aparecem como as principais reclamações no estudo feito pelo Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO).
O debate mediado pela jornalista e comunicadora Rosane de Oliveira, ressaltou a urgência de construir políticas públicas de Estado e não de governo, a importância de aporte de profissionais para melhor aproveitamento das estruturas já disponibilizadas e o investimento em novas tecnologias para apoiar os altos custos do sistema e atuar de forma compartilhada e segura.
— Nós, como o Conselho Regional de Medicina (do RS), vimos a importância de estabelecer políticas públicas de saúde que não sejam de governo e sim de Estado. A partir do levantamento, vamos fazer uma radiografia do sistema de saúde e entender qual é a visão da população e trazer as informações ao grande público — explica o presidente do Cremers, Dr. Eduardo Neubarth Trindade.
A importância da qualificação médica no RS
Além dos pontos mencionados, a pesquisa encomendada pelo Cremers também revelou que a falta de empatia e de humanização nos atendimentos são desafios enfrentados pelos gaúchos, tanto em atendimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), quanto em consultas feitas por planos privados. De acordo com Trindade, isso reforça a necessidade de qualificar os profissionais para um melhor atendimento à população.
Com isso em mente, os convidados do segundo Zero Hora Talks, que aconteceu em novembro, tinham como meta discutir como a abertura de novas vagas no ensino da medicina pode impactar a qualificação profissional dos médicos. Na terça-feira (12), o encontro presencial, que contava com a mediação da jornalista Rosane de Oliveira, iniciou com o questionamento da comunicadora sobre a opinião dos três convidados a respeito da necessidade de formar mais profissionais da saúde ou de implantar mudanças no sistema atual de ensino médico e residências.
Durante a conversa, o presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Sandro Schreiber e o presidente da Atitus Educação, Eduardo Capellari, se juntaram ao presidente do Cremers e a jornalista para refletir sobre o aumento na quantia de médicos no Estado. Isso porque, segundo Trindade, ao mesmo tempo que o Rio Grande do Sul conta com uma estrutura hospitalar invejável, a população ainda sofre com a superlotação das emergências.
Segundo Schreiber, ao olhar para as pessoas, é evidente que elas seguem na fila aguardando atendimento na maior parte dos lugares do país, trazendo para luz os problemas no sistema. Qualificar, oferecer maior acesso, melhores condições de trabalho e remuneração para os médicos devem ser as nossas prioridades — contextualiza, Schreiber. A partir disso, ele traça algumas soluções práticas como estabelecer medidas com requisitos mínimos necessários para a abertura de novos cursos.
— Agora o jeito é melhorar os critérios e avaliar os cursos já existentes, além dos que estão por abrir, pensando em uma medicina que é altamente tecnológica, ao mesmo tempo que é humanizada — relata o presidente da Abem.
UBSs e tecnologia: pilares para transformar a saúde pública
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) são conhecidas por serem a principal porta de entrada do SUS. Atualmente, o Brasil conta com mais de 40 mil UBSs em funcionamento, conforme informações da Biblioteca Virtual em Saúde.
O popular “postinho "é um dos mais importantes centros, segundo o site do Ministério da Saúde, pois se trata do “primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por um conjunto de ações [...] promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde [...]”.
Trindade explica no último Zero Hora Talks, que 80% das queixas mais comuns entre os gaúchos poderiam ser resolvidas nas UBS, o que consequentemente demandaria menos das emergências hospitalares. O diretor-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brasil Silva Neto, complementa exaltando a necessidade de prevenir doenças para evitar os gastos com o tratamento.
— [...] Na base de onde o paciente mora, se tiver políticas de Estado que possam contemplar medidas de prevenção, medidas de educação, não só o paciente que daqui a 10 anos, 20 anos, ou a população atual vai envelhecer com melhor qualidade, mas criamos uma cultura de saúde dentro de toda a rede — finaliza.
O debate que contou com a presença do superintendente e diretor-técnico do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, Gabriel Dalla Costa; e o diretor-geral da Santa Casa de Porto Alegre, Julio Flávio Dornelles de Matos, revelou o quanto à tecnologia é um importante recurso para o tratamento das doenças, para a gestão da saúde e no acompanhamento dos pacientes de diferentes localizações.
— [...] Outro obstáculo é a incorporação de novas tecnologias. As novas tecnologias que promovem uma vida melhor, mais estendida, mas adicionam ao sistema uma pressão muito grande de custos — menciona Dalla Costa.
A tecnologia se tornou uma importante ferramenta para diferentes setores da economia. O mercado de inovações em saúde, que vêm crescendo desde a pandemia — visto que somente em 2020, o número de atendimentos por teleconsultas aumentou em mais de 1.000% em comparação com anos anteriores, conforme dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) — avalia outros benefícios na implementação desse recurso.
Um exemplo disso é o uso da Inteligência Artificial (IA), que tem demonstrado melhorar a precisão e a velocidade de diagnósticos, além de auxiliar na automação de tarefas (permitindo que os clínicos passem mais tempo com os pacientes), na triagem de doenças e no desenvolvimento de medicamentos, conforme o artigo da Harvard Medical School.
Em dezembro, aconteceu o último evento do Zero Hora Talks em parceria com o Cremers para convidar todos os gaúchos a se unirem no movimento pela qualificação do atendimento e acesso à saúde em todo o RS.