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Retomada de voos no aeroporto Salgado Filho chega a 79%, mostra Painel da Reconstrução

Dados da Anac de janeiro de 2025 apontam ainda que o fluxo de passageiros alcança 87,5% do registrado no mesmo mês de 2024, antes da tragédia climática que levou à suspensão das operações na Capital

Beatriz Coan

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Quatro meses depois da reabertura parcial do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, atingido pela enchente de maio de 2024, o fluxo de voos e passageiros ainda não alcançou o patamar anterior à tragédia climática, mas a retomada avança de forma acelerada. A avaliação é da Fraport Brasil, que estima alcançar o movimento visto antes da cheia ainda no primeiro semestre de 2025.

Em janeiro deste ano, a quantidade de pousos e decolagens no aeroporto da Capital chegou a 79% da registrada no mesmo mês do ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), monitorados pelo Painel da Reconstrução do Grupo RBS. Foram 3.884 ante 4.919. 

Já em relação ao total de passageiros, o fluxo ficou mais próximo do pré-enchente, chegando a 87,5%, ou seja, 514.316 ante 587.719.

A diferença nos percentuais de voos e passageiros se deve aos tipos de aeronaves que estão operando no aeroporto. 

De acordo com o gerente de Aviação Comercial da Fraport Brasil, Pedro Navega, os aviões que voam agora em Porto Alegre são maiores do que os que voavam antes da enchente. Além disso, algumas rotas menores, com aeronaves de menor porte, não voltaram por falta de demanda.

Com serviços interrompidos em 3 de maio, o aeroporto de Porto Alegre passou mais de cinco meses fechado devido à inundação. A volta dos voos comerciais domésticos ocorreu em 21 de outubro, e os internacionais, em dezembro, além do funcionamento 24 horas por dia, com a pista completa.

Navega avalia que a retomada está acontecendo de forma acelerada, superando de 5% a 10% o que era esperado. 

Muito se deve ao valor da aviação gaúcha. É um passageiro que viaja muito, muito mais do que a média nacional, e é um aeroporto de extrema importância para o Brasil inteiro.

PEDRO NAVEGA

Gerente de Aviação Comercial da Fraport Brasil

O gerente comercial acrescenta os incentivos para as empresas aéreas, lançados pela própria Fraport Brasil, e o diálogo constante com elas entre os fatores que contribuíram para a recuperação.

Ainda sem os números fechados para fevereiro, a projeção é de que o percentual de passageiros se aproxime de 90% do registrado no mesmo mês em 2024. Ou seja, com base nos números da Anac, espera-se que tenham embarcado e desembarcado ao menos 450 mil passageiros.

Cargas e passageiros

O pleno retorno dos pousos e decolagens na capital gaúcha não é tarefa simples, ressalta Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (CâmaraLog) e CEO do Grupo Intelog

Ele explica que o aeroporto ficou parado, mas os aviões não, portanto, é preciso mudar itinerários, estabelecidos depois da enchente, para que Porto Alegre volte a fazer parte da rota das aeronaves.

Não adianta simplesmente restaurar os equipamentos perdidos, a pista, etc. Leva tempo até você alocar um novo equipamento aéreo, para que ele venha voar aqui no Salgado Filho, entre um voo, uma escala, não só nacional, mas internacional de roteiros aéreos.

PAULO MENZEL

Presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (CâmaraLog) e CEO do Grupo Intelog

O presidente da CâmaraLog prevê que a plena retomada do aeroporto deve acontecer no começo do segundo semestre deste ano. 

Ele destaca que, na aviação, muitos compram passagens com antecedência, então, usuários ainda têm que utilizar aquelas que já foram compradas e que não têm o Salgado Filho como origem ou destino.

Outro ponto importante para o retorno pleno do fluxo é a movimentação de cargas. Menzel explica que, além de passageiros, os aviões levam cargas que ajudam a diluir os custos da operação. É necessário atrair novamente as empresas que utilizavam o serviço e que buscaram novas rotas e modais de transporte durante o período em que o aeroporto ficou fechado.

Além da questão logística de reorganizar as rotas, há escassez de equipamentos. Navega comenta que o cenário mundial é negativo desde a pandemia:

— A gente ainda está, no cenário mundial, passando por uma crise de falta de aeronaves e peças. Isso vem desde a pandemia e se estende até hoje. E como todo o mercado de aeronaves, ele é dolarizado. No cenário como o brasileiro, em que o dólar é cada vez mais valorizado em relação ao real, fica pior ainda para a gente disputar aeronaves com outros países.

Turismo restabelecido

O fechamento do aeroporto causou impacto imediato no turismo do RS, mas o setor já está com o fluxo mensal "restabelecido dentro da normalidade em janeiro e fevereiro". A afirmação é do presidente do Sindicato da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (Sindtur Serra Gaúcha), Claúdio Souza. Ele estima, todavia, que as perdas econômicas levarão anos para serem recuperadas. 

Souza avalia que em dezembro de 2024 houve uma perda de 15% a 20% no turismo da região em relação ao Natal anterior. Como a retomada ocorreu próximo do Natal, as famílias que planejaram viagens para o período com antecedência não tinham a serra gaúcha como opção. 

Além disso, a desinformação prejudicou o setor. Souza comenta que alguns turistas não sabiam que a região não havia sofrido grandes abalos e estava fora de perigo. 

— A gente tem três janelas de venda. Primeiro, para as operadoras de turismo, depois, a venda direta para o público final, e as OTAs (Online Travel Agency, tradução livre de agência online de viagem), que são as vendas em Booking, Decolar, etc, as vendas de última hora. Então, a primeira janela, nós perdemos praticamente quase toda, porque, quando reabriu o aeroporto, essas operadoras não tinham mais os seus assentos nos aviões para vender. E o cliente já tinha decidido ir para outro destino — ilustra Souza.

Tanto Souza quanto Navega elogiaram a ação do governo do Estado, que investiu em campanhas midiáticas para reverter o cenário e atrair turistas.  A publicidade desempenhou papel importante na retomada e a expectativa é de que o material a ser divulgado em 2025 apresente resultados ainda melhores.

Novas rotas e melhorias na infraestrutura

O gerente de Aviação Comercial da Fraport Brasil prevê que, até completar um ano da reabertura, o aeroporto de Porto Alegre terá um desempenho ainda melhor do que o registrado antes da enchente. Isso porque a retomada contou com a ampliação de rotas e de infraestrutura. Atualmente, o aeroporto oferece voos para 15 destinos, sendo 12 domésticos e três internacionais.

Até o final do primeiro semestre, além de retornarem algumas das rotas internacionais que já existiam, duas novas também serão incluídas. São elas: 

Nos próximos dias, o Salgado Filho ampliará de três para cinco o número de posições que podem receber aeronaves de grande porte. Em parte do pátio de aeronaves, foi realizada a troca do pavimento, para o concreto rígido. A melhoria traz mais atratividade para as empresas, pois permitirá que mais equipamentos robustos estejam estacionados simultaneamente em seu pátio.

A obra já estava prevista antes da enchente e seguiu no cronograma, mesmo com o impacto da tragédia climática.

Além disso, desde a reabertura parcial, em outubro, as operações comerciais no aeroporto foram ampliadas, com a inauguração de novas lojas que trazem marcas regionais, nacionais e internacionais. Atualmente, são mais de cem pontos comerciais, entre lojas, gastronomia e serviços.

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