Revitalizado há seis anos, o trecho 1 da orla do Guaíba, em Porto Alegre, passará por uma reforma de R$ 15 milhões. Estragos surgiram após a enchente de maio de 2024 e também na elevação do Guaíba em setembro e novembro do ano passado. A partir de fevereiro, partes da área serão cercadas para o início das obras, que devem durar 12 meses.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) é quem lidera o processo. O chefe da pasta, Germano Bremm, diz que o projeto ainda está na fase de captação de recursos.
— Vamos buscar contrapartidas com alguma empresa que está investindo na Capital, como já foi feito com outros trechos de Orla. As lojas do trecho 3 estão sendo reformadas com R$ 6 milhões da Cyrela, que erguerá um prédio no (bairro) Praia de Belas. E a orla na frente do BarraShopping será revitalizada pela Multiplan, como contrapartida do Golden Lake — diz o secretário.
O trecho 1 tem 1,3 quilômetro e fica entre a Usina do Gasômetro e a Rótula das Cuias. A nova revitalização prevê reforma dos bares, limpeza do piso, reparos em monumentos e mobiliários (alguns estão com pichações), pintura dos postes e da ciclovia, melhoras na iluminação e reforço nas redes de proteção formadas por pedras no chão, que servem para que a água não invada o espaço.
Durante o auge da enchente de maio, o trecho 1 da Orla foi ponto de desembarque para as vítimas resgatadas na Região das Ilhas e nas cidades de Guaíba e Eldorado do Sul. Caminhonetes passavam por cima da grama, que virou lama e agora está coberta com britas. Esses espaços também serão revitalizados. Recentemente, um monumento em homenagem aos voluntários foi inaugurado no local.
Próximo aos aparelhos de ginástica, foram refeitos taludes que desabaram durante a cheia. Perto dali, em 2023, começaram a surgir erosões junto aos deques 2 e 3. A prefeitura chegou a tapar os buracos com pedras, mas não foi suficiente. Uma alternativa mais robusta será aplicada nesta nova revitalização. O espaço chegou a receber um evento musical no final do ano passado, quando o nível do Guaíba aumentou e a água invadiu o trecho.
Orla "mais resiliente"
Ao longo dos 12 meses de obra, ocorrerão entregas parciais, como a reabertura da obra Olhos Atentos (mirante) e dos bares. O piso estrelado, que chamou atenção dos frequentadores na revitalização de 2018, se apagou e não deve voltar a brilhar.
— Temos outras prioridades. O trecho fica fora do sistema de proteção. Essa estrutura vai ter que conviver com a subida e descida das águas, então precisa estar preparada para isso, ser mais resiliente. É um dos cartões-postais da Capital — diz Bremm.
— Os bares terão vidros modulares que podem ser removidos para tirar os itens em eventuais emergências. Vamos reforçar a estrutura com mais concreto — acrescenta.
Durante a obra, os quiosques no nível da Avenida Edvaldo Pereira Paiva não serão fechados. O 360 Poa Gastrobar, que fica em cima do Guaíba, também ficará aberto. Proprietário do restaurante, Edemir Simonetti também é dono do Baruno, um dos bares destruídos pela enchente.
— Agora o movimento está voltando ao normal no 360 devido ao aeroporto. Nosso público vem muito do turismo. Pretendemos reabrir o Baruno, era maravilhoso, tinha bastante movimento. É lamentável não estarmos prontos para este verão — diz Simonetti.
O empresário Leandro Oliveira tinha bares nos trechos 1 e 3 com a marca Poa Sunset. Ele também pretende reabrir as operações após a reforma. Enquanto isso, vende seus produtos em um quiosque e em um contêiner.
— Pelo menos posso faturar, diminui o prejuízo. Nos bares, vamos perder todo o verão e o movimento que teríamos no Réveillon — lamenta Oliveira.
Os contratos entre os permissionários e a prefeitura foram rompidos após a enchente, mas o secretário municipal de Administração e Patrimônio, André Barbosa, diz que quem já estava no local terá preferência em uma nova licitação.
Falta de zeladoria
A concessionária GAM 3 Parks seguirá fazendo manutenções de todo o trecho 1 após a reforma, diz o secretário Germano Bremm. Desde a enchente, a empresa instalou banheiros químicos no nível da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, já que os que ficavam junto aos bares foram destruídos. Antes da cheia, a Ambev assinou contrato para estampar sua marca na Orla em troca de melhorias. A fabricante de bebidas chegou a pintar as quadras esportivas e a instalar placas que mostram a distância a cada 50 metros, além de iniciar a revitalização da ciclovia, o que não foi concluído.
Em tese, o trecho 1 no nível do Guaíba está bloqueado. No entanto, não há barreira alguma que impeça a passagem dos frequentadores. Na manhã de sexta-feira (13), a dentista Carolina Aguiar, 40 anos, caminhava com seus cachorros no local. À reportagem de Zero Hora, ela reclamou da grama alta.
— Nunca esteve desse jeito. Fico chutando a grama. De noite, venho correr, mas escolho a parte de cima para evitar isso. Esse caminho aqui (embaixo) é legal, mas está malcuidado — diz.
O aposentado Adão Castro, 75 anos, que caminha todos os dias na Orla, teme cair em um dos buracos perto dos deques.
— Gosto de passar por aqui, sentar e olhar o Guaíba, mas se tornou perigoso — diz.
A Smamus afirma que o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) fará o corte da grama nesta terça-feira (17).