As futuras comportas de número 11, 12 e 14 do sistema de proteção contra cheia de Porto Alegre são consideradas soluções seguras por especialistas em hidrologia. Inicialmente, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) cogitou fechar o vão do portão 14 com muro em concreto, mas prevaleceu a manutenção de uma estrutura móvel de contenção de enchente que permita o trânsito de veículos e pedestres quando estiver aberta.
As comportas são portões herméticos que, quando fechados, ajudam a conter a água. Em situações normais, podem ficar abertos e, pelo seu vão, é permitida a circulação.
— É adequado. Um muro bem construído e uma comporta bem vedada produzem o mesmo efeito de não deixar a água entrar. O que pesa mais nessa decisão é a mobilidade. Faz sentido optar por uma estrutura móvel nos pontos em que há uso de passagem — diz Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O especialista alerta que as estruturas móveis demandam manutenções periódicas no sistema. Os muros são menos exigentes nesse aspecto. Na enchente de maio, as comportas apresentaram falhas nas vedações, permitindo o vazamento de água para dentro da cidade. O portão 14, na Avenida Castelo Branco, na altura da antiga ponte do Guaíba, estava fragilizado, rompeu e permitiu a vazão de grande volume de água. Isso contribuiu para a inundação de bairros como Humaitá e Navegantes.
— Precisa de um correto planejamento para garantir que as borrachas de vedação sigam funcionando e que nada obstrua o trilho e dificulte o fechamento — destacou Fan.
As três futuras comportas serão construídas em aço pela empresa que vencer a concorrência pública lançada pelo Dmae no dia 27 de dezembro. A abertura das propostas foi marcada para o dia 20 de janeiro e o preço máximo admitido é de R$ 9 milhões.
As estruturas terão de ser construídas conforme projeto técnico elaborado pela Simon Engenharia, empresa contratada pelo Dmae.
As comportas 11 e 14 têm dois portões. Em ambas, um deles será substituído por nova estrutura móvel, enquanto o outro receberá concreto para fechamento total.
O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, definiu as estruturas que serão construídas como robustas. Apesar disso, ele afirmou que um estudo de engenharia, previsto para ser concluído em seis meses, irá determinar se é necessário construir uma nova e adicional estrutura de contenção de cheia, como um dique ou muro, exclusivamente na zona entre o Rio Jacuí e a comporta 14, considerada crítica.
— A preocupação é a 14. É ali que o Jacuí faz uma curva para entrar no Guaíba. Tem uma força centrífuga que joga a água contra a comporta. Se necessário, vamos fazer um anteparo para a água perder velocidade. No nosso entendimento, a comporta dá a segurança necessária, mas o estudo vai dizer se ela é suficiente ou se precisa de outra contenção. A tragédia trouxe aprendizados, não podemos mais errar. Vamos pecar por excesso — diz Loss.
O professor Fernando Fan comenta que o Rio Jacuí não chega à curva com velocidade elevada por ser uma zona de planície, mas considera válida, em razão da enchente de 2024, a análise sobre a necessidade de construção de uma barreira auxiliar ao portão 14.
Nos debates sobre o futuro dessa comporta, moradores do Humaitá pediram que ela fosse concretada, projetando maior sensação de segurança. Também houve pedidos pela manutenção de estrutura móvel que permitisse o trânsito de veículos. Foi o caso da Federação de Remo do Rio Grande do Sul (Remosul). A passagem serve como acesso à sede da entidade e a cinco clubes de remo de Porto Alegre, localizados no Parque Náutico Alberto Bins, na Rua João Moreira Maciel.
— O que decidiu foi a engenharia. A modelagem da comporta é robusta e estamos analisando a necessidade do reforço — afirma Loss.
Estrutura
No total, o sistema de contenção de cheia de Porto Alegre conta com 14 comportas. Elas vão desde a região da Usina do Gasômetro até a antiga ponte do Guaíba. Nesse perímetro, estão instaladas nas proximidades das avenidas Presidente João Goulart, Mauá e Castelo Branco. A comporta de número 3 está em obras para fechamento em concreto. Outras seis passagens serão substituídas por muro: 5, 7, 8, 9, 10 e 13.
Além das comportas 11, 12 e 14, outras quatro estruturas continuarão sendo móveis: 1, 2, 4 e 6. Para as últimas, o Dmae ainda terá de lançar uma licitação para a contratação de serviços.
Localização das comportas*:
- Comporta 1 (Usina do Gasômetro) - será móvel e passará por reforma
- Comporta 2 (Cais Embarcadero) - será móvel e passará por reforma
- Comporta 3 (avenida Mauá x Padre Tomé) - será fechada em concreto armado
- Comporta 4 (avenida Mauá x Sepúlveda) - será móvel e passará por reforma
- Comporta 5 (avenida Mauá) - será fechada em concreto armado
- Comporta 6 (Catamarã) - será móvel e passará por reforma
- Comporta 7 (avenida Mauá) - será fechada em concreto armado
- Comportas 8, 9 e 10 (avenida Castelo Branco) - serão fechadas em concreto armado
- Comporta 11 (avenida São Pedro) - será móvel e substituída por estrutura nova
- Comporta 12 (avenida Castelo Branco, próximo da Cairú) - será móvel e substituída por estrutura nova
- Comporta 13 (avenida Castelo Branco) - será fechada em concreto armado
- Comporta 14 (avenida Castelo Branco x Voluntários da Pátria) - será móvel e substituída por estrutura nova
* Fonte: Dmae