Em entrevista na manhã desta quinta-feira (2), ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e professor do IPH/UFRGS, Fernando Dornelles, explicou o que precisa ser feito para diminuir a ocorrência de alagamentos em Porto Alegre, após novos transtornos na tarde de quarta-feira (1º).
— É necessária uma rede confiável para monitorar e entender esses fenômenos climáticos, além de conhecer a capacidade de cada bacia hidrográfica em lidar com diferentes intensidades de chuva — afirma Dornelles.
Na quarta-feira, devido à forte chuva, diversas ruas da Capital ficaram alagadas, e houve também a queda de árvores. Além disso, faltou energia elétrica em vários bairros. Segundo Bruno Vanuzzi, que assumirá o cargo de diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), os geradores não foram acionados em todas as casas de bombas de Porto Alegre durante o temporal.
— O sistema de drenagem, equipamentos e pessoal deve ser mantido em condições operacionais e apto a funcionar durante eventos críticos. Ontem (quarta-feira), enfrentamos a interrupção no fornecimento de energia para as casas de bombas, e os geradores não foram acionados. Mesmo quando acionados, esses geradores não têm capacidade de operar todas as bombas simultaneamente, o que limita a eficiência do sistema — detalha o professor do IPH/UFRGS.
Conforme Dornelles, os alagamentos não têm uma causa única, mas resultam de diversos fatores. No caso de quarta-feira, por exemplo, uma explicação pode ser a forma heterogênea de como a chuva caiu: 54 milímetros (mm) na estação Navegantes, 33mm no Centro e apenas 6,4mm no Jardim Botânico, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No entanto, o professor alerta:
— Se sabemos, por exemplo, que uma bacia suporta 50 mm de chuva em uma hora, não deveríamos enfrentar problemas significativos além de pequenos alagamentos localizados, sem ultrapassar as sarjetas. Para isso, é preciso garantir que as casas de bombas estejam funcionando e que a rede de drenagem consiga levar a água até elas.
Dornelles ressalta ainda que outro ponto preocupante é a condição das redes de drenagem após a enchente de maio. Segundo ele, há incertezas sobre o acúmulo de detritos e sedimentos que podem estar obstruindo o sistema.
— Porto Alegre já possui planos diretores para todas as bacias hidrográficas, alguns atualizados recentemente, como os planos do Passo das Pedras e Passo da Mangueira, na região norte. Esses planos indicam as obras necessárias e estabelecem cronogramas para execução. Com todas as medidas planejadas e executadas, seria possível afirmar que Porto Alegre estaria preparada para suportar chuvas de até 50 mm por hora sem enfrentar alagamentos significativos, como os observados ontem (quarta-feira) — completa o professor.