Após oito anos de espera, Porto Alegre está mais perto de se reencontrar com um de seus mais belos espaços de história e cultura. A Usina do Gasômetro, que está interditada desde 2017, por conta de graves problemas estruturais, passará por revisões e ajustes nas próximas semanas. A previsão de entrega está fixada para este trimestre.
A tentativa de antecipar a reabertura, na tarde do dia 1º, frustrou a cerimônia organizada pelo prefeito reeleito Sebastião Melo para empossar seu secretariado. A chuvarada revelou infiltrações que produziram goteiras. O aguaceiro penetrou por fendas e formou poças em setores isolados dos seis pavimentos da edificação inaugurada em 1928.
— Estamos falando de uma estrutura com mais de 13 mil metros quadrados construídos. É natural que alguns testes e ajustes ocorram durante a ocupação dos espaços — pondera o secretário de Obras e Infraestrutura de Porto Alegre, André Flores.
Na ocasião da solenidade, cancelada e transferida para esta sexta-feira (3), no Paço Municipal, além do aparecimento dos pontos de infiltração de água da chuva, outro problema recorrente na Capital precipitou o encerramento forçado do ato solene: a falta de energia elétrica, que atingiu o centro cultural localizado na Orla e diversas áreas da cidade.
O secretário afirma que o prédio, com exceção das revisões evidenciadas, está em perfeito funcionamento, restaurado dentro das normas de preservação. Além disso, contará com sistema de comando automatizado para todas as funcionalidades abastecidas por eletricidade.
— Iluminação, elevadores, climatização e controles de acesso serão regulados de uma central instalada no setor administrativo da edificação — aponta.
Flores diz acreditar que os ambientes poderão ser gradativamente ocupados para atividades culturais e artísticas durante o trimestre e, até março, mês do aniversário de Porto Alegre, a Usina deverá estar de portas abertas com a totalidade de seus espaços disponíveis para a visitação pública.
Investimento
A obra, orçada em R$ 22,2 milhões, recebeu investimentos de cerca de R$ 21 milhões até o final de 2024. O R$ 1,2 milhão restante será utilizado nos ajustes necessários e acabamentos finais.
Ícone da história e da cultura da Capital
Descrita pela secretária da Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, Liliana Cardoso, como o mais "icônico" aparelho cultural da cidade, a Usina do Gasômetro foi uma unidade industrial de geração e distribuição de energia elétrica originada pela queima de carvão mineral.
Foi desativada na década de 1970, quando consolidou-se o sistema de geração e distribuição de energia elétrica atual. Na década de 1980, a edificação foi tombada, restaurada e adaptada para se tornar um centro cultural, inaugurado em 1991.
— É um local muito representativo para os porto-alegrenses. Foi estratégico no desenvolvimento da cidade e se tornou uma referência visual e arquitetônica, ao lado da Orla e seu pôr do sol. A proximidade da reabertura nos anima muito — comenta a secretária.
Liliana sustenta que a ocupação dos espaços ocorrerá de forma responsável, sob a diretriz de utilização pela comunidade artística e pelas representações da economia criativa da Capital.
No passado, a Usina sediou edições da Bienal do Mercosul, espetáculos de teatro, música e dança, exposições de artes plásticas e visuais, feiras e eventos internacionais.
Aniversário da Capital
Liliana Cardoso indica que há grande disposição para que a reinauguração do Centro Cultural Usina do Gasômetro ocorra antes do aniversário de Porto Alegre, em 26 de março, e possa integrar as celebrações.
— Sem dúvida, é um dos lugares mais amados da Capital e seria maravilhoso contarmos com ele para o aniversário da nossa cidade — define.
Concessão à iniciativa privada
A secretária da Cultura confirma que passa por análises a possibilidade de concessão do Gasômetro à iniciativa privada. Sem detalhes ainda, Liliana indica que os estudos têm sido realizados sob a ótica de conceder espaços, mantendo a gestão central sob responsabilidade do município.
O desenho do modelo, entretanto, está em etapa preliminar e a proposta será, segundo a secretária, amplamente discutida com a Câmara de Vereadores e com a sociedade civil, em especial, com a classe artística e a cadeia produtiva da cultura em Porto Alegre.