Os moradores de diversos bairros de Porto Alegre registraram rápida ascensão da água e alagamentos em diversas vias desde a manhã desta quinta-feira (23). Entre os registros de aumento do volume estão vias e áreas como Menino Deus, Praia de Belas, Cidade Baixa, Santana, Centro, São Geraldo, Restinga e Floresta. O volume da chuva em Porto Alegre nas últimas 12h chegou a 103mm na Estação Cristal e 95mm na Partenon, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O Dmae atribui o transtorno ao acúmulo de lixo e restrições no funcionamento de casas de bombeamento. Durante a tarde, o prefeito Sebastião Melo anunciou o fechamento das comportas do Guaíba e a suspensão das aulas na rede pública e indicação para interrupção na rede privada. Ele destacou que a chuva foi muito grande em um curto período de tempo. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, por sua vez, analisou que as redes estão assoreadas e houve diminuição da capacidade de que a água afluísse.
Também houve uma série de registros de alagamento na Zona Sul de Porto Alegre, em vias como Cavalhada e avenida Beira-Rio nas proximidades do estádio. Foi afetado, ainda, o bairro Hípica, nas proximidades da Edgar Pires de Castro. Na Cohab Cavalhada, há água acumulada chegando às residências. Diversos pontos da Restinga e do bairro Lageado ficaram alagados.
Houve registros, inclusive, de vias que não foram afetadas anteriormente pela água, como Otto Niemeyer e Coronel Massot sendo tomadas pela avanço da inundação. É o caso da Lima e Silva, na Cidade Baixa. O Shopping Praia de Belas encerrou as atividades às 12h "em função das condições climáticas que afetam a circulação e a mobilidade em Porto Alegre, prejudicando a acessibilidade à região do empreendimento".
A limpeza do Mercado Público, que havia se iniciado na manhã desta quinta-feira, foi suspensa, já que houve avanço da inundação também no Centro. O lixo em dezenas de ruas e avenidas se acumulou sobre a água. Havia muito entulho boiando, já que parte dele havia sido deixada sobre calçadas e vias após limpeza recente.
Ao longo do dia, muitos motoristas na Capital tiveram que mudar o trajeto e até buscar filhos em escolas e creches ou sair do trabalho antecipadamente. Na rua Arroio Grande, crianças de uma creche foram retiradas com a água subindo, já que o socorro demorou para chegar.
Há também aumento da água em locais como bairros Rio Branco e Fátima, em Canoas. O relato dos moradores era de aumento do volume no final da manhã. No bairro Niterói havia diversas casas com inundação. No município de Guaíba, como no bairro Santa Rita, também houve manifestação de moradores com nova ascensão da água.
Durante a coletiva convocada pela prefeitura, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss disse que "não é simples restabelecer todas as casas de bombas".
— Estamos contratando uma segunda empresa para recuperar os motores. Esses motores, na capacidade que o Dmae, não tem a pronta entrega. Já temos encomendados vários motores. É um processo delicado de recuperação das casas de bombas - justificou.
Loss acrescentou que as redes pluviais estão muito assoreadas, e que isso tira a capacidade de que a água possa afluir pelas redes. Alegou, também que se trabalhou com caminhões de hidrojateamento.
Antes, o Dmae havia se pronunciado no X (antigo Twitter) e no Instagram. Loss alega que houve chuva "além do que os modelos previam", e que as equipes seguiam trabalhando para ampliar o trabalho das casas de bomba número 12, 13 e 16, que atendem os bairros Menino Deus e Cidade Baixa. Disse ainda que as equipes agiam na limpeza das redes.
Nesta quarta, no entanto, o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Marcelo Schneider já havia alertado para rajadas de vento de até 60km/h na Lagoa dos Patos e chuva de até 70mm até sexta-feira. A chuva acumulada deve gerar um repique no nível do Guaíba.
O pesquisador Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, conversou com a Rádio Gaúcha sobre os novos alagamentos em Porto Alegre. Segundo o hidrólogo, novas cheias vão ocorrer enquanto a cidade não estiver limpa.
— Enquanto os níveis do Guaíba descerem um pouco mais, mas a gente não limpar melhor nossas galerias de drenagem, e nossas casas de bomba não estiverem a pleno também, as próximas chuvas fortes poderão sim ocasionar alagamentos — relatou.
O hospital Mãe de Deus voltou a ser cercado por água. Em nota, a instituição afirmou que "Em razão de novos alagamentos no bairro Menino Deus e pela segurança de todos, as equipes cessaram a limpeza do subsolo no Hospital Mãe de Deus e deixaram o prédio. Novamente a água chegou a entrar nessa área, e trabalhamos para sua retirada, por meio de caminhões para bombeamento. Não há pacientes no prédio desde 5 de maio, quando, sem luz e água, o hospital precisou parar de funcionar".
Durante a manhã, em entrevista ao Timeline, da Gaúcha, a diretora de tratamento de Água e Esgotos do Dmae, Joicineli Becker, atribuiu o problema à dificuldade no escoamento da água da chuva, dada a obstrução de bueiros com areia, lixo e outros tipos de sujeira.
— Com o nível da chuva, depois de tantos dias de inundação, as redes de escoamento estão obstruídas. Estamos vendo o acúmulo de água da chuva — destacou.
Quarta-feira de ansiedade no Menino Deus
O dia já havia sido de preocupação para moradores dos bairros Menino Deus e do Praia de Belas. Isso porque a vazão de esgoto pluvial pelos coletores alagou trechos de ruas e avenidas. A situação deixou em alerta e causou medo entre moradores da região, que tiveram de deixar as residências há cerca de duas semanas pela inundação. Em meio à limpeza dos ambientes e remoção de objetos estragados, ruas foram bloqueadas em protesto.
Em postagem em rede social, o Dmae apontou que houve desligamento momentâneo em estação de bombeamento. Já o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) informou que o serviço de recolhimento opera em uma força-tarefa. Conforme o cronograma de trabalho, 17 locais foram contemplados nessa quarta-feira (22).
O fim de semana já havia sido de limpeza nas residências e estabelecimentos comerciais na região. Com a drenagem das casas de bombas e a queda no nível do Guaíba, a água havia recuado nas principais ruas dessas localidades, que passaram a ser tomadas por entulho de móveis retirados das residências.