Chovia forte no início da manhã desta quinta-feira (23) quando uma equipe com cerca de cem servidores da prefeitura se reuniu no Largo Glênio Peres. Os trabalhadores aguardavam pelo início da limpeza do Mercado Público de Porto Alegre, prevista para começar às 8h.
Antes dos trabalhos, o secretário municipal de Administração e Patrimônio, André Barbosa, acessou as dependências do prédio histórico para fazer uma inspeção. No interior do local, que passou semanas inundado pelas águas do Guaíba, o cenário era de muito lodo, móveis empilhados e mau cheiro.
A limpeza das áreas comuns foi conduzida em parceria com a empresa Stihl, multinacional do ramo de ferramentas motorizadas. Sediada em São Leopoldo, outro município duramente afetado pelas enchentes que assolam o RS, a empresa deslocou suas equipes até a Capital para ajudar na recuperação do Mercado Público.
O grupo com 28 pessoas, entre funcionários da Stihl e de empresas terceirizadas, chegou ao local por volta de 9h trazendo equipamentos e mão de obra. O trajeto do Vale do Sinos até Porto Alegre foi dificultado pelo trânsito intenso e pela chuva, que não deu trégua.
Segundo o secretário, a meta da prefeitura era que os donos das bancas pudessem avaliar e remover seus equipamentos e mobília para descarte no sábado (25).
— Esse é o início de um trabalho de reconstrução. O Mercado Público já sobreviveu a quatro incêndios e duas enchentes, vamos superar isso também — destacou Barbosa.
Por volta de 11h30min, no entanto, as equipes da prefeitura e da Stihl precisaram evacuar o prédio e interromperam a limpeza devido à elevação das águas na região.
Apoio do setor privado
O vice-presidente de marketing e vendas da Stihl, Romário Brito, explica que a equipe levou geradores que ainda não foram lançados no Brasil para auxiliar nos trabalhos. Além disso, foi trazido maquinário de limpeza, sopradores, além de moto bombas para fazer a sucção da água que está dentro do prédio. Contudo, a chuva se intensificou e os alagamentos que começaram a ocorrer nas ruas da Capital, também afetaram o Mercado Público.
— O que acontece é que agora subiu o nível de novo, o Centro está ficando alagado, aqui dentro tem água de novo, então nós tivemos que suspender, o maquinário ficou aqui, mas nós vamos retornar para dar continuidade assim que tiver uma condição melhor — explicou Brito.
Longo trabalho pela frente
Entre os corredores e bancas do Mercado Público, uma espessa camada de lama recobre todo o piso original. As caixas de esgoto ainda estão cheias de água e a sua drenagem era uma das ações que estavam previstas para ocorrer ao longo do dia, mas foram interrompidas em razão da chuva.
A retirada dos materiais de madeira que restaram pelos corredores foi feita por trabalhadores do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Após uma breve triagem dos objetos, a retroescavadeira da prefeitura removeu os pedaços apodrecidos de madeira, que foram empilhados na lateral do prédio. Aos poucos, uma longa fileira de cadeiras e armários foi se formando em paralelo ao acesso pela Avenida Borges de Medeiros.
A portaria em frente ao Largo Glênio Peres, por onde milhares de pessoas entravam e saíam do Mercado Público todos os dias antes da enchente, agora se encontra trancada por um cadeado e obstruída por uma pilha de objetos como cadeiras, caixas, freezers, lixeiras e diversos armários, que foram arrastados pela força das águas.
O odor nauseante que paira no ar, tanto no interior do prédio quanto nos arredores, em grande parte está relacionado à elevada quantidade de peixes mortos em decomposição. O que chama atenção é que, além dos peixes que estavam nas bancas, há também peixes do Guaíba trazidos pela cheia.
Ainda sem luz, as equipes trabalharam praticamente às escuras no interior do prédio. Não foi permitido o acesso da imprensa durante a limpeza devido ao alto risco de contaminação. Inclusive, um dos motivos para o descarte da mobília de madeira, segundo o secretário, é que o material não pode ser descontaminado, ao contrário dos objetos de metal, por exemplo.
A limpeza ocorreu apenas no andar térreo, trecho diretamente atingido pela inundação. Os traços de cor marrom nas paredes, com pelo menos 1,50cm de altura, denunciam até onde a água avançou por dentro e por fora do Mercado Público no pico da enchente histórica, que superou a de 1941. Ainda não há previsão para a continuidade da operação.
A Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio estima que o trabalho de limpeza esteja avaliado em R$ 284 mil.