Uma explosão atingiu uma torre de um condomínio com 22 prédios no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, na madrugada de quinta-feira (4). Conforme relatos de moradores, havia um forte cheiro de gás no local desde o final da quarta-feira (3). O Instituto-Geral de Perícias (IGP) trabalha para identificar as causas do acidente. Segundo as assessorias do Hospital Cristo Redentor e do Hospital de Pronto-Socorro, pelo menos nove pessoas ficaram feridas, sendo dois bombeiros que estavam no prédio atendendo a ocorrência.
Confira o que se sabe sobre a explosão
A origem
Um intenso cheiro de gás se espalhou pelo prédio 10 do condomínio Alto São Francisco, levando os moradores a acionarem o Corpo de Bombeiros. De acordo com os bombeiros, a primeira providência foi realizar o fechamento do sistema de alimentação da central de gás do prédio e, após, o fechamento dos registros dos apartamentos. Em seguida, os bombeiros passaram a evacuar as pessoas do local. No momento da explosão, os militares estavam nas escadas de acesso realizando a evacuação da edificação, com o objetivo de de retirar os moradores do local de risco.
Os moradores descreveram tremores nos edifícios e chamas nos corredores. Todos foram evacuados e as unidades do condomínio foram imediatamente interditadas. Os bombeiros conseguiram controlar o incêndio, encaminhando os feridos para atendimento médico.
O motivo
A principal suspeita é de um vazamento de gás GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), conforme apontado pelo Corpo de Bombeiros. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) trabalha para identificar as causas do acidente.
— Temos praticamente definido que de fato foi uma explosão devido a um vazamento de gás. Estamos coletando informações e vestígios para chegarmos na causa do vazamento — explicou o chefe da Divisão de Engenharia do Departamento de Criminalística do IGP, Valmor Gomes.
A construtora Tenda, responsável pela obra, garantiu que o local onde houve a explosão foi inspecionado e recebia a manutenção, que era de responsabilidade da própria empresa.
Segundo as análises preliminares, o IGP descarta vazamento na tubulação vertical de gás. O que está sendo analisado pelos peritos é um ponto de conexão que dá acesso para a cozinha do apartamento onde houve a explosão.
A explosão
Moradores do condomínio elaboraram um relatório sobre o incidente, enviado ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e à Defensoria Pública. As narrativas dos usuários de nove dos apartamentos são unânimes em apontar que os bombeiros que tentavam verificar um vazamento de gás na torre 10 não desligaram a energia elétrica no prédio. Há relatos de que a explosão aconteceu quando um morador ligou a luz de um apartamento. Os moradores tiraram fotos do edifício com luzes ligadas, inclusive dentro dos domicílios.
Na terça-feira (9), o comandante Regional Metropolitano do Corpo de Bombeiros Militar, coronel Ricardo Mattei, disse em entrevista ao programa Gaúcha+, que a corporação pode abrir investigação para apurar uma possível falha humana no atendimento dos agentes. A medida só deve ser instaurada após a conclusão de laudo do IGP, que avalia o que causou a explosão.
Com relação ao corte de energia elétrica antes da inspeção, Mattei disse que não seria cabível fazer o desligamento, porque segundo ele, se ocorresse, as pessoas poderiam ligar velas e similares, o que poderia ser ainda mais grave ao fato ocorrido no local.
Número de feridos
Nove pessoas feridas receberam assistência médica, sendo que três foram direcionados ao Hospital Cristo Redentor e seis ao Hospital de Pronto-Socorro, conforme informado pelas assessorias das instituições. Dentre os nove feridos, oito foram transportados por ambulância.
Entre os feridos, quatro moradores e dois bombeiros tiveram alta, no final da tarde de quinta-feira (4), após serem atendidos no Hospital de Pronto-Socorro. Um dos feridos, identificado como Tiago Lemos, 38 anos, morreu na segunda-feira (8), em decorrência do impacto da explosão. O homem, que teve 90% do corpo queimado, foi descrito pela família como um rapaz "alegre, trabalhador e amante de pagode".
Tiago Lemos morava no mesmo apartamento que Rodrigo da Rosa Rufino, 43 anos, que está hospitalizado desde o acidente.
Rodrigo está internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Cristo Redentor. Na quinta-feira (11), a família lançou uma campanha de doação de sangue por meio das redes sociais.
As contribuições podem ser feitas no banco de sangue do Grupo Hospitalar Conceição, localizado no segundo andar do Hospital Conceição, no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre. O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 17h, e aos sábados, das 7h30min às 12h.
Apartamentos ocupados
Todos os apartamentos do edifício afetado estavam ocupados, contudo, metade das unidades em todo o condomínio não tinha moradores no momento da explosão.
Risco de desabamento
A torre corre o risco de desabar a qualquer momento. A avaliação foi feita pelo Corpo de Bombeiros, em vistoria conjunta com o Instituto-Geral de Perícias.
Para onde foram os moradores?
Alguns moradores optaram por dormir no salão de festas do condomínio e outros se dirigiram a pousadas ou casas de amigos ou parentes. Ao menos 60 pessoas seguem sem poder retornar para seus apartamentos. Conforme atualização de sexta (5), das 22 torres, 16 já estavam liberadas para retorno de moradores. Porém, sem previsão de reestabelecimento de gás e água.
Na sexta-feira (5), o síndico do condomínio, Marcelo Feijó, explicou que estão sendo tomadas as providências acerca do acionamento do seguro para ajudar os moradores atingidos. Além disso, citou que foi aberta uma campanha para arrecadar fraldas, roupas, alimentos não-perecíveis para quem teve a moradia afetada pelo incidente.
Feijó destacou que, com a administração, irá verificar a possibilidade de isentar a taxa condominial dos moradores afetados no próximo mês. Ele argumenta que, mesmo em razão do baixo fluxo de caixa por ser uma edificação recente, o condomínio avalia patrocinar, de forma temporária, a estadia destas pessoas em alguma pousada.
Uma reunião realizada na terça-feira (9), na sede do Ministério Público (MP), alinhou a oferta de moradias provisórias na rede pública municipal aos que tiveram de deixar seus apartamentos. No entanto, ainda não há nada formalizado.
— Seria oferecida pousada para os que estão dormindo no salão de festas. Esse é o caso, talvez, mais dramático. Aqueles que não estão com teto. Para essas pessoas, nós vamos oferecer, emergencialmente, para os próximos dias, a possibilidade de eles ficarem em pousadas da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) — relatou o promotor Cláudio Ari de Mello.
Os moradores podem receber benefícios?
Os moradores do condomínio onde houve uma explosão no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre, tomarão conhecimento no próximo sábado (13) das medidas de auxílio às famílias afetadas. Essas medidas foram discutidas durante reunião no MP.
Entre elas, está a interrupção de cobrança do financiamento por parte da Caixa pelo prazo inicial de seis meses. A proposta foi levada à sede da instituição financeira, em Brasília, a fim de que a decisão seja tomada.
A Caixa informou ter acionado "a seguradora para análise e habilitação da cobertura de sinistro do seguro para os clientes que acionaram o banco".
Já a Tenda Negócios Imobiliários S.A. respondeu a GZH destacando as seguintes iniciativas para auxiliar quem foi afetado:
- Isenção de seis parcelas Tenda para os clientes dos blocos 9 e 10.
- Isenção de três parcelas Tenda para os clientes dos blocos 11 e 12.
- Proposta de pagamento de metade da taxa condominial durante seis meses para os blocos 09 e 10, pendente de aprovação em assembleia.
- Proposta de pagamento de metade da taxa condominial durante três meses para os blocos 11 e 12, sujeita à aprovação dos moradores.
- Apoio psicológico para os moradores.
Inicialmente, a Tenda divulgou que haveria isenção de condomínio, mas depois atualizou a manifestação, informando isenção da "parcela Tenda", que é um valor pago pelos moradores à construtora.
O secretário de Habitação e Regularização Fundiária, André Machado, ressaltou em conversa com GZH que está sendo preparada uma ação junto à Secretaria da Saúde para suporte e assistência em saúde física e mental aos moradores.