A Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim foi reinaugurada oficialmente, no final da tarde deste sábado (4), após passar por uma restauração ao longo de dois anos e meio. Localizada na avenida Osvaldo Aranha, a capela foi tombada pela prefeitura de Porto Alegre em 1979. Arcebispo metropolitano da Capital, Dom Jaime Spengler prestigiou o evento, além de abençoar o local reaberto ao público e aos fiéis.
— Certamente, essa capela faz parte da história de Porto Alegre. Ela tem um lugar de destaque na cultura do porto-alegrense. A devoção ao Senhor do Bom Fim tem uma história longuíssima. Aqui, imagino e creio que não caímos em fantasia, o povo porto-alegrense e os descendentes de açorianos encontraram espaço e lugar para trazerem suas alegrias e dores — refletiu Dom Jaime Spengler.
O sino badalou com força na igreja, às 16h37min. Era o chamado para a missa. Cerca de 30 pessoas estavam no local quando a cerimônia foi aberta pelo padre Lírio Celestino Pezzini, que é o pároco da igreja há quatro anos e meio. Percebia-se a alegria e o orgulho de quem chegava.
— Me formei há 75 anos no Instituto de Educação. Naquela época, já frequentava aqui. Acho da maior importância a restauração da igreja, para a juventude ter noção cultural do que ela representa – observou a aposentada Therezinha Petry Andrade, de 95 anos, uma das frequentadoras mais antigas do local.
O pároco estava bastante emocionado:
— É uma grande alegria poder restaurar e reformar a igreja que esteve abandonada por muito tempo. Agora é uma grande festa poder mostrar para o povo essa capela, de 1883 — afirmou o padre Lírio.
A reinauguração contou com uma cerimônia especial, em que Dom Jaime Spengler deu a bênção. Pessoas que trabalharam nas obras, funcionários, moradores da vizinhança, entre outros, também estavam presentes.
— Fiz as pinturas murais, os retábulos, a mesa do altar e as imagens sacras — citou a restauradora Anice Jaroczinski.
A profissional, que confessou ter ficado impressionada com a participação dos fiéis durante o processo de restauração, trabalhou por 18 meses nas peças. Ela restaurou 12 imagens em gesso e três em madeira.
— As pinturas murais foram bem complicadas de fazer, porque sofreram bastante com as ações do tempo e com o incêndio que ocorreu no passado. Havia muita sujeira e umidade — relata.
Porém, o mais difícil na avaliação de Anice, foi recuperar uma imagem sacra.
— A pior foi a imagem de Nossa Senhora da Conceição, que estava bastante danificada e era de madeira. Levei mais tempo para conseguir restaurar.
O investimento para a obra, que incluiu o telhado e o altar, foi de R$ 258 mil, valor doado integralmente por fiéis, amigos e familiares do padre Lírio. As imagens em estilo barroco e as cores originais do século 19 foram recuperadas. A coordenação ficou a cargo do arquiteto Lucas Bernardes Volpatto. Já o telhado foi elaborado por Divino Aguiar, que é proprietário de uma empresa de engenharia.
— Deixamos as telhas originais e colocamos por baixo chapas galvanizadas. Depois realizamos a pintura interna, reformamos o piso e a parte elétrica — concluiu Aguiar.
História
A Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim é repleta de histórias. Foi erguida ao custo de muito suor dos escravos entre os anos de 1867-1870. A inauguração parcial ocorreu em 1883. Uma das atrações do local é uma grande cruz com Cristo em cima do altar. Teria vindo de carretão de São Borja. A peça foi feita pelos padres jesuítas na região das Missões.
Localizada em frente à Várzea, denominação depois trocada para Parque da Redenção, em 1888, em função da abolição da escravatura, a igreja foi uma espécie de testemunha privilegiada de tantos acontecimentos históricos. Em 1935, ano do centenário da Revolução Farroupilha, a Redenção foi rebatizada de Parque Farroupilha. E a igreja, que possui 332 metros quadrados, se manteve altiva no outro lado da rua. Atualmente, tem o Instituto de Educação como edificação vizinha de frente.
O passar das décadas cobrou um alto preço para a igreja, que sofreu com riscos de desabamento e enfrentou um incêndio no altar em 1970. Em 1979, enfim, foi tombada. Antes do início da pandemia da Covid-19, teve início a aguardada restauração.
O padre Roberto Landell de Moura, conhecido pelo menos entre os brasileiros como o inventor do rádio, começou sua carreira eclesiástica no local. Aos 26 anos, no distante ano de 1887, era capelão. Trata-se do personagem mais famoso a passar pela igreja.
Serviço
Missas são realizadas diariamente às 17h (exceto aos domingos, quando começam às 10h). A igreja sempre está aberta para visitação a partir das 14h30min.