Faz mais de três séculos que os jesuítas se estabeleceram no noroeste do Rio Grande do Sul e fundaram os Sete Povos das Missões. Ensinada nas escolas do Estado inteiro, essa história está prestes a ganhar mais um capítulo: a ordem religiosa vai voltar à região.
No dia 24 de outubro, um padre jesuíta deve assumir a Paróquia de São Miguel das Missões, cidade onde ficam as ruínas reconhecidas como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Assim que criada, há 40 anos, a paróquia havia sido entregue aos jesuítas, mas eles deixaram a cidade em 1989.
O pároco Dionísio Körbesvai irá de mudança de Santa Catarina na segunda metade do mês, enquanto o irmão Celso Schneider já está na cidade desde o começo de setembro. Schneider trabalhou no Colégio Anchieta por 32 anos, onde chegou a ser diretor-geral. A nova função em São Miguel não deixa de ser um retorno para casa — é natural de Cerro Largo, na região missioneira. Mas o principal objetivo é sua participação em projetos locais, como da aldeia indígena, da Trilha dos Santos Mártires Região das Missões, do Santuário do Caaró e em escolas. A ideia é ajudar a contar a história pela ótica dos jesuítas
— Queremos lançar um olhar para além das ruínas — diz o irmão.
A decisão de voltar à Região das Missões foi acordada entre o bispo da Diocese de Santo Ângelo, Dom Liro Vendelino Meurer, e o Provincial dos Jesuítas do Brasil, Padre Mieczyslaw Smyda. A ideia surgiu como uma moção em 2017 na Assembleia dos 30 Povos, evento das comunidades missioneiras na primeira Redução Jesuítico-Guarani, em San Ignácio Guazú, no Paraguai.
Dom Liro comemora a integração:
— Penso que é necessário conscientizar a atual geração sobre nossa história, a saga missioneira, o trabalho evangelizador realizado nas reduções, os valores e a mística da presença dos Jesuítas.
A presença da Companhia de Jesus na região remonta ao período das reduções jesuítico-guaranis. No final do século 17, sete aldeamentos indígenas foram fundados pelos jesuítas ali sob a tutela da coroa espanhola, para a catequização dos índios.
Em 1750, com o Tratado de Madri, Portugal recebeu da Espanha os territórios onde situavam as reduções missioneiras e ordenou que jesuítas e indígenas abandonassem as suas terras. Na Guerra Guaranítica, os índios missioneiros lutaram contra os exércitos de Portugal e Espanha, resultando em um massacre indígena e a destruição de boa parte das reduções.
A Ordem Jesuítica retornou ao território missioneiro a partir de 1902, mas deixou completamente a região em 2001.