Uma comitiva formada por 19 representantes da Região Autônoma dos Açores está em visita a Porto Alegre para acompanhar o aniversário de 250 anos da capital gaúcha. O povo açoriano, que deu início à formação da cidade em 1752, recebeu homenagens dos governos estadual e municipal. E, para celebrar a data, na tarde desta sexta-feira (25), a comitiva realizou um passeio pelo Guaíba no barco Cisne Branco para ter a mesma visão que os imigrantes tiveram no passado ao chegar ao cais.
O presidente açoriano, José Manuel Bolieiro, não pôde viajar devido aos abalos sísmicos que ocorrem nos últimos dias na Ilha de São Jorge. O secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural, António Ventura, representa o mandatário na viagem.
— É um orgulho para as autoridades açorianas estar aqui nestas comemorações e testemunhar como Porto Alegre está desenvolvida. E é um orgulho testemunhar que os Açores fizeram parte desse percurso maravilhoso de desenvolvimento e saber que somos muito bem recebidos — afirmou Ventura (confira a íntegra da entrevista no final da matéria).
O vice-prefeito Ricardo Gomes recebeu a comitiva para o passeio ao lado do secretário extraordinário dos 250 anos de Porto Alegre, Rogério Beidacki.
— Somos uma cidade açoriana e nos identificamos como uma cidade açoriana — discursou o vice-prefeito no barco.
O passeio começou às 15h, com saída perto do pórtico central. Era uma tarde ensolarada e com vento. Um show de fado com o grupo Alma Lusitana com Alana Pereira, Jéferson Luz e Maurício Montardo, animou os convidados durante o trajeto em direção à Zona Sul. A embarcação passou pelos armazéns do cais, trechos revitalizados da orla e pelo estádio Beira-Rio. Na volta, atracou na Usina do Gasômetro, onde os visitantes foram a pé até o local da homenagem seguinte.
Foi feito o descerramento de uma placa na primeira praça de Porto Alegre, a Brigadeiro Sampaio, localizada perto da Usina do Gasômetro, no Centro Histórico. O prefeito Sebastião Melo foi até o local e diversos secretários e autoridades acompanharam as homenagens e fizeram discursos.
— O Paço Municipal é o Paço dos Açorianos. Vamos transformá-lo em museu de arte e homenagear a cidade e os açorianos também — observou o prefeito, que confessou jamais ter ido a Portugal.
Um pouco antes, Ventura havia tecido um comentário divertido sobre os laços entre a capital gaúcha e os Açores:
— Não há divórcio entre os Açores e Porto Alegre. Aqui é casamento a sério.
A comitiva estaria à noite na sede da Casa do Açores do Estado do Rio Grande do Sul (Caergs), em Gravataí, para comemorar o aniversário da casa em uma solenidade seguida de jantar. Os visitantes também acompanhariam o lançamento da cartilha infantil Os Viajantes Açorianos no RS e a assinatura de acordo de intenções com a prefeitura do município.
Eventos no sábado
Neste sábado (26), data oficial do aniversário de Porto Alegre, a comitiva ainda participará de alguns festejos. O coordenador do Centro do Protocolo de Relações Públicas do Governo dos Açores, Pedro Lima, confirmou que a comitiva estará no Chalé da Praça XV para uma feijoada com show de samba. Os portugueses também foram convidados para acompanhar o baile da cidade no Parque da Redenção.
— Recebemos a simpatia de todos os habitantes. Todas as pessoas foram muito calorosas — elogiou Pedro Lima.
Conforme a Casa dos Açores, há mais de 1 milhão de descendentes açorianos espalhados pelo Estado, provenientes dos primeiros casais que chegaram a Porto Alegre. E aproximadamente 800 imigrantes brasileiros vivem, atualmente, nos Açores.
"Porto Alegre está desenvolvida"
Confira entrevista com o secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural dos Açores, António Ventura:
Qual a impressão que o senhor tem de Porto Alegre no aniversário de 250 anos da cidade?
É a primeira vez que estou aqui, mas não é a primeira vez que ouço e leio sobre Porto Alegre. É uma cidade onde os açorianos chegaram e possui uma raiz agrícola muito forte. Foram os açorianos os pioneiros do trigo e da obtenção da farinha. Hoje, nós assinalamos com as autoridades locais, esta amizade e percurso histórico. Temos uma identidade cultural que não vai acabar hoje e vai continuar nas próximas gerações. E assinalar essa identidade cultural e percurso humano tem que ser de forma presencial, com aperto de mão, abraços e voltando aos valores e princípios da humanidade de se cumprimentar, uma vez que estamos superando essa triste pandemia. Neste sentido, essa comitiva composta por deputados e prefeitos dos Açores vai testemunhar aquilo que é uma felicidade: estar em Porto Alegre. Creio que no futuro precisamos estreitar relações diplomáticas, culturais, econômicas e sociais. Essa é a grande responsabilidade que sai hoje daqui. A necessidade de todas as autoridades construírem, em conjunto, um percurso para as próximas gerações do conhecimento histórico e cultural, mas também da perspectiva do que podemos ser em termos econômicos, sociais, ambientais e, acima de tudo, humanos.
Qual a importância da colonização açoriana para Porto Alegre? O senhor identifica muitas semelhanças nas ilhas com a capital gaúcha?
Sim, existem dois bairros aqui que têm relação com os açorianos: Azenha e Moinhos de Vento. Isso é significativo, há várias semelhanças desde logo. Como secretário da Agricultura, fico muito satisfeito de visitar uma região muito semelhante em termos de sustentação econômica. Levo daqui na bagagem a necessidade e a responsabilidade de fazermos intercâmbios científicos e compartilharmos o conhecimento. A viagem pode ser até de produtores, porque as semelhanças são muitas.
Como o senhor se sente vendo Porto Alegre do barco como os primeiros casais açorianos viram há 250 anos?
É um momento muito emotivo porque nos recorda os primeiros povoadores, que eram açorianos. É uma descoberta para mim vir aqui e ver a cidade, de fato, como os primeiros povoadores a viram. Não é uma descoberta de um momento, é uma descoberta que é projetada para o futuro em termos de responsabilidade. Esta deve ser a principal responsabilidade dos governantes que estão aqui hoje: projetar no futuro o melhor relacionamento diplomático, econômico e social com Porto Alegre. A partir de hoje, ficamos todos responsáveis por desenvolver esse relacionamento.
Qual a mensagem que a comitiva dos Açores tem para os porto-alegrenses no aniversário de 250 anos de Porto Alegre?
É um orgulho para as autoridades açorianas estarem aqui nestas comemorações e testemunharem como Porto Alegre está desenvolvida. E é um orgulho testemunhar que os Açores fizeram parte desse percurso maravilhoso de desenvolvimento e saber que somos muito bem recebidos em Porto Alegre. A amizade, a simpatia, a dedicação e o empenho das autoridades de Porto Alegre superam qualquer expectativa. Então, não consigo encontrar o melhor adjetivo.