Há 160 anos, nascia, em Porto Alegre, o inventor do rádio. Um dos pioneiros das comunicações por ondas eletromagnéticas, o padre Roberto Landell de Moura foi esquecido por boa parte dos historiadores durante um período significativo do século 20, não recebendo o devido reconhecimento – que, atualmente, com o esforço de pesquisadores brasileiros, voltou a lhe ser atribuído.
Nascido em 21 de janeiro de 1861, Landell de Moura ficou conhecido como o padre cientista, graças a sua dedicação à pesquisa, especialmente da radiotelegrafia e da radiotelefonia. O padre "bruxo", como era chamado pelas beatas da época, foi perseguido por atribuírem poderes mágicos a seus inventos.
Surpreendendo os que duvidavam do êxito de seus experimentos, ele foi o primeiro a transmitir a voz humana por meio de ondas eletromagnéticas, antecedendo em suas experiências científicas o canadense Reginald Fessenden (1866-1932) e o italiano Guglielmo Marconi (1874-1937). Assim, o rádio nascia. No Brasil.
Seu esforço para mostrar que a ciência não rivalizava com a fé não modificou, na época, a mentalidade conservadora do clero. Como aponta o pesquisador Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, a falta de apoio a suas pesquisas resultou, mais tarde, na necessidade de o Brasil importar tecnologia, quando, na realidade, teve a oportunidade histórica de liderar e ser autossuficiente nessa área da comunicação.
Para o jornalista Hamilton Almeida, autor de Padre Landell de Moura, um Herói Sem Glória (2006), o padre não apenas inventou o rádio: ele também pesquisou uma tecnologia presente em quase tudo na atualidade, o wireless.
Ouça abaixo a entrevista de Hamilton Almeida à Rádio Gaúcha nesta quinta-feira (21):
Três de seus inventos chegaram a ser patenteados nos Estados Unidos: o wireless telephone, o wireless telegraph e o wave transmitter, sendo as patentes requeridas, respectivamente, em 1901, 1902 e 1903 e concedidas em 1904.
Em 2002, os restos mortais de Landell de Moura foram transladados para a Igreja Nossa Senhora do Rosário, no centro da capital gaúcha, onde, em 1863, ele foi batizado.
O reconhecimento em seu próprio país veio tardiamente: em setembro de 2012, o nome do padre passou a integrar o chamado "Livro dos heróis da pátria" no Brasil, conforme lei aprovada pelo Congresso Nacional.