Se as obras antigas moldaram a metrópole e as atuais elevaram Porto Alegre a um novo patamar turístico, projetos que ainda não saíram do papel devem mudar mais uma vez a cara da cidade no futuro, mas sem esquecer do passado. Na paisagem que começa a se formar para o futuro, a capital gaúcha mescla a inovação com a tradição ancestral para compor uma nova Porto Alegre.
Alguns já se iniciaram, com intervenções tímidas, e, seguindo adiante, poderão modificar bairros inteiros, promete a prefeitura. O aeromóvel se tornará um meio de transporte? E o Cais do Porto, será o novo ponto turístico da cidade? Expectativas como essas também mexem com o imaginário do porto-alegrense em meio às celebrações do aniversário de 250 anos da Capital.
— Precisamos de edifícios icônicos na entrada do Centro Histórico, que poderiam ficar localizados no início da Rua Voluntários da Pátria — reflete o secretário municipal de Inovação, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, citando Barcelona, na Espanha, como modelo de inspiração para a revitalização do 4º Distrito.
O especialista ainda destaca a Fundação Iberê Camargo, que, conforme avalia, ajudou a projetar a imagem da cidade.
Uma remodelação do Cais do Porto em modelo semelhante ao que aconteceu na cidade de Bordeaux, na França, é outra sugestão apontada.
Trecho 2 da Orla
Após o sucesso da revitalização do trecho 1 da orla do Guaíba, idealizado pelo arquiteto paranaense Jaime Lerner, os porto-alegrenses voltaram a ter uma boa relação com o Guaíba. Entregue em 2018, o primeiro trecho, dedicado ao lazer, com bares e restaurantes operando no local, inspirou a prefeitura.
A poucos metros dali, outra faixa de vegetação ganhou uma nova cara — dessa vez, o espaço foi dedicado à prática de esportes. Inaugurado em 2021, o trecho 3 também foi aprovado pelo usuários. A região ganhou muitos frequentadores, tanto de dia quanto à noite. Porém, um problema ainda incomoda os visitantes: o vazio entre um trecho e outro. Nesse local, onde ainda será desenvolvido o trecho 2, há iluminação mais fraca e o campo onde está o Anfiteatro Pôr do Sol, que deve ser mantido no novo projeto.
O poder público projeta que o trecho 2 tenha uma marina pública, onde iates e jet skis possam atracar. O local também contará com um píer e será caracterizado pela atividade náutica na Capital. Foram discutidas as possibilidades de haver um aquário nesse trecho e até um museu da Marinha, algo ainda indefinido. A ideia mais diferente, no entanto, foi retirada do projeto devido ao seu alto custo: uma roda-gigante. Seria a maior da América Latina e teria vista panorâmica para a cidade e o Guaíba. Mas houve uma reviravolta. Recentemente, a roda-gigante se tornou realidade outra vez, com a sua confirmação no projeto do Parque da Harmonia (veja abaixo).
Revitalização do 4° Distrito
O 4º Distrito de Porto Alegre, região formada pelos bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos, é a grande aposta da prefeitura para o futuro da Capital. O Programa +4D pretende promover o desenvolvimento sustentável, mantendo as características e a identidade do local. A ideia é estimular a ocupação e o entretenimento em um espaço da Capital com sinais de degradação e que já tem atraído o público em eventos como o Saint Patrick's Day.
O programa prevê transformações urbanísticas, tributárias, obras viárias, de drenagem e saneamento, além de ampliação da segurança pública, instalação de equipamentos urbanos, cuidados sociais e atenção ao turismo. Entre os destaques da proposta de revitalização do 4º Distrito estão a criação do chamado quadrilátero do entretenimento, onde já ficam parte das cervejarias artesanais da região, e a Rota Cervejeira permanente.
Ainda estão previstas obras para as avenidas Farrapos, Voluntários da Pátria, Cairu, Brasil, São Pedro e Dona Teodora. Outras vias que receberão investimentos serão a Leopoldo Brentano e a A.J. Renner. Em termos de saneamento, serão realizadas ações de macrodrenagem no Arroio Tamandaré, substituição de redes de água no bairro Floresta, entre outras. A parceria público-privada (PPP) da iluminação pública da região deve ser concluída no primeiro semestre deste ano, e a segurança será fortalecida com a instalação de câmeras de monitoramento. As praças serão revitalizadas e uma nova será construída no encontro da Rua Voluntários da Pátria com a Avenida São Pedro.
Outra ideia é criar um bulevar que ligue o 4º Distrito ao bairro Moinhos de Vento. O ponto de partida será a Rua Almirante Tamandaré, que começa na esquina com a Voluntários da Pátria, no 4D Complex House, complexo que consiste em um edifício residencial, a ser entregue em julho de 2025, e um centro gastronômico — Galpão Food Beer Hall — que tem previsão de lançamento até o final de 2022, em uma fábrica de vidro que está sendo reformada.
Os planos da empresa ABF Developments incluem ainda mesclar os espaços de circulação do galpão com canteiros e áreas de acesso público. Ao longo da via, outras intervenções voltadas para a arborização do caminho também são previstas. Na sexta-feira (18), um evento de inauguração deu a largada nas obras do 4D Complex House.
Aeromóvel
Para reativar o aeromóvel nas intermediações da orla do Guaíba, a prefeitura pretende conceder à iniciativa privada a Praça Júlio Mesquita, onde a estrutura que sustenta os trilhos está instalada. A ideia é transformar o pequeno circuito já existente, com pouco mais de um quilômetro, em uma atração turística cercada por empreendimentos como café e cervejaria.
Em fevereiro, foi assinado com a Aerom Sistemas de Transporte o termo de autorização para desenvolver os estudos de viabilidade para a exploração da antiga linha do aeromóvel e a revitalização da Praça Júlio Mesquita. A Aerom, detentora da tecnologia, tem como objetivo requalificar o trecho original da linha do aeromóvel, com novidades que podem ser até mesmo um novo veículo panorâmico. Para isso, o estudo também vai avaliar a possibilidade de uma extensão da linha nas duas extremidades, de 200 a 300 metros, em direção ao Parque da Harmonia e ao Cais Mauá, permitindo ainda a integração operacional com praças da região.
A estrutura existente no local é composta por 48 pilares de concreto armado e 42 vigas. O projeto terá objetivos turístico e cultural, sem caráter de transporte público. Ainda existe a possibilidade de se construir novos acessos à linha antiga do aeromóvel, o que dependerá da viabilidade financeira do projeto. Outro plano envolvendo o aeromóvel é uma linha sobre a Avenida Farrapos. Mas trata-se se uma ideia ainda em desenvolvimento.
Parque da Harmonia remodelado
O Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia, deixará de ser um espaço usado somente em setembro, quando se celebra a Revolução Farroupilha, para ser um local de culto permanente à cultura do Rio Grande do Sul.
A concessionária GAM 3 Parks, responsável pela administração do parque, planeja atrações que tenham ligação com a história do Estado. Haverá áreas dedicadas aos indígenas, imigrantes italianos e alemães, espaço sobre a cultura africana, lojas que venderão artigos típicos gaúchos, como bombachas e guaiacas, cuias de chimarrão e itens para fazer churrasco, além de um lugar especial para a dupla Gre-Nal. No centro disso tudo, a Praça da Harmonia será o coração do parque.
Também está prevista a construção de uma passarela panorâmica sobre as árvores — onde haverá uma das entradas do parque — e uma catarata artificial que imitará o Salto do Yucumã. Além disso, a empresa irá colocar dentro do Harmonia uma roda-gigante com vista para o Guaíba (que anteriormente estava prevista para o trecho 2 da Orla). A estrutura, que terá 66 metros de altura, deve ser inaugurada no primeiro semestre de 2023.
Revitalização do Cais do Porto
Também de frente para o Guaíba, o Cais do Porto será revitalizado. A recuperação da área portuária é uma discussão que se estende há décadas na cidade. Uma concessionária havia assumido o projeto anterior, porém teve o contrato quebrado pelo governo do Estado em 2019 por não dar andamento aos trabalhos. Agora, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) trabalha em um novo projeto de concessão para o espaço, que deverá durar 35 anos.
A empresa ou consócio que se interessar pela área do Cais deverá transformar os antigos armazéns em uma referência de lazer, gastronomia e turismo na cidade. O investimento previsto é de R$ 1,3 bilhão em todo o trecho de 3,3 quilômetros, que se estende da Usina do Gasômetro às docas.
Também estão previstas iniciativas como a remoção parcial do Muro da Mauá e a destinação de 70% da área útil das docas para moradia, sendo os 30% restantes para uso corporativo. Enquanto isso, o muro tem recebido painéis temáticos, em uma iniciativa de embelezamento realizada pelo consórcio Sinergy/HMídia.
Quase como um complemento do Cais, a Usina do Gasômetro, que teve sua revitalização iniciada em 2020, poderá se conectar ainda mais à Orla.
— A Usina da Inovação (transformação da Usina do Gasômetro no marco zero para os visitantes de Porto Alegre) precisa ser aberta e conectada com a Orla. Precisamos de mais ideias nesse sentido também no Cais do Porto e no 4° Distrito — observa o secretário municipal de Inovação, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, que também é coordenador do Pacto Alegre.
Produção: Guilherme Gonçalves