Quem mira o letreiro de uma das linhas que partem das imediações do Terminal Parobé, no centro de Porto Alegre, pode criar expectativas altas: C3 Urca diz o luminoso, remetendo a um dos mais charmosos bairros do Rio de Janeiro. Seu trajeto, porém, passa longe de qualquer paisagem que lembre um por do sol na praia ou a degustação de uma cerveja gelada sentado a uma mureta de frente para o mar, como na Urca carioca. A linha que parte do Centro, atravessa a Cidade Baixa e adentra o Bom Fim — lá pelas tantas dá uma volta pela Farrapos — até voltar ao ponto inicial. De onde teria saído, então, a inspiração para batizar o circular porto-alegrense?
Conforme a Carris, empresa responsável pelo trajeto, não há uma justificativa oficial nos documentos da companhia. Já a história popular dá pistas: à esquina da Praça Parobé com a Avenida Júlio de Castilhos — em frente ao ponto final do C3 — funcionou, décadas atrás, uma churrascaria que levava esse nome. O ponto, famoso na década de 1970, pode ter sido usado como referência para indicar o fim da linha.
A dúvida ganhou as redes sociais no começo desta semana, quando em um post no grupo Vizinhos do Centro Histórico, um dos mais conhecidos sobre a Capital no Facebook, um usuário questionou o nome da linha. Dentre as respostas, pelo menos três usuários mencionaram como referência a antiga churrascaria — que fechou as portas há décadas.
Um documento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) do começo dos anos 1980 reforça a teoria dos mais antigos. Nele, estão indicados os itinerários de diversas linhas. À época, o chamado Circular T 100 (atual C3, que, segundo usuários, também foi chamado de T Urca) tinha como ponto de partida a Avenida Júlio de Castilhos, seguido de um parênteses: Urca.
Funcionário aposentado de uma empresa que funcionava em um dos prédios em frente ao ponto e cliente da churrascaria na década de 1970, Renildo Baldi diz que o local era referência na região: como ficava aberto dia e noite, recebia os mais diversos públicos, desde os empregados das imediações até as prostitutas e frequentadores dos cabarés na madrugada. O morador do bairro Rio Branco não sabe dizer, porém, se o nome da linha tem relação com a churrascaria famosa.
— Ia gente da alta sociedade, de vestido longo, e também ia prostituta e contrabandista. Era bem democrática, um lugar da Porto Alegre boêmia — lembra.