A cada pronúncia do verbo to be – ser ou estar, em português –, o professor Fernando Campos da Rosa, 64 anos, elogia o grupo de sete alunas:
– Vocês estavam na Inglaterra? Estão indo muito bem.
O incentivo não é à toa. Ao mesmo tempo em que Fernando se esmera em ensinar inglês em um quadro negro de pouco mais de um metro quadrado, as alunas, que têm entre 60 e 80 anos, também não poupam esforços para aprender.
Há dois meses, ele dá aulas de inglês e português todas as quintas-feiras para 12 mulheres do Grupo União de Idosos Alegria de Viver, do bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre.
Em pouco tempo de aula, as pupilas já sabem, além do verbo to be, pronunciar números, cores, meses e dias da semana na língua estrangeira. Tudo que ele escreve com letras grandes no quadro, repete até as alunas acertarem a pronúncia.
– No fim do ano, vou fazer uma prova e quem for bem vai ir visitar Meghan Markle (duquesa de Sussex, título que Meghan recebeu após o casamento com o príncipe Harry) – brinca o professor a cada acerto delas.
A presidente do grupo, Solange Argenti, conta que Fernando se ofereceu para dar aulas voluntárias na sede da associação, onde ocorrem outras atividades:
– Elas o adoram como professor. Ele é muito criativo. Além de bem-humorado, usa o violão nas aulas. Elas aprendem e se divertem, precisa ver o caderno delas, é um capricho. Eu defendo que, na velhice, as pessoas têm que sair para fora de casa, não ficar só em volta dos netos – diz Solange.
"Gosto de dividir"
Fernando é professor voluntário – já deu aula de inglês para crianças do Projeto Vó Chica, na Vila Safira – e tem gosto por ensinar. À tarde, trabalha como cobrador da Carris da linha T5. Na manhã fria de 24 de março, quando a reportagem visitou a associação, ele deu aula com o uniforme da empresa de ônibus. Dali, iria direto para o trabalho:
– O pouco conhecimento que eu tenho, gosto de dividir com as outras pessoas. Me sinto muito bem fazendo isso. Cada um fazendo sua parte, o mundo só vai melhorar.
A persistência do professor Fernando tem dado resultados. Lurdes Souto, 74 anos, não queria participar do curso até assistir a primeira aula:
– Com aulas em grupo, é mais fácil de aprender – comenta ela, já convencida de que não pode perder nenhuma aula.
Aliás, as estudantes só faltam por motivos de saúde. Todas são assíduas:
– A integração entre nós é muito boa, damos muita risada, saímos daqui de alma lavada – avalia Iara Alves, 71 anos.
Enquanto conversavam com a reportagem, houve quem já elogiou o professor usando palavras em inglês:
– O teacher (professor) é muito bom – divertiu-se Neri Fonseca, 75 anos.
Mexendo também a cabeça
No decorrer das aulas, as participantes vão se dando conta de que palavras em inglês estão presentes no dia a dia de todas elas, em comerciais de TV e outdoors:
– Se estou fora daqui, vejo uma palavra e não sei o que significa, procuro no dicionário. Para envelhecer bem, não é preciso só mexer o corpo, mas a cabeça também – orgulha-se Neri.
Ilusa Ramos de Souza, 69 anos, lembra que a persistência do grupo em aprender também se deve à dedicação do professor:
– Ele se dispõe a nos dar o tempo dele uma vez por semana, temos que fazer nossa parte.
Sobre o grupo
O Grupo União de Idosos Alegria de Viver também oferece cursos de dança de salão, artesanato e informática. Promove, ainda, encontros com nutricionista do Banco de Alimentos, terapeuta e fisioterapeuta. Interessados podem entrar em contato pelo telefone (51) 3110-6794.