O motorista dirige desviando dos buracos no asfalto. O ciclista quase some no meio da grama alta. O pedestre perde a hora se depender dos relógios de rua. E todos, independentemente do meio de transporte, correm risco ao percorrer ruas escuras à noite.
Problemas em serviços tidos como básicos são alvo de muitas reclamações de moradores de Porto Alegre, dando um aspecto de abandono à capital gaúcha. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta quarta-feira (14), o prefeito em exercício de Porto Alegre, Gustavo Paim, apontou a situação financeira da cidade e a burocracia como as principais causas. Enquanto não houver equilíbrio das contas públicas, disse, a tendência é de que os problemas continuem.
— A situação financeira estrutural de Porto Alegre é muito ruim. E é lógico que, enquanto não conseguirmos equacionar essa situação, problemas de prestação de serviços nós teremos — ponderou o vice-prefeito, que está na chefia do Executivo durante viagem de Nelson Marchezan a Israel.
Apesar das dificuldades, o prefeito em exercício garantiu que 2017 fechou com uma redução de R$ 600 milhões no déficit das contas. Contudo, os cortes ainda não foram suficientes para equilibrar a balança.
Com base nas queixas recebidas, entre outros, por meio das redes sociais e no aplicativo Pelas Ruas, GaúchaZH elencou sete questões que saltam aos olhos da população. As questões serão acompanhadas ao longo do segundo ano de gestão de Nelson Marchezan.
CAPINA
No último semestre, a cidade foi tomada pelo mato. O serviço de capina em calçadas e canteiros ficou paralisado por quatro meses, entre setembro – quando expirou o contrato emergencial – e janeiro. A Cootravipa foi a vencedora da nova licitação, em contrato com validade de 12 meses e possibilidade de renovação por mais quatro anos.
Mas mesmo com nova gestão do serviço, a retomada dos trabalhos não ocorreu a todo vapor. Segundo a prefeitura, foram capinados apenas 900 quilômetros em janeiro, menos da metade do previsto para o mês. O prefeito em exercício ressalta:
— Temos uma expectativa de que, para final de março, abril, a gente já tenha uma situação de normalidade.
BURACOS
Seja nas calçadas ou na pista de rolamento, a buraqueira está entre as reclamações mais recorrentes pelo aplicativo Pelas Ruas. O problema não está restrito a bairros mais afastados – nesta quarta-feira (14), GaúchaZH registrou um buraco que revelava pedras de paralelepípedo na base da Avenida Ipiranga.
O prefeito em exercício disse que o problema é muito maior do que os porto-alegrenses podem ver. Isso porque há buracos causados por questões estruturais, de saneamento e drenagem:
— Isso é mais profundo e não adianta recapear, que o buraco vai aparecer. O plano de saneamento da cidade prevê como necessário mais de R$ 3 bilhões, que significa mais de um ano de receitas próprias.
Sobre a urgência de algumas vias, como das avenidas Ipiranga e Assis Brasil, por exemplo, Paim disse que os reparos seguem uma programação:
— Serviço público não é feito ao acaso. Tem que analisar dentro da escala de prioridades.
RELÓGIOS DE RUA
Os relógios de rua de Porto Alegre foram desativados em julho de 2015. A prefeitura precisa fazer licitação do item — ela estava prevista ainda para o ano passado, mas foi adiada. No início de 2016, uma concorrência para a implantação de placas, relógios de rua, abrigos de paradas de ônibus, totem de estação de corredor e mobiliário urbano para informações não teve interessados. Foi feita uma nova tentativa, reunindo as placas aos relógios, mas o certame foi suspenso ainda em 2016.
A nova gestão lançou na internet uma consulta pública sobre a localização dos 168 pontos de Porto Alegre que receberão os novos relógios digitais de rua, e o secretário de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, acredita que as contribuições serão divulgadas na próxima semana com as análises da pasta.
— Está caminhando. Continuo com a expectativa de que, até o final de março, a gente consiga ter licitação — diz o secretário.
Além de informar hora e temperatura, os novos equipamentos devem ter câmera de vigilância e wi-fi gratuito.
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
Se já é alta a criminalidade durante o dia, à medida que cai a noite, aumenta a sensação de insegurança em Porto Alegre. E em ruas com lâmpadas queimadas ou que faltam postes, a situação é ainda mais crítica.
A gestão Nelson Marchezan promete a criação de uma parceria público-privada (PPP) para a iluminação pública. Bruno Vanuzzi relata que, nos meses de janeiro e fevereiro, a prefeitura está trabalhando nos possíveis modelos econômico-financeiros. Março, segundo Vanuzzi, será marcado por decisões políticas:
— Vamos terminar de desenhar dois ou três modelos possíveis com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e, em março, faremos uma reunião com prefeito e secretários, na qual a gente escolhe qual é o melhor modelo de PPP.
A licitação deve sair no início do segundo semestre, conforme o secretário.
PLACAS COM O NOME DAS RUAS
Em um giro pela cidade, no ano passado, GaúchaZH constatou que faltam placas com nome de rua da Zona Norte à Zona Sul, além de uma parcela danificada ou escondida. E, desde então, a situação só regrediu, uma vez que o município segue sem ter quem faça a instalação ou a substituição das toponímicas. O contrato para o serviço se encerrou há mais de três anos.
Bruno Vanuzzi relata que, na última quinta-feira (8), a Secretaria de Parcerias Estratégicas recebeu autorização do prefeito para começar a trabalhar a licitação do serviço. Ficou acordado que, nas próximas semanas, a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana vai aprimorar o cadastro dos cruzamentos. A ideia é substituir todos os conjuntos e contemplar novos pontos, totalizando cerca de 40 mil conjuntos, de acordo com informações preliminares.
PARADAS DE ÔNIBUS
Outro item importante do mobiliário urbano que está dependendo de licitação são os abrigos de parada de ônibus. Bruno Vanuzzi afirma que, na semana passada, junto a representantes das secretarias da Fazenda, de Infraestrutura e Mobilidade Urbana e de Meio Ambiente, fez uma reunião para explanar ao prefeito Nelson Marchezan como foram as licitações anteriores. Vanuzzi afirma que esse item do mobiliário urbano tem uma "dificuldade mercadológica bem consistente".
— Estamos em um período de reflexão sobre o melhor modelo de integração do setor público ao setor privado, porque abrigo de ônibus é um investimento muito caro que precisa ser feito.
Ele pondera que há um projeto de lei tramitando na Câmara a respeito do assunto, apresentado em dezembro.
AÇÕES PARA MORADORES DE RUA
A população de rua em Porto Alegre aumentou 75% em oito anos – se em 2008 eram 1.203 pessoas, em 2016 subiu para 2.115. Embora não haja levantamento atualizado, em 2016 e 2017, "sem dúvida", houve um acréscimo de pessoas nessa situação, como admite Gustavo Paim. No começo de fevereiro, GaúchaZH contou 23 casas de moradores de rua às margens do Arroio Dilúvio, sete a mais do que havia sido observado em reportagem há dois anos.
No ano passado, Maria de Fátima Paludo deixou o cargo de secretária de Desenvolvimento Social quando sua proposta para desocupar e revitalizar o Viaduto Otávio Rocha, tomado por moradores de rua, foi freado por Marchezan – que desejava uma iniciativa mais abrangente para a cidade a ser desenvolvida apenas a partir do ano que vem. Em dezembro, a Secretaria Municipal de Saúde recebeu a incumbência de gerir um plano para pessoas em situação de rua em toda a cidade. Segundo Gustavo Paim, essa questão tem sido trabalhada com um grupo multidisciplinar composto por várias pastas. A ideia é traçar um panorama completo desse problema social para poder atacá-lo. Mas ele não dá prazo para que comecem a ser percebidas algumas mudanças.
— Estamos fazendo reuniões periódicas. Acredito que, em breve, teremos o diagnóstico.
Algumas queixas dos leitores
"Faz exatamente três meses que este buraco esta aqui. Marquês do Herval com Dr. Timoteo", Marcelo Granato, Moinhos de Vento, pelo app Pelas Ruas.
"Água potável escorrendo desde a semana passada! Descaso total com a nossa água! Absurdo!", Kelly Riboli, Medianeira, pelo app Pelas Ruas.
"A capina me chamou atenção quando na frente da PUC um ciclista meio que sumiu entre o capim que acompanha a ciclovia.", Dinha Costa, via Twitter.
"Ruas esburacadas e sem sinalização (vários cruzamentos sem os nomes das ruas). Não há alguma medida que a prefeitura e o governo do Estado possam tomar para oferecer abrigo aos moradores de rua?", Roberto e Alice, via Twitter.
"Falta mais a iluminação da cidade e dos parques, após o temporal que devastou a iluminação nova do Marinha, ninguém pensou em arrumar e vive na escuridão!", Rafael Corrêa, via Twitter.
"Mato alto, esquina descuidada na Alberto Pasqualini.", Katita Hirt, Jardim Sabará, no app Pelas Ruas.
"Coleta seletiva: A empresa recolhe aleatoriamente o lixo. Hoje novamente não recolheram o meu, mas recolheram ao lado. Ambos embalados.", Milton Bambini, Petrópolis, pelo app Pelas Ruas.
"Dois buracos na calçada em frente à Escola Visconde de Pelotas.", Osvaldo Mora, Auxiliadora, pelo app Pelas Ruas.