Você sabe o nome das ruas que se encontram em frente ao Monumento ao Expedicionário, na Redenção? Se não sabe, não vai adiantar procurar a resposta em um poste na esquina. O entroncamento da Santana com a Avenida José Bonifácio não tem placas toponímicas – aquelas azuis que informam nome de rua. E se não há nem em um ponto que serve de referência a moradores e turistas, imagine em vias como a Marechal Mesquita, no Teresópolis, ou nos pouco mais de 500 metros da Martim Ferreira de Carvalho, no Sarandi.
– Sai da área central pra tu ver. A gente sofre – diz Valter Ferreira da Silva, presidente do Sindicato dos Motociclistas do RS (Sindimoto-RS).
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Em um giro pela cidade, ZH constatou que faltam placas com nome de rua da Zona Norte à Zona Sul, além de uma parcela danificada ou escondida. Mesmo com a supremacia do GPS, ainda é um problema que incomoda.
A aposentada Norca Schiaffino, 68 anos, considera "um perigo" procurar endereços com o smartphone na mão, em razão da violência em Porto Alegre. As placas ainda podem fazer muita falta a quem não tem condições de ter essa tecnologia, ou mesmo a familiaridade com ela, ou então para checar se o endereço apontado pelo GPS confere.
– Quando não tem nem nome nas ruas, dá uma sensação de abandono – acrescenta a cozinheira Neidi Fagundes Rodrigues, 36 anos.
Atualmente, a Capital não tem quem faça a instalação ou a substituição das placas. Diretor-presidente da empresa que desempenhou esse papel por duas décadas, Dannie Dubin conta que o contrato se encerrou há três anos.
A prefeitura pretende lançar uma licitação específica para o item ainda neste ano, após o processo dos relógios de rua. O secretário de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, explica que a empresa vencedora deve instalar as placas e fazer a manutenção, obtendo receita por meio de publicidade (o governo anterior não queria permitir nenhum tipo de publicidade). A ideia é que ela substitua todas as toponímicas e contemple novos pontos, totalizando cerca de 44 mil placas.
O secretário diz que essa estimativa precisa ser verificada pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que apontará locais e tipo de conjunto toponímico indicado para cada um – conforme questões de trânsito, as placas podem ser fixadas em postes ou paredes.
No início de 2016, uma licitação única para a implantação de placas, relógios de rua, abrigos de paradas de ônibus, totem de estação de corredor e mobiliário urbano para informações não teve interessados. Foi feita uma nova tentativa, reunindo as placas aos relógios. O certame foi suspenso ainda em 2016 e deve ser revogado pela prefeitura, segundo o secretário.
O que a reportagem constatou
Na Zona Norte, uma placa nas alturas
É possível entrar e sair da Martim Ferreira de Carvalho, no bairro Sarandi, sem a menor ideia do nome da rua – assim como das vias que cruzam por ela. Depois de algum tempo procurando, encontramos uma única placa no final da via, perto da esquina com a Francisco Silveira Bitencourt. E ainda assim foi preciso olhar em direção ao céu para localizá-la: estava perto do topo de um poste de luz, a pelo menos quatro metros de altura.
Morador do bairro, o operador industrial Luiz Fernando Silva de Oliveira, 47 anos, não a viu – e admitiu que não sabe como se chama a via.
– Está faltando. Se andar nas proximidades, você não vai achar – resigna-se o morador. – Sou de Cachoeira do Sul, uma cidade pequena, com tudo bem localizado. Daí quando a gente vem para uma cidade grande, fica perdido.
Oito placas quebradas em trecho de dois quilômetros da Farrapos
Em uma das principais ligações da Zona Norte ao Centro, o problema não é encontrar as placas e, sim, conseguir ler o que está escrito nelas. Em um trecho de dois quilômetros da Avenida Farrapos, entre a Guido Mondim e a Comendador Coruja, contamos oito placas quebradas ou ilegíveis em razão de desgaste.
Falta de placa de rua é um problema que pode passar despercebido – até o momento que você precisar delas. Moradora da região da Farrapos, a estudante Andressa Lamel, 21 anos, não havia reparado que as placas estavam quebradas – por conhecer bem o bairro, ainda não havia precisado recorrer às placas de esquina. Mas quando está em um bairro desconhecido da cidade, ela não arrisca mais: utiliza sempre o GPS.
Problemas em grandes avenidas
Quando se trata de grandes avenidas, a Farrapos não é a única com problemas. A reportagem também sentiu falta dos nomes de rua em vários cruzamentos nas avenidas Saturnino de Brito, do Forte e Benno Mentz, nos bairros Vila Jardim e Vila Ipiranga.
Quanto mais o motorista dirige rumo à Zona Leste, na Avenida Protásio Alves, mais raros vão ficando os conjuntos de esquina. Além disso, na Avenida Osvaldo Aranha, há placas quebradas nos cruzamentos com a Setembrina e a Paulo Gama, além de uma placa escondida atrás de um poste e de um semáforo para pedestres no cruzamento com a Sarmento Leite.
Em rua da Zona Sul, metade dos cruzamentos carece de informação
Avançar em direção à Zona Sul não significa que vai ficar mais fácil se localizar. No bairro Teresópolis, a reportagem percorreu os cerca de 900 metros da Rua Marechal Mesquita, da Clemenciano Barnasque à Avenida Sergipe. Três dos seis cruzamentos não tinham a devida identificação.
A enfermeira Aira Nascimento Alves, 51 anos, moradora do bairro Cascata, já havia reparado que há um déficit dessas placas pela Capital.
– Mais em direção ao sul, já aconteceu de eu me espichar e não achar o nome da rua – relata.
Ela ressalta que, mesmo em época de GPS, ainda é necessário ter preocupação com as toponímicas:
– Para mim, não é algo dispensável.