É a necessidade que mantém a professora Janina Antonioli, 35 anos, usuária do transporte público de Porto Alegre. Circular de ônibus ainda é opção mais barata para a moradora da Cidade Baixa ir até a Zona Sul e a Zona Leste, onde leciona em duas escolas. O desconforto das viagens, porém, torna a escolha cada vez menos compensadora.
— Os ônibus são muito barulhentos. Parece uma coisa boba, mas tu chega no trabalho, depois de uma hora, já com cansaço mental. O sistema parece que não para atender o usuário, é só para dizer que o serviço existe. Meus alunos vêm da Restinga e contam que o ônibus já sai de lá completamente lotado. Mas até o Centro ainda vão entrar muitas pessoas. Como ele sai de lá já lotado? — questiona a professora.
Para Janina, a solução para não sucumbir à rotina desagradável no transporte é fugir dos coletivos sempre que possível. Em dias de chuva, quando os ônibus ficam ainda mais lotados e chegar em casa sem se molhar beira o impossível, divide a viagem de carro por aplicativo com colegas. As atividades pessoais, no entorno de casa, são feitas quase sempre a pé.
Superlotação e ônibus desconfortáveis estão entre os fatores determinantes na hora de o usuário que tem a chance optar pela mudança de modal. No estudo realizado pela CNT, um terço das pessoas que deixaram de usar o ônibus apontaram o baixo nível de conforto como uma das razões para abandonar o sistema.
Previstas no edital de licitação das empresas que operam na Capital, algumas melhorias, como a instalação de ar condicionado e a renovação anual de parte da frota tem sido postas em prática. Ainda, assim, não dão conta de manter os cerca de 1,7 mil veículos da frota nas condições ideais. Conforme a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), mais de um terço dos ônibus conta com ar condicionado, e cerca de 300 coletivos estão testando o reconhecimento facial, para evitar fraudes. Mais de 1,2 mil ônibus possuem acessibilidade para cadeirantes.
Para o problema mais recorrente e um dos campeões na lista de reclamações dos usuários, porém, não há previsão de melhora. Segundo o diretor-executivo da ATP, Gustavo Simionovschi, a superlotação é "normal" nos horários de maior movimento.
— Com certeza, hoje os ônibus estão menos lotados que no passado. No horário de pico, sempre vai ter a lotação dos veículos. Para resolver isso, teríamos de colocar mais ônibus, mas colocar mais ônibus significa aumentar custo sem produzir serviço — argumenta.
GaúchaZH ouviu passageiros, especialistas e consultou dados do setor e mostra os motivos da crise, sua influência na vida da Capital e quais são as possíveis soluções para evitar seu aprofundamento. Clique e entenda:
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