O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Marcelo Soletti, admitiu que o sistema de ônibus de Porto Alegre está longe do ideal mas, apesar das falhas, as empresas de transporte não sofrem punição. O gestor criticou a falta de discussão na Câmara Municipal sobre os projetos do Executivo que extinguem benefícios, e sinalizou que a tarifa deve subir em 2018. Leia os principais trechos da entrevista.
Por que cai o número de usuários de ônibus?
É um somatório: temos a crise econômica, a questão da qualidade, a questão da segurança... O passageiro, a partir das 21h, caiu muito. E também tem a questão da oferta: tem desconto no app, tem desconto no táxi, ciclovias melhores, Bikepoa a R$ 10 por mês. Tem alternativas. Além disso, ainda existe a facilidade na compra de carro e motos: taxam o transporte coletivo e financiam compra de moto e carros.
Como a EPTC avalia o sistema de ônibus da Capital?
Ele precisa melhorar bastante. Está devendo em questão de qualidade, e isso se mostra no número de autuações (6,1 mil por atrasos em viagens até novembro). Não está como a prefeitura deseja nem conforme o usuário merece. A gente espera que melhore. A qualidade é importante para que as pessoas voltem a usar o ônibus. A tarifa aqui é R$ 4,05. Se a pessoa começa a medir a qualidade, ela faz outra escolha.
As empresas estão sendo punidas por mau serviço?
Não. Elas são autuadas. No futuro, elas poderão ser penalizadas em cima do valor da compensação tarifária. Quem não atender bem poderá perder um percentual do que receberia: uma parte vai para outra empresa, que prestar um serviço melhor, e o restante, para a tarifa. A partir do ano que vem, já vamos ter essa distribuição de acordo com o índice de qualidade.
A tarifa de Porto Alegre é a segunda mais cara entre as capitais. Vai aumentar mais?
Temos um edital, um calculo tarifário previsto. A regra vai ter que ser cumprida. Porto Alegre tem um índice alto de isentos. Realmente, nossa tarifa tem um porquê de ser mais cara. Em São Paulo, a prefeitura subsidia, em Curitiba também. No Brasil inteiro, tem algum tipo de subsidio. Temos a isenção do ISS, que dá R$ 0,10 de desconto, mas é o único item, e é um subsídio indireto. É uma discussão da cidade. Em algum momento, a Câmara vai ter que olhar e discutir. Para o ano que vem, vamos aplicar a planilha tarifária. Teve um aumento de diesel de 22%, uma queda de passageiros de mais de 10%. É um cenário de aumento.
Há outra forma de financiamento do sistema em estudo?
Há uma discussão no Brasil inteiro, é um projeto de lei que está no Senado, de cobrar uma taxa sobre gasolina e álcool, que seria revertida para a tarifa. Mas não é um esforço só que vai reduzir o impacto.
Que medidas estão sendo tomadas para melhorar a qualidade?
Temos os índices de medição de qualidade, algo que antigamente não se tinha. E mais fiscalização das isenções: reconhecimento facial, câmeras e GPS.
Qual é o futuro dos ônibus em Porto Alegre?
Temos de melhorar políticas de incentivo, priorizar as faixas exclusivas. O futuro também passa pela discussão da tarifa, para que ela não faça competição com as alternativas de transporte. Precisa ser menor. Passa por dar qualidade sem subir tanto a tarifa, mantendo ou conseguindo reduzir ela. Mas não está fácil.
GaúchaZH ouviu passageiros, especialistas e consultou dados do setor e mostra os motivos da crise nos ônibus, sua influência na vida da Capital e quais são as possíveis soluções para evitar seu aprofundamento. Clique e entenda:
Como a sensação de insegurança tira passageiros dos ônibus
Ficou caro andar de ônibus : como a tarifa afugenta passageiros
Facilidade em comprar veículos acelera a fuga dos ônibus
Horas perdidas à espera de um ônibus: a demora que tira passageiros do sistema
Ar, balinha e preço baixo: aplicativos de transporte são novo risco para ônibus
Lotado, quente e em pé: como a falta de conforto retira passageiros dos ônibus
Como os atrasos levam passageiros a desistirem de andar de ônibus
"Se a pessoa medir a qualidade, faz outra escolha", diz diretor-presidente da EPTC