Usuária do sistema de ônibus durante toda a vida, a bancária Cristiane Bordin Teles aboliu de vez as viagens diárias ao trabalho no fim de março deste ano. O motivo foi o trauma ocasionado por um assalto à linha 610-Jardim Lindoia quando rumava para a agência onde atua, por volta das 10h. Em seu trajeto de cerca de 10 minutos, um homem armado anunciou o assalto, pegou o dinheiro do caixa e o celular de todos os passageiros.
Moradora da zona norte da Capital, Cristiane tentou seguir utilizando o coletivo para realizar seu deslocamento. Mas a ansiedade fez com que buscasse uma alternativa: recorreu aos aplicativos de transporte para ir ao trabalho.
— Os aplicativos são a minha sorte: como meu trajeto é curto, gasto entre R$ 8 e R$ 10, e na volta pego carona, então consegui substituir. Se eu tivesse certeza de que não vai acontecer de novo, voltaria para o ônibus, porque é mais rápido. Mas e o medo? Nunca ninguém tinha apontado uma arma para mim — relata.
Assaltos a coletivos estão longe de ser incomuns na Capital. Somente entre janeiro e outubro deste ano, foram registradas quase 1,3 mil ocorrências, somando ônibus e lotações — uma média de quatro por dia. Apesar disso, o cenário é melhor que o de 2016 quando, no mesmo período, já havia quase 1,9 mil registros de roubo no transporte coletivo.
— Nada é seguro, infelizmente. Estamos vivendo no caos. Mas acho que andar de ônibus em Porto Alegre é tranquilo. É cinco vezes mais seguro que andar de carro, que tem entre 20 e 30 ocorrências de roubo por dia — avaliou o delegado Alencar Carraro, um dos coordenadores da força-tarefa criada para identificar e prender suspeitos de assaltos no transporte coletivo.
A integração entre Polícia Civil, Brigada Militar, EPTC e empresas de ônibus tem dado resultado: pessoas já foram presas desde o começo dos trabalhos, no ano passado. Embora os números estejam melhores, no entendimento de especialistas, a sensação de insegurança de um modo geral também influencia nas escolhas dos passageiros, desetimulando o uso do ônibus.
— Hoje o medo não é só de andar de ônibus. É de caminhar várias quadras, esperar o ônibus na parada, correndo o risco de ser assaltado. As pessoas não querem se expor — diz a mestre em engenharia de transportes Nívea Oppermann.
GaúchaZH ouviu passageiros, especialistas e consultou dados do setor e mostra os motivos da crise nos ônibus, sua influência na vida da Capital e quais são as possíveis soluções para evitar seu aprofundamento. Clique e entenda:
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