Viagens muito longas, especialmente em um transporte já afetado por outros problemas, são um argumento a mais para quem tem deixado o ônibus por outros modais de deslocamento no Brasil. Segundo dados da pesquisa realizada pela CNT, mais de um quarto dos usuários que trocaram o ônibus por outros modos de transporte em 2017 citaram as viagens longas como razão para terem migrado.
— Às vezes, o deslocamento que o usuário faz de ônibus, em carro, moto ou bicicleta, é muito mais rápido. Economiza tempo e, no caso da bicicleta e da moto, que tem um custo de combustível mais barato, se tornam opções acessíveis a uma boa parcela da população —avalia o professor Pastor Willy Gonzales Taco.
Em centros urbanos com menos de 3 milhões de habitantes, como é o caso de Porto Alegre, estima-se que os usuários levem, em média, 30 minutos em cada viagem de ônibus. A realidade, porém, pode ser ainda mais cruel em horários de pico. Com um grande número de automóveis nas vias e poucas faixas exclusivas, os ônibus tornam-se cada vez mais lentos — e, por consequência, menos atrativos a quem tem acesso a outros meios de transporte.
Pessoas que precisam fazer vários deslocamentos ao longo do dia são especialmente prejudicadas pela demora. Para o engenheiro Guilherme Barcelos, que atua como profissional liberal, a perda de tempo foi um dos fatores determinantes para trocar a lotação pelo carro.
— Andei de ônibus a vida inteira, mas hoje tenho a possibilidade de fazer uma escolha. Fui abandonando a ideia porque o sistema não funciona. Se eu tiver que ir em três locais de ônibus, não faço mais nada naquele turno. Passo mais tempo esperando na parada ou trancado dentro do ônibus — reclama.
Os custos também compensaram a troca. Para distâncias curtas, o gasto com combustível mostrou-se mais vantajoso, em torno de R$ 3. Já os trajetos mais longos são ponderados: quando precisa pagar estacionamento, opta pelo lotação. Em alguns casos, aproveita a mesma viagem para dar carona aos filhos.
— Nos organizamos e nos livramos do ônibus. Se as pessoas colocarem na ponta do lápis, ninguém anda de ônibus, porque não compensa. É caro, ruim, de péssima qualidade — opina.
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