Foi no cansaço que o transporte individual ganhou espaço na vida de Thiago Dorneles, 28 anos. Deixar a faculdade mais ou menos no mesmo horário todos os dias já não era garantia de conseguir um ônibus para voltar para casa, na Vila Nova, em Porto Alegre. Foi então que, em novembro passado, adquiriu uma moto.
— Teve um dia em que me cansei. Saía da faculdade às 22h30min, ia para a parada de ônibus, mas às vezes tinha de esperar até a meia-noite para conseguir voltar para casa. Resolvi buscar um meio de locomoção mais fácil, porém perigoso. Ainda não deixei de correr risco. Mas ainda assim vejo mais vantagem em andar de moto — conta o técnico em informática.
Dorneles gasta mais agora, já que para andar de ônibus, recebia vale-transporte e hoje tem de pagar gasolina e prestação da moto. Estima despender cerca de R$ 750 por mês. Acredita, porém, que ganhou algo mais valioso:
— De ônibus, levava em torno de 35 minutos para me locomover. Com a moto, às vezes chego em menos de 25 minutos. Compensou porque a moto me dá mais liberdade para ir a qualquer lugar. Ganhei mobilidade — avalia.
Justamente a facilidade de parcelar sua moto é uma das razões que explica porque tanta gente abandona o sistema de transporte coletivo. Anos de políticas de incentivo à indústria automobilística nacional para facilitar o acesso a carros e motos causaram um aumento de 10,2% na participação do transporte individual nos deslocamentos dos brasileiros em 11 anos. A frota, nas ruas, cresceu 160,4% entre 2000 e 2016 — passou de 20 milhões para mais de 52 milhões de automóveis e utilitários. O caso do técnico em informática da Capital faz parte de um processo de expansão ainda mais expressivo: o crescimento da frota de motocicletas e motonetas foi de nada menos que 520% entre 2000 e 2016 — de 3,9 milhões para 24,9 milhões. Conforme o estudo nacional, 7,8% das pessoas que deixaram de usar o ônibus optaram pela moto para realizar seus deslocamentos.
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