O sistema de transporte coletivo em Porto Alegre perdeu aos poucos a advogada Ana Contessa Pinto, 37 anos. Primeiro foi o ônibus. Como a tarifa, na época, era semelhante à da lotação, o conforto maior passou a fazer a diferença em seus deslocamentos do bairro Menino Deus, onde mora, até o Centro Histórico.
Então chegaram os aplicativos de transporte, em 2015, e a qualidade um pouco melhor no serviço das lotações mostrou-se insuficiente. Mesmo com benefícios como o ar condicionado, Ana ainda não se sentia segura para circular com seus pertences no coletivo.
— Os aplicativos foram a melhor coisa que me aconteceu. Na lotação não dava para levar celular, bolsa, tinha que levar o dinheiro contado. E a tarifa subiu muito, está muito cara. Por um pouco mais, pego um Uber e vou tranquila — relata a advogada, que gasta, em média, R$ 8 pela viagem que custava R$ 6 no transporte público.
Embora respondam por uma fatia ainda pequena das pessoas que migraram do ônibus para outros modais — pouco mais de 2%, segundo os dados coletados pela CNT —, os aplicativos de transporte como Uber, Cabify e 99Pop já se apresentam como concorrência ao transporte coletivo. Em especial às lotações, cujo valor aproxima-se do que é praticado nos apps em distâncias mais curtas. Em um deles, o valor mínimo de uma corrida é R$ 5 — R$ 1 mais barato que a tarifa de lotação.
Para uma fatia da população que possui boa renda, mas não quer ou não pode utilizar um veículo próprio, os apps, quando não assumiram o lugar do ônibus, viraram a primeira alternativa. A mudança é mais evidente em situações onde as pessoas se sentem mais expostas a riscos, como as viagens noturnas — turno em que é comum ver coletivos circulando vazios pela cidade. O conforto e a flexibilidade de itinerário e de horários também proporcionam a sensação de que o investimento, ainda que um pouco maior do que os coletivos, compensa.
Uma consulta rápida basta para mostrar que um trajeto curto pode valer mais a pena pelas plataformas virtuais: das imediações do Praia de Belas Shopping até o Mercado Público, ou da Santa Casa de Misericórdia até a Rodoviária, por exemplo, uma viagem custa em torno de R$ 7 pelos aplicativos de celular. Ou seja, dividindo o custo entre dois usuários, a corrida já sai mais barata que uma viagem de ônibus. Além disso, a concorrência entre os apps faz com que, frequentemente, sejam divulgados códigos de desconto, que podem deixar as viagens mais baratas.
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