Há quem queira mais conforto, não suporte ônibus cheio, ache a passagem cara ou tenha medo de ser assaltado em um coletivo. Mas para muita gente que depende do transporte público, a gota d'água é uma questão fundamental, mais simples: não dá para confiar no sistema de ônibus de Porto Alegre.
Sete dos oito usuários e ex-usuários de coletivos entrevistados pela reportagem mencionaram os atrasos como um problema comum enfrentado por quem anda de ônibus na Capital. A percepção se reflete em dados: somente nos três primeiros meses de 2017, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) emitiu 1.750 autuações para as empresas de ônibus devido a descumprimentos da tabela horária.
— Esses dias fui pegar meu carro no mecânico. Fiquei esperando na parada, 20 minutos, meia hora, e nada. Acabei pegando um lotação, que foi o primeiro que apareceu — conta o engenheiro Guilherme Barcelos, que depois de anos andando de ônibus, optou por usar prioritariamente o carro para se deslocar.
Criado pelo mandato da vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) no começo do ano, o app Fiscaliza Tu, que reúne denúncias de problemas no transporte público de Porto Alegre, mostra que o incômodo é recorrente. Campeões entre os relatos dos usuários, os atrasos representam mais de 51% do total de denúncias, com quase 500 ocorrências — seguidos da superlotação nas linhas, outro problema frequente.
A realidade nacional não é diferente: para mais de 20% das pessoas que disseram ter trocado o ônibus por outros meios de transporte em 2017, segundo a CNT, os atrasos recorrentes são um dos principais problemas do sistema. A ATP diz que se esforça para cumprir os horários estabelecidos, mas admite que nem sempre os coletivos conseguem cumprir a tabela horária.
— A questão dos horários está sempre sendo regulada, mas nós também estamos ficando presos no trânsito. Mesmo que Porto Alegre tenha um grau bom de faixas exclusivas e corredores, eles representam apenas 7,2 % das vias em que os ônibus trafegam. De resto, estão no trânsito, como todos os automóveis. Que gestão nós temos sobre o trânsito? Nenhuma. Ele prejudica, e muito, o transporte — disse o diretor executivo da ATP, Gustavo Simionovschi.
GaúchaZH ouviu passageiros, especialistas e consultou dados do setor e mostra os motivos da crise, sua influência na vida da Capital e quais são as possíveis soluções para evitar seu aprofundamento. Clique e entenda:
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