A boa recuperação do presidente nas primeiras horas após a cirurgia de emergência que drenou um sangramento intracraniano, nesta terça-feira (10), motivou o governo a garantir a permanência de Luiz Inácio Lula da Silva no comando do Palácio do Planalto até a alta hospitalar, prevista para ocorrer em cerca de uma semana.
Segundo o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, um retrato mais preciso das condições de saúde deverá ser divulgado pela equipe médica entre quarta (11) e quinta-feira (12), período em que o presidente permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para observação. A hemorragia que motivou o procedimento é atribuída a um sintoma tardio da queda que Lula sofreu no mês de outubro.
Em entrevista à Rádio Gaúcha pela manhã, Pimenta informou que as agendas mais importantes seriam assumidas pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, sem a necessidade de receber a faixa presidencial.
— Em contato feito com o doutor Kalil (Roberto Kalil Filho, que costuma atender Lula), ele informou que dentro de 24, 48 horas, teria condição de nos informar de forma mais precisa a evolução da recuperação do presidente, inclusive com retorno a Brasília. Num primeiro momento, estamos trabalhando inclusive (com a perspectiva de) que não vai haver necessidade de afastamento formal do presidente — disse o ministro.
O vice, de fato, assumiu a recepção ao primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico. Outros compromissos, porém, como encontros com ministros de diferentes pastas, acabaram cancelados.
A internação de Lula ocorre em um momento sensível para o governo, em que o Congresso cobra a liberação de emendas parlamentares com regras menos rígidas do que as impostas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino para facilitar a aprovação do pacote de medidas fiscais encaminhado pelo Planalto. O presidente vinha buscando uma articulação entre os poderes para viabilizar um acordo.
A rotina palaciana mudou de rumo ao longo da segunda-feira, à medida que Lula começou a apresentar piora no quadro de saúde.
— Durante todo o dia, o presidente já vinha dando sinais de que alguma coisa não estava muito bem. Estive bastante tempo com ele, tivemos um despacho bem completo sobre muitas coisas e, em várias oportunidades, percebi que ele estava um pouco sonolento, um pouco cansado — complementou Pimenta.
Dor de cabeça sinalizou agravamento
Lula, 79 anos, começou a sentir uma forte dor de cabeça. Apesar do desconforto, cumpriu agendas previstas para o dia. Almoçou no Palácio da Alvorada e, embora tenha sido orientado a adiar uma reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu manter o encontro. Ao se despedir, Lula chegou a dizer a Lira e Pacheco que iria ao hospital Sírio-Libanês para exames "de rotina".
Na instituição, os médicos fizeram uma tomografia e, posteriormente, uma ressonância magnética para avaliar a possibilidade de a dor na cabeça ter relação com o processo de recuperação do acidente doméstico sofrido em 19 de outubro, quando caiu para trás e bateu a nuca enquanto cortava as unhas do pé.
Conforme o neurologista Rogerio Tuma, sangramentos tardios podem ocorrer em casos de traumatismo craniano.
— A tomografia já constatou um novo sangramento na região do cérebro. Um sangramento até mais importante. Foi submetido a uma ressonância magnética que comprovou o sangramento e, discutido com a equipe médica do doutor Rogério Tuma, se optou pelo procedimento cirúrgico — explicou o médico Roberto Kalil Filho, que costuma atender o presidente, em entrevista coletiva concedida no meio da manhã.
Lula foi transferido para São Paulo por volta das 22h30min de segunda e entrou na sala de operação à 1h30min já nesta terça-feira (10). Apesar de Lula ter batido a região da nuca na queda sofrida em outubro, o hematoma que motivou a operação se encontrava na região entre os lobos frontal e parietal — o frontal se localiza diretamente atrás da testa, e o parietal, atrás do frontal. O sangramento pode ocorrer em outros pontos porque, quando ocorre um choque, o cérebro "chacoalha" dentro do crânio e pode levar a hemorragias em diferentes áreas.
A cirurgia, considerada de baixa complexidade, se estendeu por quase duas horas. Segundo os médicos, foi feita uma pequena perfuração no crânio. Por meio desse orifício, foi passada uma sonda que alcançou o hematoma e drenou o sangramento.
— Ele (hematoma) foi removido, e o cérebro está descomprimido e com as funções neurológicas preservadas — garantiu o neurocirurgião Marcos Stavale.
Por precaução, o presidente ficará internado na UTI por pelo menos 48 horas ainda com o dreno. A expectativa é de que deixe a UTI e siga para um quarto, de onde deverá ter alta na próxima semana.