O afastamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ao menos uma semana – conforme o médico Roberto Kalil – tem um efeito colateral indesejado: a difícil tramitação do pacote de corte de gastos no Congresso não contará com sua conhecida capacidade de negociação.
Por ora, o que se sabe é que o vice-presidente Geraldo Alckmin vai assumir as agendas de Lula, mas ainda não há sinais de que passará a exercer a Presidência. Alckmin é hábil, mas não tem a mesma destreza do titular, especialmente com, digamos, uma audiência mais difícil.
Nos últimos dias, ficou claro que Lula havia contratado uma crise, ainda que temporária, quando desidratou o pacote de corte de gastos e inclui uma informação fora de tempo sobre isenção de impostos de renda para quem ganha até R$ 5 mil.
É bom lembrar que a ambição do governo é aprovar os cortes de gastos ainda neste ano. Afinal, boa parte das medidas precisa entrar em vigor em 2025 para que já possa descomprimir o orçamento do próximo ano.
Os médicos deixaram claro que Lula não teve ou terá qualquer comprometimento da função cerebral, mas deve ter de ficar hospitalizado até o início da próxima semana. Havia expectativa de que a Câmara pudesse votar o pacote de corte de gastos até a quinta-feira (12), para que o Senado pudesse apreciar na semana seguinte, antes do Natal.
Seria uma boa forma de o Congresso mostrar solidariedade com o momento delicado da saúde presidencial se mantivesse as agendas. Mas não é desprezível o risco de que, na ausência de um adversário à altura, o resultado das votações não seja exatamente o desejado pela equipe econômica. E não no sentido de robustecer o pacote, mas de desidratá-lo ainda mais, dada a natureza também delicada de algumas medidas.
Os presidentes da Câmara e do Congresso têm boa relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas Haddad tem um perfil mais parecido com o de Alckmin do que com o de Lula. Por isso, o destino do pacote de corte de gastos, agora mais do que antes, é uma incógnita. Neste dia de inquietação com a saúde presidencial, o dólar abriu em ligeira baixa, mas ainda na faixa de R$ 6.