A terceira posse de Nicolás Maduro na presidência da Venezuela teve todos os ingredientes que transformam o país de ditadura envergonhada para ditadura escancarada. Houve quebra constitucional para permitir a terceira eleição – esse tipo de intervenção também é golpe, quando é na Venezuela se entende melhor? – manipulação do resultado eleitoral e, para culminar, a prisão da líder da oposição na véspera.
Então, por que boa parte dos que se horrorizam com a ditadura na Venezuela quer repetir esse regime no Brasil? Essa é uma questão para a qual não há sequer uma tese, quanto mais uma resposta, por ser simplesmente inexplicável.
Ainda assim, é uma pergunta que se impõe no calor dos fatos na Venezuela. O que exatamente ocorreu com a opositora María Corina Machado ainda é um mistério, porque fontes oficiais negam que ela tenha sido detida ou sequer abordada. Mas como esse é o comportamento típico das ditaduras – basta lembrar a saga da protagonista do filme Ainda Estou Aqui em busca de uma resposta sobre o destino do ex-deputado Rubens Paiva –, não tem credibilidade.
A jornalista que assina esta coluna também se horroriza com a ditadura na Venezuela. E na Coreia no Norte, na Nicarágua ou onde quer que se materialize. E, por isso, não deseja ver algo semelhante se repetir no Brasil, seja qual for a alegação.
Democracias não são perfeitas, como disse nesta semana o ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica. Ele lembrou:
— É fácil ter respeito por aqueles que pensam de forma parecida com a nossa, mas é preciso aprender que o fundamento da democracia é o respeito por quem pensa diferente.
Mujica está se despedindo da vida. Será que o mundo ensaia uma despedida dessa noção de democracia?