Como o IPCA, índice oficial de inflação no Brasil, fechou 2024 acima do teto da meta, em 4,83%, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi obrigado a escrever uma carta aberta explicando os motivos e se comprometendo com medidas para evitar que volte a ocorrer.
Nas justificativas, Galípolo apontou três principais causas da inflação: o "ritmo forte de crescimento da atividade econômica", a depreciação cambial e fatores climáticos (leia a íntegra clicando aqui). Dois desses fatores têm forte peso das decisões do governo Lula: o aumento de gastos acelerou o crescimento e hesitações em cortes de gastos pressionaram o câmbio.
Na carta, Galípolo afirma que "a significativa depreciação cambial decorreu principalmente de fatores domésticos, complementada pela apreciação global do dólar norte-americano". Esse trecho acentua a responsabilidade do governo Lula sobre o estouro da meta de inflação.
Para não deixar dúvidas, Galípolo coloca o alvo no lugar: "A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio".
Nas providências para que a inflação não volte a estourar, o presidente do BC reafirma a intenção de fazer mais duas elevações de um ponto percentual no juro básico. E confirma uma leitura do mercado: "Vários riscos se materializaram, tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões".
Também reiterando leituras do mercado, Galípolo projeta que "a inflação ficará acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta".
Para esclarecer
A carta de explicações dos presidentes do Banco Central são dirigidas ao presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN) porque é esse órgão que define a meta de inflação que o BC deve perseguir. Como quem ocupa esse cargo é o ministro da Fazenda, é o destinatário da carta, mas o documento é concebido como uma explicação à nação. Logo, Galípolo não dá explicações a Haddad, mas à população brasileira, que sofre o efeito da alta de preços.
Para lembrar
O sistema de meta de inflação foi adotado em 1999, depois da fracassada tentativa de controlar o câmbio. A meta de inflação do ano passado era de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Se não passasse de 4,5%, ficaria dentro do teto. Mas excedeu esse limite em 0,33 ponto percentual.
Neste ano, entra em vigor um novo formato de acompanhamento da inflação, a chamada "meta contínua", baseada nas melhores práticas internacionais. Em vez de cuidar apenas do fechamento do ano, a inflação em 12 meses é acompanhada a cada mês e avaliada de acordo com a meta e seu intervalo de tolerância.
Por outro lado, não tem prazo fixado para ser alcançada. O Conselho Monetário Nacional (CNM) não precisa mais definir a meta com dois anos de antecedência, como ocorreu até 2022. A mudança já foi adotada na maioria dos países que usam o regime de meta de inflação e o Brasil era considerado "atrasado" nesse avanço.
Estouros sucessivos
Nos últimos seis anos, só dois dentro da meta
2019 | 4,31%
2020 | 4,52%
2021 | 10,06%
2022 | 5,79%
2023 | 4,62%*
2024 | 4,83%
(*) na época, o teto era de 4,75%
Fonte: IBGE