A saúde de presidentes ou primeiros-ministros é um tema tabu - ainda mais em países onde o ódio tomou conta da política. Em condições normais de temperatura e pressão, não deveria ser. As condições físicas de qualquer cidadão são de âmbito privado. Não é o caso do comandante-em-chefe da nação, cuja saúde diz respeito à segurança do Estado.
Desde que a cirurgia de emergência do presidente Lula se tornou pública, a pergunta no imaginário da República diz respeito a como sua saúde impactará na sucessão em 2026. Nos Estados Unidos, Joe Biden, 82 anos, levou ao limite a exposição pública dos lapsos de memória que o impediram de seguir adiante na corrida eleitoral. Foi preciso um desempenho caótico em debate televisivo para que desistisse - tardiamente, aliás, o que impediu que sua vice, Kamala Harris, tivesse tempo de erigir, de forma consistente, sua candidatura.
No Brasil, Lula nunca permitiu a ascensão de novos nomes no PT - Dilma Rousseff e Fernando Haddad foram exceção, tendo sido este último uma espécie de candidato-tampão enquanto estava preso em Curitiba.
Segundo seus médicos, Lula, 79 anos, passa bem após a cirurgia no cérebro e deve se recuperar. Mas sua ausência em dias decisivos de pautas prioritárias para o governo no Congresso, como a aprovação do pacote fiscal, e de mudanças no primeiro escalão, por certo terão impactos políticos. A hospitalização emergencial serve para reflexão sobre sucessão, renovação de quadros e, principalmente, sobre os limites do corpo. Até para os presidentes. Sem tabus.