Uma viagem de parlamentares ligados ao bolsonarismo para os Estados Unidos, prevista para a semana que vem, motivou a elaboração de uma carta de alerta em defesa da democracia subscrita por deputados e senadores sob coordenação do Instituto Vladimir Herzog (IVH) e remetida a congressistas dos EUA.
A comitiva formada por representantes da direita, como Bia Kicis (PL-DF) e Marcel Van Hattem (Novo-RS), pretende denunciar à Organização dos Estados Americanos (OEA) supostas violações cometidas no Brasil envolvendo abuso de autoridade e desrespeito aos direitos humanos por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em reação a essa iniciativa, nomes ligados ao centro e à esquerda divulgaram um texto em que apontam uma tentativa de fragilizar as instituições e a democracia nacionais em uma articulação com representantes da extrema direita americana.
Um dos integrantes da comitiva, Van Hattem afirma que a intenção do grupo é apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à OEA, relatos sobre alegadas irregularidades que estariam ocorrendo nos últimos anos.
— As principais pautas a serem discutidas envolvem liberdade de expressão, direitos humanos e abusos de autoridade no Brasil — afirma o deputado federal gaúcho.
Um dos principais alvos dos bolsonaristas deverá ser a atuação recente do STF, responsável pela derrubada de perfis ligados à direita em redes sociais e pela condenação de participantes dos atos de 8 de janeiro de 2023.
Para os signatários da carta de protesto contra a incursão dos parlamentares aos EUA, a viagem tem como verdadeiro propósito estreitar os laços com a ala mais radical dos apoiadores do republicano Donald Trump e criar uma pressão global com o objetivo de "minar" os pilares da democracia brasileira.
O trecho inicial do documento direcionado a congressistas dos EUA diz: "Escrevemos para alertá-los sobre a iminente visita de parlamentares brasileiros da extrema-direita aos Estados Unidos, prevista para novembro deste ano. Essa visita tem o claro objetivo de promover uma narrativa falsa de que o Brasil vive sob uma 'ditadura judicial', utilizando redes de desinformação na tentativa de minar as instituições democráticas brasileiras".
O texto é assinado pelos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama (PSD-MA), e pelos deputados federais Henrique Vieira (PSOL-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Rafael Brito (MDB-AL) e Rogério Correia (PT-MG).
A coordenação da elaboração da carta foi feita pelo IVH, que, desde o ano passado, já atua em parceria com políticos de diferentes partidos envolvidos nas investigações parlamentares sobre atos antidemocráticos para se contrapor a articulações internacionais de bolsonaristas.
— Esse movimento tenta confundir a opinião pública e dos parlamentares americanos sobre o que existe no Brasil, reforçando ameaças que a democracia americana também sofre — avalia o diretor-executivo do instituto dedicado à defesa da democracia, da liberdade de expressão e dos Direitos Humanos, Rogério Sottili.
Van Hattem rebate essa interpretação:
— Não entendi a preocupação. Estamos indo justamente para defender direitos humanos. Eles são contra? Estou à disposição deles para demonstrar todas as violações aos direitos humanos promovidas pelo STF.
No começo do ano, uma outra comitiva liderada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já esteve nos EUA procurando convencer autoridades americanas de que o Brasil estaria vivendo uma "ditadura de esquerda" e, por isso, deveriam impor sanções ao país. Uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas realizadas nesta terça-feira (5) poderia ampliar a força dessas mobilizações.