Pela potência econômica, militar e política que representa, os Estados Unidos definem boa parte da agenda global.
A eleição de Kamala Harris representaria, de modo geral, a continuidade da atual política externa americana implementada pelo presidente Joe Biden. O triunfo de Donald Trump, por outro lado, acarretaria profundas alterações geopolíticas, com consequências diretas para governos pelo mundo, inclusive o do Brasil.
A coluna detalha 10 temas que demarcam diferenças entre os dois candidatos.
1 O que muda para o Brasil
Kamala
Seguirá a batida de alinhamento ideológico com o governo brasileiro, mantendo-se eixos como preservação do multilateralismo, importância da ordem democrática, entendimento da liberdade de expressão nas redes, porém com regulamentação, proteção aos direitos humanos e defesa do ambinte. Lula manifestou apoio a Kamala, o que é um erro estratégico. Como presidente, ele terá de lidar com ela ou com Trump, o mais importante são as relações bilaterais e os interesses do Brasil.
Trump
O ex-presidente admirava Jair Bolsonaro, que mantinha uma aliança ideológica com Trump. Um eventual novo governo manteria uma relação protocolar com a gestão Lula, sem demonstrações de afeto - mais fria e com desconfianças. No plano comercial, pouco muda: as relações bilaterais entre o Brasil e os EUA estão consolidadas e acima de gostos ou desgostos pessoais. Ainda assim, parcerias na área ambiental devem colapsar e, em algum momento, os EUA devem pressionar em questões relacionadas à China.
2 China
Kamala
A maneira de lidar com a China segue o modelo Biden, de pressão controlada. A retórica não utiliza expressões agressivas. E, na prática, há um reforço da relação com aliados na região, como Japão, Austrália e Coreia do Sul.
Trump
Seu mandato anterior dá sinais de que, em uma segunda gestão, ele reforçaria a guerra comercial (com aumento das tarifas sobre seus produtos), elevaria a narrativa de que a China é o inimigo número 1 no mundo, manteria a tensão no Mar do Sul da China.
3 Guerra no Oriente Médio
Kamala
A democrata, embora crítica do governo de Benjamin Netanyahu, mantém o apoio a Israel em sua guerra contra os grupos terroristas Hamas e Hezbollah. Mas é um apoio comedido, seu governo tentaria, por meio da dissuasão, evitar a escalada do conflito.
Trump
O retorno reforçaria ainda mais a aliança com Israel. O reconhecimento de Jerusalém como a capital do país, no primeiro mandato, e o apoio incondicional de Benjamin Netanyahu dariam força para que a nação avançasse contra o Irã e seu programa nuclear.
4 Guerra Rússia x Ucrânia
Kamala
Representa a continuidade da agenda Biden, de apoio financeiro e com armamentos à Ucrânia e total rechaço à invasão do país pelas tropas de Putin.
Trump
No poder, é provável que ele restrinja o apoio dos EUA à Ucrânia, o que beneficiaria diretamente Putin e permitiria à Rússia praticamente consolidar os territórios já ocupados na Ucrânia.
5 Ambiente
Kamala
É grande defensora da justiça climática e ambiental, tema que permeou sua carreira como procuradora. Deve aprofundar o envolvimento dos EUA no tema, participando ativamente dos acordos internacionais no âmbito das Nações Unidas e reforçando compromissos de redução de emissões de gases poluentes e de energias renováveis.
Trump
Quando estava no poder, o então presidente retirou os EUA do Acordo de Paris e promete empurrar o país de volta aos combustíveis fósseis, prometendo desfazer o legado climático e energia limpa de Biden, além de retirar, novamente, a nação de seus compromissos climáticos.
6 Aliados europeus
Kamala
Deve seguir com uma política "transatlântica", de proximidade com os aliados europeus em temas como segurança (em relação à Rússia, especialmente) e ambiente. Haverá também manutenção dos compromissos americanos com a Otan.
Trump
Assim como fez no primeiro mandato, o ex-presidente entende que a segurança europeia deve depender, cada vez mais, dos próprios europeus. Ou seja, deve se afastar de compromissos em temas relacionados ao continente, em especial a segurança em relação à Rússia.
7 Economia
Kamala
Promete reduzir o custo de vida, principalmente da classe média. Quer fortalecer as pequenas empresas e taxar risco para garantir distribuição de renda. Promete fornecer créditos fiscais para estimular setores "do próximo século", como biotecnologia e inteligência artificial.
Trump
Sua campanha está propondo um segundo aumento muito maior nas tarifas (20% sobre todas as importações e 60% sobre as da China), cortes generosos de impostos, choque na oferta de mão de obra na forma de deportações em massa e ataques à independência do Federal Reserve. É contrário a incentivos para transição energética.
8 América Latina
Kamala
A pressão sobre a Venezuela se dá em nível mais retórico do que prático. A relação com a região é menos importante, com ênfase em manter a migração controlada e vínculos bilaterais estáveis.
Trump
Ele deve reforçar a pressão sobre a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela - não se descarta intervençaõ militar. Na Argentina, é alinhado ideologicamente com Javier Milei - não se descarta um acordo de livre comércio com os EUA, o que implodiria o Mercosul.
9 Imigrantes
Kamala
Tem adotado discurso moderado. Ela lembra que os EUA é formado por imigrantes, mas deve enviar ao Congresso uma lei para reforçar a segurança na fronteira.
Trump
Promete adotar tolerância zero com a imigração ilegal. Diz que irá deportar clandestinos aos milhões, uma vez que ele atribui a criminalidade nos EUA a esse público.
10 Instituições
Kamala
É a candidata do status quo, da normalidade na política, com respeito às instituições e à tradição democrática americana.
Trump
Não pode mais se vender como outsider, já que foi governo. Mas seu histórico de desprezo pelas instituições colocam a democracia americana e o estado de direito em risco.