Duas explosões foram ouvidas na Praça dos Três Poderes por volta das 19h30min de quarta-feira (13). Primeiro, um carro explodiu no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados. O veículo estava carregado de artefatos explosivos, segundo a polícia.
Cerca de 20 segundos depois, houve uma nova explosão, desta vez próximo à sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
O proprietário do veículo, identificado como Francisco Wanderley Luiz, morreu durante o ataque. De acordo com as autoridades, ele é o autor do atentado.
O que aconteceu antes das explosões
A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, disse durante uma coletiva de imprensa que o homem tentou acessar o prédio do STF, logo após a explosão do carro, mas não conseguiu.
De acordo com o portal g1, um segurança do STF relatou à Polícia Civil que Wanderley estava com uma mochila, de onde tirou uma blusa, alguns artefatos e um extintor. Quando o segurança tentou se aproximar, o homem "abriu a camisa" e o segurança viu algo semelhante a um relógio digital, acreditando ser uma bomba.
Dois ou três artefatos foram lançados pelo homem e estouraram antes de ele se deitar no chão.
No boletim de ocorrência também consta que, no início da noite, Wanderley fez postagens nas redes sociais com referências a bombas e explosões e disse que a Polícia Federal iria ter que "desarmar o equipamento".
"Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda", escreveu em prints de telas de celular que postou no Facebook.
Segundo a Polícia Civil, ele alugou uma casa em Ceilândia, no Distrito Federal, dias atrás. O boletim de ocorrência afirma que, no local, que passava por perícia até a última atualização desta reportagem, policiais encontraram a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de Wanderley. Uma testemunha informou aos policiais que o homem esteve no local e usava uma "carretinha" no veículo.
Vídeo mostra momento da explosão
Imagens de uma câmera de segurança registram o momento em que Francisco Wanderley se aproxima da sede do Supremo, na Praça dos Três Poderes, com artefatos explosivos. Assista:
Quem era Francisco Wanderley
Natural de Rio do Sul, em Santa Catarina, Wanderley, conhecido como Tiu França, era filiado ao Partido Liberal (PL) e já havia se candidatado a vereador em 2020, mas acabou não se elegendo, conseguindo apenas 98 votos.
Ele não possuía antecedentes criminais e, em seu perfil no Facebook, se declarava como empreendedor, investidor e desenvolvedor.
Em entrevista ao portal Metrópoles, o filho de Wanderley disse que há meses não recebia notícias do pai.
— Ele tinha uns problemas pessoais com a minha mãe e estava muito abalado com a situação, e ele viajou. Foi só isso que ele falou. Ele só queria viajar. A intenção dele era ir para o Chile — disse.
O que foi usado no ataque
Dentro do carro de Wanderley, a Polícia Militar de Brasília encontrou diversos artefatos explosivos, amarrados com um tijolo.
De acordo com um dos policiais, não teve ignição total dos explosivos.
Conforme apurado pela TV Globo, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) desativou artefatos explosivos que foram encontrados ao redor da praça. Os militares encontraram:
- um relógio com contagem regressiva no corpo de Francisco Wanderley
- dois artefatos explosivos no cinto do homem
- um artefato explosivo próximo ao corpo
- um extintor de incêndio adaptado para explosão próximo ao corpo.
Quem investiga
Peritos criminais da Polícia Federal (PF) ficarão responsáveis pela investigação do caso. De acordo com a Agência Brasil , o órgão utilizará de uma estratégia semelhante à reconstrução de cenário na identificação dos crimes de 8 de janeiro do ano passado.
Entre os primeiros procedimentos que os peritos da PF devem fazer no local, estão a identificação de todos os vestígios, além de uma identificação das imagens da área com ferramentas tecnológicas 3D a fim de compreender, em detalhes, a dinâmica do ataque.
A Polícia Civil de Brasília também abriu um inquérito para investigar a ação.
Ato terrorista
A Polícia Federal (PF), conforme o diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, está tratando o caso como um ato terrorista.
O que disse a PF
Em coletiva de imprensa, a corporação destacou que as explosões não foram um ato isolado.
— Quero fazer um registro da gravidade dessa situação que nós enfrentamos ontem, que apontam que esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica (...) Entendemos que o episódio de ontem não é um fato isolado, mas conectado com várias outras ações — disse Rodrigues.
Na coletiva, o diretor-geral da PF afirmou que determinou a instauração de um inquérito policial e o encaminhamento do caso ao Supremo Tribunal Federal (STF) "em razão das hipóteses iniciais de atos que atentam contra o Estado Democrático de Direito" e de "atos terroristas".
O que disse Alexandre de Moraes
De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, o atentado não é um fato isolado, mas algo e que "se iniciou lá atrás, quando o então gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra instituições".
Ainda segundo o ministro, as pessoas acham que podem vir a Brasília e tentar explodir STF porque foram instigadas por pessoas com altos cargos a atacar.
Ele também afirmou que esse foi o "atentado mais grave" contra o Supremo desde o 8 de Janeiro de 2023.
No discurso, Moraes afirmou que a pacificação do país é necessária — mas rejeitou a tese, defendida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, de dar "anistia" aos envolvidos no 8 de Janeiro.
— Ontem é (foi) uma demonstração de que só é possível essa necessária pacificação do país com a responsabilização de todos os criminosos. Não existe a possibilidade de pacificação com anistia a criminosos — disse.
Repercussão internacional
A sequência de explosões na Praça dos Três Poderes, que resultou na morte do próprio autor do atentado, Francisco Wanderley Luiz, repercutiram na mídia internacional. Reportagens citaram a proximidade da cúpula do G20, no Rio de Janeiro, que receberá diversos líderes mundiais.
Buscas em residências
Artefatos explosivos foram encontrados nesta quinta-feira pela Polícia Militar de Brasília em uma casa alugada por Francisco Wanderley na Ceilândia, a 30 quilômetros da Praça dos Três Poderes, conforme apurado pela TV Globo.
De acordo com o porta-voz da PM, Raphael Van Der Broocke, em entrevista ao g1, os artefatos são do mesmo tipo dos usados em frente ao STF.
Ainda nesta quinta, a Polícia Federal realizou buscas no endereço em Rio do Sul, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, ligado a Wanderley. De acordo com o g1, foram apreendidos um notebook e um pen drive.
O que acontecia nos prédios dos três poderes?
Segundo o g1, no momento das explosões ocorriam sessões na Câmara e no Senado, que foram suspensas. A sessão do STF já havia terminado, e ministros e servidores foram retirados em segurança. O presidente Lula não estava mais no Palácio do Planalto, e não houve ordem para evacuar o prédio.
Uma varredura foi realizada pelo esquadrão antibombas, na área da Praça dos Três Poderes, para verificar a existência de mais explosivos nos arredores, inclusive em veículos e no corpo do homem que morreu.