O presidente Jair Bolsonaro rebateu nessa quinta-feira (7) o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, e negou uma possível reedição no Brasil de um episódio nos moldes ocorrido nos nos Estados Unidos apoiadores do ex-presidente republicano Donald Trump invadiram o Congresso norte-americano enquanto deputados e senadores faziam a contagem oficial dos votos recebidos pelo presidente eleito Joe Biden no colégio eleitoral. O atentado deixou cinco pessoas mortas. Na ocasião, parlamentares tiveram que ser retirados do prédio, ou se esconder em salas de auxiliares, para que não fossem agredidos pelos invasores.
Durante evento em Washington, Fachin alertou para a possibilidade de um incidente "ainda mais grave" e apontou a atuação da Justiça Eleitoral como um modo de evitar.
— Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui, do Capitólio — afirmou durante o evento organizado pelo instituto Wilson Center.
Em transmissão nas redes sociais, Bolsonaro rebateu.
— Vocês sabem o que está em jogo. Vocês sabem como devem se preparar, não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas nós sabemos o que temos que fazer antes das eleições — disse Bolsonaro em transmissão nas redes sociais.
Discurso de Fachin
Ao discursar, Fachin apresentou o receituário das ações que a Justiça Eleitoral deve adotar para garantir a lisura das eleições. O presidente do TSE frisou a importância de contar com o apoio do Congresso Nacional em caso de contestação do resultado da disputa em outubro.
Segundo o ministro, diante de um cenário de crise, os parlamentares deveriam deixar de lado as divergências ideológicas para defender o Judiciário e o sistema eletrônico de votação.
— Se houver a dissolução de um dos poderes, o perigo poderá ir para o outro lado da rua.
Fachin também disse ser importante que a população demonstre publicamente "seus anseios de viver numa sociedade democrática", caso a crise entre os poderes se agrave.
Críticas de Bolsonaro
O presidente ainda indicou uma possível relação entre o também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
— Se ele fala isso, é que ele tem certeza que o candidato dele, que ele tirou da cadeia, que é o Lula, vai ganhar. Lamento, prezado senhor Fachin, advogado do MST, agir dessa maneira. Logo o senhor, que tirou o Lula da cadeia e está à frente do processo eleitoral — afirmou.
Na live, o presidente também voltou a dirigir ataques ao sistema eleitoral, sem apresentar provas da falta de confiabilidade das urnas eletrônicas.
— Se as urnas são inexpugnáveis, por que quando eu estava na Rússia, o senhor Fachin declarou no Brasil que eu fui na Rússia tratar com hackers para alterar, invadir o sistema eleitoral. Se são inexpugnáveis, não adianta falar com hacker de Saturno, de qualquer lugar.
Bolsonaro se defendeu das críticas de que ataca o Estado Democrático de Direito.
— Há alguma ação minha contra? Tentei controlar as mídias sociais ou mídia comum? Prometi fazer controle das mídias? Pelo contrário, tem projeto tramitando na Câmara, foi votado regime de urgência, fiz o que pude, e o regime de urgência não foi aprovado por nove votos. Se eu tivesse ficado quieto, com toda certeza teria sido aprovada a urgência, e o projeto, votado, que é o projeto das fake news.
Embaixadores
Bolsonaro anunciou que pretende reunir todos os embaixadores de outros países no Brasil para apresentar suas desconfianças sobre o sistema eleitoral brasileiro. Até o momento, Bolsonaro nunca apresentou provas que embasem os ataques às urnas.
— Vamos marcar, para semana que vem, para eu conversar com todos os embaixadores aqui no Brasil. Será um convite para todos eles. O assunto será um powerpoint para nós mostrarmos tudo o que aconteceu nas eleições de 2014, 2018 — afirmou o presidente em transmissão ao vivo nas redes sociais.
— Vou falar documentado das eleições de 2020, em especial os números apurados em São Paulo — seguiu, levantando suspeitas sobre a eleição do prefeito paulistano Bruno Covas (PSDB), falecido no cargo no ano passado.
— O mundo tem que saber como é o sistema eleitoral brasileiro.
De acordo com Bolsonaro, também haverá um detalhamento das participações dos ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), no processo eleitoral. Os três são frequentemente atacados pelo presidente.
— Fachin, Barroso e Moraes são um só corpo, uma só ideia — disse.
Em seguida, tentou minimizar ataques à Corte.
— Nada contra TSE, tem pessoas maravilhosas lá dentro — acrescentou o chefe do Executivo na live.