É eleitoreiro e é no mínimo irresponsável sob o ponto de vista das finanças públicas, mas é preciso admitir: Jair Bolsonaro deu, com a PEC dos Benefícios, um tiro certeiro em busca da reeleição. A ampliação do Auxílio Brasil era bandeira do PT até bem pouco tempo, que defendia a necessidade de turbinar o valor pago aos mais vulneráveis após o agravamento da crise pela pandemia e pelos reflexos da guerra na Ucrânia.
Não à toa, os senadores de oposição votaram em peso com o governo . Lula criticou, mas emissores de sua campanha já admitiram ao Painel, da Folha de São Paulo, que pretendem manter os benefícios previstos na PEC, ainda que reformulados.
"O futuro governo vai ter que manter. Ninguém vai poder perder dinheiro. Mas vai ter que redesenhar o programa para que seja algo de verdade, e não uma solução acochambrada como a que está aí", disse Guilherme Mello, um dos principais economistas da equipe da chapa Lula-Alckmin, ao colunista Fábio Zanini.
Se estão realmente preocupados com os pobres? É possível. Mas é certo que o olho da campanha de Bolsonaro, atrás nas pesquisas, está voltado para outubro de 2022. Ao ampliar benefícios sociais, o presidente da República e seus auxiliares chegam ao coração de camadas onde a rejeição do presidente é significativa.
Os números da última pesquisa Genial/Quaest trazem, no detalhe, sinais de que Bolsonaro vem recuperando terreno justamente nesses setores estratégicos. No levantamento, a avaliação do governo subiu de 18% para 24% entre os que recebem o benefício social. E o auxílio de R$ 600 ainda ainda nem começou a ser pago.
Outro tiro certeiro: a corrida pela diminuição da rejeição entre o eleitorado feminino. O presidente trouxe a primeira-dama para o centro de suas participações (aqui no Rio Grande do Sul, Michelle inclusive puxou o coro "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos). E no episódio tenebroso das denúncias de assédio do presidente da Caixa substituiu o abusador por uma mulher, Daniella Marques, que já tomou posse bradando, acertadamente, que "violência contra a mulher é inaceitável".
Nesse segmento — eleitorado feminino —, a pesquisa Genial/Quaest captou uma subida de 22% para 27% nas intenções de voto.
Restando três meses para a eleição, é difícil prever se as ações surtirão o efeito desejado pela campanha em pouco tempo. E até lá, quem acompanha política sabe, há muito chão pela frente. Contudo, ignorar os dados captados pelos levantamentos é, no mínimo, perigoso para o caso de quem pretende enfrentar o presidente que tem a caneta e o Orçamento (secreto) em mãos.